OPINIÃO Rúben Amorim e os outros
Várias características distinguem o treinador do Sporting. A principal é o respeito por todos
É verdade que ao minuto 80 o Sporting já vencia por 3-0, e será sempre mais fácil para qualquer comum mortal ser justo quando está por cima.
Nesse minuto 80 o Sporting chegou a um hipotético 4-0, mas houve dúvidas sobre a posição de um dos avançados durante a jogada. Com o advento das tecnologias, os bancos de suplentes passaram a ter uma parte em que parecem mais um avião em plena descolagem, cheia de tripés e botões e vídeos e botões para andar para a frente e para trás. A velocidade é tudo. Enquanto o VAR vê e revê na Cidade do Futebol, os elementos de um banco de suplentes veem também. Não deixa de ser democrático.
Rúben Amorim viu o frame e sentenciou (viu-se na filmagem bigbrotheriana que se faz do banco): «Está fora de jogo.»
Voltemos ao início: é fácil quando se está a ganhar por três. Concordo. Mas agora vou ao meu ponto: estou a ver Rúben Amorim a dizer exatamente o mesmo se o jogo estivesse 0-0. E, honestamente, não estou a imaginar nenhum outro treinador da Liga a fazê-lo.
Rúben Amorim prepara-se, ao que tudo indica, para festejar o segundo título nacional em quatro épocas e meia ao leme do Sporting. Mas já foi segundo e já foi quarto. E não há grande memória de chegar às conferências de imprensa ou às flash interviews preparado para culpar o inimigo do costume — a arbitragem.
É Rúben Amorim um santinho? Não: basta verificar quantas vezes foi expulso do banco por ser humano e reagir ao que parece ser uma verdade absoluta quando toda a nossa energia está virada para um objetivo e algo se interpõe. Teve razão numas vezes, não teve noutras. Soube sempre penitenciar-se por esses comportamentos.
Os treinadores e dirigentes que semana após semana enchem colunas de jornal com protestos têm algumas vezes razão. Na maior parte, porém, até nem têm. Mas é um discurso fácil, mobilizador e sobretudo desresponsabilizador.
Rúben Amorim, em primeiro ou em quarto, tem sabido marcar a diferença desde que chegou a treinador da Liga. No respeito pelos árbitros, pelos adversários, pelo jogo, pelo público e sobretudo pelos seus próprios jogadores (e alguns deles são bem difíceis de domar nisto que diz respeito à arbitragem).
Há inúmeras características que fazem de Rúben Amorim o maior fenómeno entre os treinadores portugueses desde a revolução quase filosófica de José Mourinho no início deste século. A maioria destas características tem a ver com liderança, sim, mas obviamente também com a capacidade técnico-tática. Sabe pôr equipas a ganhar e isso será sempre, no fim do dia, o mais importante.
Mas há algo mais no treinador do Sporting, e vai muito além do sorriso empático. O tal respeito de que falávamos há pouco. Ganhando, empatando ou perdendo. Não é só por ter jogado no Benfica que os adeptos do Benfica gostam dele. Até porque nunca jogou no FC Porto e aposto que a maioria dos aficionados portistas também gosta.