Belíssima exibição do Sporting; nunca se mostrou ansioso e teve paciência para dobrar a organização contrária; título mais perto
Os últimos jogos dos campeonatos, quando a margem de erro é pouca e os nervos são muitos, parecem as montanhas do Tour, que quanto mais os ciclistas as sobem, mais elas se empinam. Sobre quem lidera há sempre uma pressão especial, e conseguir, ou não, ultrapassá-la faz toda a diferença. Ora foi esse teste que o Sporting ontem superou, com nota altíssima, perante um Vitória de Guimarães muitíssimo bem organizado, que começou por roubar os espaços aos leões.
Perante o 5x3x2 de Álvaro Pacheco, realizado com não mais de 25 metros entre defesas e atacantes, o Sporting usou a velha máxima, o futebol é um jogo de paciência, nunca entrou em pânico pela falta de oportunidade de passar para a frente no marcador, e rodou a bola, da direita para a esquerda e da esquerda para a direita, com a segurança e tranquilidade que é apanágio das grandes equipas, sem nunca perder o sentido do golo, sobretudo através de passes verticais, deixando ao endiabrado Francisco Trincão a função de abre-latas.
Foi assim que esteve quase a chegar à vantagem por Geny Catamo, aos 20 minutos, com Borevkovic a evitar o golo em cima da linha, já com Bruno Varela batido, e também foi assim, aproveitando as nesgas que encontrava na muralha vitoriana, que a tripla Trincão, Bragança, Pedro Gonçalves construiu a vantagem tangencial do Sporting.
Foi fazendo da segurança a palavra de ordem — segurança no passe curto, segurança nas posições no terreno, segurança nas compensações — que o Sporting dominou a turma vimaranense que, de tão preocupada em não se desarrumar defensivamente, acabou por ser inofensiva no ataque, que estranhamente prescindiu, até aos 59 minutos, de Jota Silva.
Pedro Gonçalves esteve no lote dos elos mais fortes: marcou, assistiu e construiu; Trincão de classe refinada em todos os momentos do jogo; Geny(o) Catamo andou à solta na direita
Mas a noite era de um estádio de Alvalade em festa, e ainda antes de Cláudio Pereira mandar toda a gente para o descanso, Gyokeres regressou aos golos, após assistência de Pedro Gonçalves.
A identidade de uma equipa
Acabou a primeira parte com um golo do Sporting, que lhe servia de airbag para qualquer acidente de percurso, e logo o segundo tempo lhe seguiu as pisadas, novamente por Gyokeres, desta vez com mais que contar: depois de um passe magnífico de Pedro Gonçalves para Trincão, este recebeu a bola magistralmente, embrulhou-a em papel de presente, aplicou-lhe um belo laçarote verde, e ofereceu o 3-0 ao sueco, que não se fez rogado, acabando com quaisquer dúvidas (meramente académicas) que pudessem subsistir quanto ao destino dos três pontos.
Álvaro Pacheco ainda tentou uma resposta, com Jota Silva e Nuno Santos, refrescando novamente a equipa com Villanueva, Baio e Oliveira, mas já foi tarde. É que Amorim respondeu-lhe com a identidade do seu Sporting: de uma só vez (78 minutos), saíram Trincão, Pedro Gonçalves e Daniel Bragança, e com as entradas de Edwards, Morita e Paulinho, os leões continuaram a jogar da mesma forma, com a mesma ideia de jogo, com a mesma mecanização. Quantas equipas em Portugal são capazes de fazer isto?_Só uma, o Sporting. Porque tem o plantel adequado à ideia de jogo do seu treinador, a quem deu tempo para trabalhar, para acertar e errar, até apresentar a máquina bem oleada que hoje se vê. Até ao fim, com tudo decidido, o Vitória ainda ameaçou por Jota Silva (79’), que rematou torto, e os leões dispuseram de uma quantas chances para ampliar a vantagem. Mas o essencial estava feito e Alvalade, rendida à personalidade da sua equipa, ouviu o apito final em festa, ensaiando a hola mexicana.