Temos de votar: deixem-nos votar

OPINIÃO14.06.201804:13

As resoluções com invocação de justa causa, que foram apresentadas por mais quatro jogadores do Sporting, fizeram soar, ainda de forma mais estridente, o alarme que anda a encher-nos os ouvidos, de forma larvar, há vários meses. É o Sporting que está em causa na sua sobrevivência. A família leonina está, mais do que perplexa, em pânico. Não vê meios de atalhar a este pesadelo continuado. E temos razões de sobra para isso. A sensivelmente uma semana do reinício dos trabalhos estamos como parecemos. Não conhecemos treinador, já perdemos seis atletas, dos quais cinco, pelo menos, são fundamentais no onze previsível e anuncia-se a perda de mais dois ou três. O resto é conhecido. Divisão, desnorte, linguagem bélica, desentendimento permanente, tudo num pano de fundo de órgãos sociais numa inédita decomposição. A direção diz-se em xeque-mate, mas nem assim acaba com o jogo. E porque o jogo não acaba, a situação afigura-se, cada vez mais, se de xadrez falamos, à do clássico rei afogado.

Exibimos, diariamente, à cidade e ao mundo, a miserável situação a que chegámos, num corpo desfeado à vista desarmada como se padecesse de um colossal surto de sarampo. Em vez de vermos perspetivas de uma solução rápida, que acabe, urgentemente, com esta crise terrível e sem precedentes, como todos reclamamos, desembarca-nos ao colo um enorme imbróglio jurídico, que ameaça transformar-se num mega-novelo, riçado e emaranhado, a ser resolvido ao ritmo dos tribunais. Porém, infelizmente, parece não ser possível encontrar outra solução.

Os órgãos sociais, o que resta deles afinal, remetem-nos para a justiça, porque não têm a grandeza de abrir as portas à legitimidade do voto. O que é de todo lamentável. Estamos cientes de que é a sobrevivência do Sporting, como o conhecemos, que está em jogo. Sabemos, também, que a cada dia que passa todos os problemas se agravarão, seja no Clube, seja na SAD. Os prejuízos derivados das rescisões são enormes e têm efeito imediato. Trata-se de um impacto ainda difícil de medir e de prever em todo o seu perímetro, seja na esfera desportiva,  seja na esfera económica. O resgate, se o houver, ocorrerá sempre daqui a vários anos. Já os danos não esperam. O ambiente em que o Clube mergulhou não pode manter-se. Convém sublinhar esta ideia força: o que está em causa é a salvação do Clube. Não estamos a falar daquelas inúteis polémicas entre croquetes, caviar, pastéis de nata ou frango assado. Não cabe agora vir agitar os fantasmas do roquetismo  ou de outro ismo qualquer, para dar gás a debates estéreis e divisionistas, totalmente insuscetíveis de resolver problemas e ainda capazes de salgar as feridas expostas. Tudo isso é conversa fiada, perda de tempo e gasto de energia. Como não adianta nem atrasa, constituindo, aliás, um espetáculo deprimente, ouvirmos, agora, atacar, de forma veemente, alguns sportinguistas, também tidos como notáveis (seja lá isso que for), que foram, até há bem pouco tempo, grandes esteios da direção e agora, apenas porque reclamam a demissão do CD, são publicamente verberados e ameaçados com processos. De igual modo não vale chorar sobre o leite derramado, lamentando, com razão diga-se, que parte da MAG se tivesse demitido. Se se tivesse mantido, estaria agora a exercer as suas competências numa plenitude que não seria questionável. A verdade é que não há tempo para se perder tempo.

O Sporting atingiu o impensável nestes últimos meses. Tínhamos um conselho diretivo no limiar do sobrevivência que agora está suspenso, após uma decisão que, naturalmente, será, também ela, sindicada pelos tribunais; temos um Presidente da Mesa no exílio, impedido de exercer normalmente os seus direitos e prerrogativas. O Conselho Fiscal e Disciplinar desapareceu, dando lugar a uma Comissão que o substitui - e que tomou a decisão de suspensão - e a outra comissão, de génese ilegal, que visa reelegê-lo. Temos duas assembleias gerais marcadas em clara violação do estatuto. Eis o estado a que se chegou. Cumpre recordar que todos estes órgãos foram eleitos na mesma sintonia, isto é, na mesma lista. Mas agora, tal como os tais notáveis que passaram a traidores, são também vilipendiados e abjurados.

A tudo isto se soma a infindável listagem de incidentes que são do conhecimento público. Cada dia nos traz mais dissabores, mais vergonha e mais receio pelo futuro. Estamos paralisados, assistindo à sucessão de factos e comunicados, no que parece ser um beco sem uma saída à vista. Por isso a palavra tem de ser dada aos sócios e tem de o ser urgentemente. Hoje como nunca isso é fundamental. Só as eleições poderão impedir este caminho de autofagia. Ninguém compreende que um intrincado labirinto jurídico em formação, impeça os sócios, que são a riqueza maior do Clube e constituem a única garantia da sua perenidade, no momento mais trágico da nossa história, de fazerem escolhas.

 O Sporting precisa de eleições como de pão para a boca. Umas eleições muito participadas, mas que decorram com elevação e serenidade. Tal qual como os Estatutos determinam que nos comportemos uns com os outros. E qual o caminho que nos pode conduzir às eleições? Em minha opinião só há um: a realização de uma AG na qual se vote a destituição e, se a votação for nesse sentido, a realização sequente de sufrágio para todos os órgãos. Com os fundamentos jurídicos que expus no artigo anterior, entendo que a única entidade que tem legitimidade para promover este caminho é o Presidente da MAG. Mais a mais quando afirma que, para além da iniciativa própria, que lhe é reconhecida, está estribado num acervo de mais de três mil votos, que, segundo diz, não consegue sequer reconhecer. Esse respaldo não lhe acrescenta legitimidade, mas reforça, de forma muito óbvia, o imperativo da marcação que teve lugar. O dia 23 está a chegar. Não sei o que ocorrerá até lá. Mas entendo que é este o caminho. Já não colhe a marcação da AG tal como é sugerida pelo CD, operada através de uma comissão ilegalmente designada (salvo sempre o respeito por opinião diversa), não prevista nos estatutos e sem qualquer competência para o efeito. Cumpre que não nos atolemos mais em atos juridicamente anómalos, que só contribuem para entorpecer a solução.