Rafa e Taremi até ao fim
Dois craques de Benfica e FC Porto saem a custo zero no final da época e vão deixar saudades
As despedidas de Rafa do Estádio da Luz e de Taremi do Dragão não foram surpresa para ninguém. Há muito que os dois, em final de contrato, começaram a fazer as malas do campeonato português, desejando partir rumo a novos destinos. Aos 30 e 31 anos, respetivamente, ambos sabem que esta poderá ser a última oportunidade de assinar um documento com muitos zeros por lá.
Ao adepto, já se sabe, nem sempre pode exigir-se mais razão do que coração. Ao longo da época, não raras vezes foram questionadas as intenções de Rafa e Taremi. Mas os dois fizeram questão de, no passado domingo, começar a sair pela porta grande, com golos, emoção e os colegas à volta em sinal de respeito. Profissionais até ao fim - como, aliás, os treinadores Roger Schmidt e Sérgio Conceição sempre fizeram questão de sublinhar.
Benfica e FC Porto perdem, a custo zero, dois dos seus melhores ativos. Muito se poderá debater sobre o que andam ou não a fazer os clubes portugueses na sua gestão, mas a tal razão mostra-nos que cada vez é mais difícil a um dos grandes da nossa realidade rivalizar com outros campeonatos a nível salarial. Ainda que, à custa destas (não) decisões, seja a própria Liga que fica a perder.
Já o coração teima em agarrar-se ao que Rafa e Taremi fizeram por cá. O avançado do Benfica despede-se com a melhor época em termos de números de golos e assistências e também exibições. Já o do FC Porto penou muito nos últimos meses, mas ainda pode tornar-se o melhor marcador portista deste século. Ambos deixarão saudades nos tais adeptos que duvidaram deles, porque encaixaram perfeitamente numa já rara lista de jogadores que são muito bons para a Liga portuguesa, mas não excelentes ao ponto de dar tanto nas vistas que saem rapidamente para outros voos. Os oito anos de Rafa na Luz e quatro de Taremi no Dragão (mais um em Vila do Conde) são cada vez mais uma exceção para jogadores de alto nível e permitiram que fossem construindo uma relação com as bancadas, que atualmente são obrigadas a despedir-se de muitos ídolos precocemente.
Por diferentes motivos - no caso de Rafa a personalidade, no de Taremi provavelmente a dificuldade com a língua portuguesa -, nenhum deles foi especialmente bom a alimentar essa relação. Mas, em campo, o futebol falou por eles.
Águias e dragões tiveram muito tempo para preparar estas saídas (no caso do FC Porto, as eleições e posterior não renúncia dos administradores da SAD podem atrasar o processo). O futuro dos respetivos treinadores também influenciará certamente o ataque ao mercado, mas, na hora de dizer adeus a Rafa e Taremi, dois grandes desta Liga, ambos os clubes poderão pensar neles na hora de contratar: quantos reforços virão fazer a diferença na qualidade e vestir a camisola por muitos anos, para alimentar uma relação com os adeptos que não deve ser ignorada? Veremos.