Leão não cede à  pressão e ganha jogo à campeão (crónica)
Gyokeres conduz a bola em mais uma noite para lembrar (Foto: Miguel Nunes)

Sporting-V.Guimarães, 3-0 Leão não cede à pressão e ganha jogo à campeão (crónica)

NACIONAL21.04.202423:44

Belíssima exibição do Sporting; nunca se mostrou ansioso e teve paciência para dobrar a organização contrária; título mais perto

Os últimos jogos dos campeonatos, quando a margem de erro é pouca e os nervos são muitos, parecem as montanhas do Tour, que quanto mais os ciclistas as sobem, mais elas se empinam. Sobre quem lidera há sempre uma pressão especial, e conseguir, ou não, ultrapassá-la faz toda a diferença. Ora foi esse teste que o Sporting ontem superou, com nota altíssima, perante um Vitória de Guimarães muitíssimo bem organizado, que começou por roubar os espaços aos leões.

Perante o 5x3x2 de Álvaro Pacheco, realizado com não mais de 25 metros entre defesas e atacantes, o Sporting usou a velha máxima, o futebol é um jogo de paciência, nunca entrou em pânico pela falta de oportunidade de passar para a frente no marcador, e rodou a bola, da direita para a esquerda e da esquerda para a direita, com a segurança e tranquilidade que é apanágio das grandes equipas, sem nunca perder o sentido do golo, sobretudo através de passes verticais, deixando ao endiabrado Francisco Trincão a função de abre-latas.

Foi assim que esteve quase a chegar à vantagem por Geny Catamo, aos 20 minutos, com Borevkovic a evitar o golo em cima da linha, já com Bruno Varela batido, e também foi assim, aproveitando as nesgas que encontrava na muralha vitoriana, que a tripla Trincão, Bragança, Pedro Gonçalves construiu a vantagem tangencial do Sporting.

Foi fazendo da segurança a palavra de ordem — segurança no passe curto, segurança nas posições no terreno, segurança nas compensações — que o Sporting dominou a turma vimaranense que, de tão preocupada em não se desarrumar defensivamente, acabou por ser inofensiva no ataque, que estranhamente prescindiu, até aos 59 minutos, de Jota Silva.

Mas a noite era de um estádio de Alvalade em festa, e ainda antes de Cláudio Pereira mandar toda a gente para o descanso, Gyokeres regressou aos golos, após assistência de Pedro Gonçalves.

A identidade de uma equipa

Acabou a primeira parte com um golo do Sporting, que lhe servia de airbag para qualquer acidente de percurso, e logo o segundo tempo lhe seguiu as pisadas, novamente por Gyokeres, desta vez com mais que contar: depois de um passe magnífico de Pedro Gonçalves para Trincão, este recebeu a bola magistralmente, embrulhou-a em papel de presente, aplicou-lhe um belo laçarote verde, e ofereceu o 3-0 ao sueco, que não se fez rogado, acabando com quaisquer dúvidas (meramente académicas) que pudessem subsistir quanto ao destino dos três pontos.

Álvaro Pacheco ainda tentou uma resposta, com Jota Silva e Nuno Santos, refrescando novamente a equipa com Villanueva, Baio e Oliveira, mas já foi tarde. É que Amorim respondeu-lhe com a identidade do seu Sporting: de uma só vez (78 minutos), saíram Trincão, Pedro Gonçalves e Daniel Bragança, e com as entradas de Edwards, Morita e Paulinho, os leões continuaram a jogar da mesma forma, com a mesma ideia de jogo, com a mesma mecanização. Quantas equipas em Portugal são capazes de fazer isto?_Só uma, o Sporting. Porque tem o plantel adequado à ideia de jogo do seu treinador, a quem deu tempo para trabalhar, para acertar e errar, até apresentar a máquina bem oleada que hoje se vê. Até ao fim, com tudo decidido, o Vitória ainda ameaçou por Jota Silva (79’), que rematou torto, e os leões dispuseram de uma quantas chances para ampliar a vantagem. Mas o essencial estava feito e Alvalade, rendida à personalidade da sua equipa, ouviu o apito final em festa, ensaiando a hola mexicana.