«Falei de Roque Santa Cruz ao Sporting, mas não lhe deu a atenção devida»
Treinador português Guilherme Farinha, que descobriu o ponta de lança paraguaio, revela que este foi 'oferecido' aos leões em 1997, por 800 mil euros, e que um mês depois rumou ao Bayern por 2 milhões
Guilherme Farinha, treinador português de 68 anos, tem histórias para contar em cada país por onde passou e do Paraguai guarda uma que poderia ter mudado a equipa do Sporting em 1997/98.
«Depois de salvar o Praiense da descida, fui salvar o Sporting Clube da Horta, voltei ao continente e Luís Norton de Matos, Carlos Janela e o então presidente do Sporting José Roquette lembraram-se de mim para treinar o Cerro Corá. O presidente do Cerro Corá disse-me que a equipa já tinha descido, que queria que em dois anos a devolvesse à 1.ª divisão. Cheguei ao Paraguai, estava no hotel e vi que a equipa ainda não tinha descido. Mas bastava perder mais um jogo e empatar. No primeiro jogo perdi 0-4, podia ter sido 0-8, foi uma vergonha, os jornais escreveram ‘Nem o português os vai salvar’. Depois ganhei 14 jogos seguidos, fui técnico revelação do ano», contextualizou a A BOLA, antes de falar na jovem promessa que ali descobriu e que os leões deixaram escapar.
«Promovi um jovem jogador de 16 anos, o Roque Santa Cruz. Ajudou-me, e de que maneira, e eu, como sportinguista e defendendo os interesses do Sporting, informo o Sporting de que havia um rapaz, para virem buscar um jovem por 800 mil euros. O Sporting não deu a atenção devida, já não era um problema meu. Sai do Cerro Corá, que era um clube de bairro, para se valorizar no Olimpia e passado um mês é vendido ao Bayern por dois milhões», recordou acerca do avançado.
E recorda o momento em que o clube bávaro deixou claras as intenções: «Um dia, no final do treino, aparece Franz Beckenbauer [então presidente do Bayern] e o diretor desportivo do Bayern. Já estavam interessados, não brincam em serviço, foram ao Paraguai…»
Já com o ponta de lança na Alemanha, recebeu convite. «Uma vez ele ia jogar a Alvalade e disse-me ‘Vens ver o nosso jogo?’ E eu respondi ‘Vou ver o Sporting…’ E ele: ‘Eu convido, vou marcar e dedicar-lhe o golo’. Estamos em 2024, nunca mais falei com ele, mas as boas recordações ficam para sempre», sublinhou o treinador que também apontou César Ramírez ao Sporting e que hoje é analista e responsável pela metodologia de treino das academias do Vancouver.
A história com a família Santa Cruz não se esgota em Roque. «Passados uns anos voltei ao Cerro Corá, o pai do Roque Santa Cruz, Apolinário Santa Cruz, era diretor desportivo e os outros filhos também lá estavam. Na pré-época de 2003, ele e a mulher convidaram a equipa para um jantar em casa deles. Mostraram-nos a casa, havia fotos do Roque por todo o lado. Disse-lhe ‘Mas você tem mais três filhos. As fotos deles?’ O Kiko, que hoje é advogado, sentia isso, andava triste, a falhar golos», contou.
«Eu estava num hotel, pedi aos pais dele para o deixarem passar uma semana no quarto ao lado do meu. Mandei fazer uma foto gigante dele. Quando a viu disse-me: ‘Professor, uma foto minha? Olha’. Teve um sorriso bonito, o ego subiu-lhe. E eu disse aos pais: ‘Esta foto vai ficar na vossa sala’. Respeitaram e o rapaz começou a fazer golos, a ser feliz, era outro jogador», acrescentou.