Há poucos jogadores mediáticos em que o défice entre potencial e rendimento seja tão grande. Castigo de Paulo Fonseca, que o colocou no banco, tem de servir de alerta vermelho para o internacional português
O que podes dizer quando até um compatriota teu te castiga com o banco? Não será o cúmulo dos cúmulos, o limite dos limites, a encruzilhada a que chegas e em que te apercebes finalmente que já não pode ser o mundo inteiro a estar errado e tu certo?
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Rafael Leão é um dos grandes jogadores, e talvez até seja o caso mediático mais gritante, em que o défice continua enorme quando se compara potencial e rendimento. Aos 25 anos, e depois de ter sido fundamental na conquista do scudetto no Milan de transições de Stefano Pioli, esperava-se que o internacional português, a aposta mais frequente de Roberto Martínez no ataque da Seleção à exceção de Ronaldo, tivesse alcançado a consistência necessária para estar noutro patamar. Não o conseguiu. Não está.
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Haverá quem acompanhe minimamente o futebol que não coloque Leão entre os avançados mais perigosos da atualidade? Dificilmente. No entanto, já não pode ser quem o aconselha, um mau momento, a adaptação a uma liga ou a uma grande equipa, um treinador específico ou até um modelo de jogo, embora obviamente esse possa ter impacto na potenciação ou não das suas melhores características, a estar na raiz do problema. Só pode ser dele. E arrisca-se a não alcançar o seu potencial, que é, reconheça-se, ainda enorme.
A técnica que lhe permite iludir os adversários, a aceleração que torna a ultrapassagem impossível de deter e a dimensão física que lhe garante o mesmo nível de combustão durante uma hora têm depois de ter continuidade e foco na decisão. No número de golos e assistências, e na influência nos ataques decisivos.
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O extremo português tem recebido na sempre pragmática Itália vários avisos, quase sempre de fora do balneário, de antigas glórias, mas também dos técnicos com quem trabalha. Todos antes de Paulo Fonseca resistiram a retirá-lo do onze durante muito tempo. O português achou que era o momento de começar a fazê-lo, a fim de ainda resgatar o jogador da apatia que o envolve e fazer deste um exemplo para os demais.
Ninguém quer que Leão perca a fantasia, bem pelo contrário. A alegria faz parte do seu saber fazer, tal como a liberdade de avançar para o 1x1. Todos pretendem que o português continue a sorrir, porém veem-no incompleto.
Rafael, se me estiveres a ler, o momento é este. Quem pode ser o melhor nunca poderá contentar-se com tão pouco. Mas é preciso querer. Admito que o queiras, mas pode ser com mais força, por favor?