Amorim na clínica de Alvalade

O Sporting precisa do seu treinador tanto quanto precisa do departamento médico; a altura é relevante, pela pausa das seleções e pelos três jogos fora que depois vêm

O Sporting está numa fase em que não luta contra os outros. Luta contra si próprio. a mensagem de Rúben Amorim, ontem, na antevisão ao jogo com o Casa Pia, foi muito nesse sentido. Com o FC Porto a fazer pela vida e o Benfica em franca recuperação – de resultados e exibições – os leões sabem que não podem dar uma nesga de oportunidade aos rivais (mais agora aos encarnados, porque os momentos na temporada mudam).

As boas exibições, melhor, a demonstração de poderio interna deslizou nos Países Baixos. Em Eindhoven, a equipa leonina salvou um ponto, mas sentiu dificuldades que não sentira até agora, derrota da Supertaça com o FC Porto incluída.

Rúben Amorim fez um bom quadro do que é jogar na liga nacional e, depois, defrontar clubes de qualidade semelhante na Europa, como foram os casos de Lille e PSV. A construção é mais ansiosa, pela pressão contrária, a reação tem de ser maior, os passes mais certeiros, o tempo de decisão reduz e até a escolha das botas parece que tem de ser bem escrutinada.

 Não parece pelos resultados, pela classificação na Liga, pode achar-se até que pelo nome do adversário não ser dos mais vitoriosos no historial da Liga, mas este é um jogo em que é necessário ao Sporting o melhor do seu treinador.

 Os cinco lesionados amputam a equipa de talento e soluções. Amorim não pode usar quem por norma usa e vai ter de ser criativo. Deixou em aberto, inclusive, que Maxi Araújo e Conrad Harder joguem em simultâneo, quase ao mesmo tempo que dizia que concorriam pelo mesmo lugar.

 As vitórias são todas importantes, mas há alguns momentos na temporada mais relevantes que outros e este pode ser um deles. Porque um deslize alimentará ainda mais o que está a suceder do outro lado da estrada (leia-se na Luz) e porque a seguir vem lá uma pausa para as seleções que permitirá recuperar alguns dos clientes da “clínica de Alvalade”, de modo a atacar os três jogos fora que tem logo a seguir. Portimonense (Taça de Portugal), Sturm Graz (Champions) e Famalicão (Liga).

No fundo, o Sporting precisa do seu treinador (e ele tem respondido), tanto quanto precisa do departamento médico.

 Não deixo de pensar na ironia da última frase. Não pela parte clínica, mas porque a notoriedade de Amorim como técnico começou precisamente quando se soube que o Casa Pia ia perder seis pontos, em 2018/19, na Série D do Campeonato Portugal, castigo imposto porque o ‘estagiário Amorim’ deu indicações no banco de suplentes, altura em que Rúben lutava contra tudo e contra todos.