Será que vamos ao Euro com três centrais? Aveiro apontou para isso; Maior agressividade defensiva e CR7 a lembrar os melhores dias
Roberto Martínez aproveitou os três testes antes do Campeonato da Europa para experimentar sistemas (que já vinha trabalhando) e testar o momento de forma dos jogadores. Fez bem, porque do apagão final frente à Finlândia e da permissividade defensiva contra a Croácia, resultaram conclusões importantes, individuais e coletivas.
Capitão voltou e com ele chegaram as boas exibições e o crescimento de toda a equipa; Bruno Fernandes nuclear e João Neves a marcar posição; Mais confiança e certezas quanto ao futuro
Em Aveiro, frente a uma Irlanda que sem ser da primeira linha do futebol europeu dá sempre que fazer, Portugal apresentou-se com três centrais, sem trinco e com Félix a servir de proxy entre o meio-campo e o ataque, Cristiano Ronaldo mais sobre a meia-direita e Rafael Leão a mostrar que, com espaço, é um temível abre-latas.
Foi assim, com segurança na posse de bola, mas sem tirar grande proveito do ataque posicional, que a Seleção Nacional chegou ao intervalo com uma vantagem demasiado magra para aquilo que o jogo tinha sido. E nos primeiros 45 minutos viram-se algumas coisas interessantes, nomeadamente o jogo interior de Cancelo, que balanceava a equipa para trocas de bola na direita, de onde surgiam diagonais perigosas para Rafael Leão; ou a influência de João Félix na manobra da equipa, coroada com um golo de belíssimo efeito. Relativamente à partida com a Croácia, o sistema de 3x4x1x2 usado com os irlandeses, deu à turma das quinas um maior equilíbrio entre setores, encurtou espaços, e permitiu um aproveitamento interessante de CR7, sempre a peça mais valiosa e mais difícil de encaixar na Seleção, de há muitos anos a esta parte.
SEGUNDA PARTE AINDA MELHOR
Ao intervalo, sem mexer no sistema, Martiínez trocou os laterais, deu mais agressividade ao meio-campo (Rúben Neves ao lado de João Neves, com Bruno Fernandes a subir no terreno para fazer a ligação de jogo que estava entregue a João Félix) e colocou um jogador mais regular na esquerda, Diogo Jota. E, com estes intérpretes, o que estava bem passou a estar ainda melhor.
Por mais que se queira, Portugal não se dá bem como ataque posicional. E o que se viu na segunda parte foi uma equipa muito mais agressiva e eficaz na recuperação alta da bola, o que provocou, até ao desmoronamento, desequilíbrios na muralha irlandesa. Mas também se viu uma maior agilidade nas transições rápidas, que valeram um sem número de ocasiões de golo a Portugal.
E por falar em golos, é impossível fazer a crónica destes 90 minutos sem deixar plasmado preto no branco a excelência do primeiro golo de Cristiano Ronaldo, aos 50 minutos, um dos melhores dos 130 que já marcou de quinas ao peito; e mesmo no segundo da sua conta pessoal, há que ver e rever a forma como ganhou espaço e se soltou do defesa que o marcava, digna de fazer parte de qualquer compêndio de futebol.
Mas será que estava tudo mal contra a Croácia e, de repente, passámos a viver no País das Maravilhas? Quem pensar assim, pensa mal. Houve progressos evidentes, o coletivo funcionou melhor e sentiu-se confortável no fato tático que vestiu (embora tenha havido erros, por displicência, que podiam ter comprometido a folha limpa que a Seleção não conseguia há 360 minutos, período em que Portugal sofreu oito golos), mas ainda estão por definir muitas coisas importantes, nomeadamente quem serão os onze a entrar em campo no próximo dia 18 com a Chéquia.
Guarda-redes do Liverpool evitou que a derrota da República da Irlanda tivesse números mais expressivos
Rúben Dias e Bernardo Silva batem forte, fortemente, à porta da titularidade, Rúben Neves dá mais soluções que João Palhinha (que com três centrais pode ser redundante), Jota parece ser melhor titular e Rafael Leão melhor trunfo para ter no banco, e os quatro laterais estão numa forma superlativa.
Como o Cristiano Ronaldo que esteve em Aveiro não se discute, apenas se agradece, Roberto Martínez, a uma semana do pontapé-de-saída no Euro, só pode ter concluído que o 3x4x1x2 deve ser o sistema eleito e que Portugal, por muita capacidade que tenha em circular a bola, só faz realmente mal aos adversários quando recupera alto ou sai em transições rápidas.
Aveiro foi bom e tirou o recente mau gosto na boca deixado pelo Jamor. Agora é não dar passos em falso...