O que une Jorge e Marcos?...
Jorge Braz é o selecionador nacional de futsal (A BOLA)

O que une Jorge e Marcos?...

OPINIÃO09.08.202407:30

Falta um mês, apenas um mês, para um novo Mundial de futsal, e dois nomes portugueses emergem no cotejo dos mais competentes e determinados no universo da modalidade – Livre e Direto é o espaço de opinião semanal de Rui Almeida

Sabemos que a bola é redonda. E também sabemos que o que é imprevisível determina a validade e o impacto de uma modalidade.

O futsal tem lutado, ao longo das últimas décadas, pela capacidade de se impor através de fatores determinantes para a alta competição. Pela capacidade de cativar multidões de adeptos, de atrair a magia da audiência nas transmissões televisivas, pela transformação e universalização do jogo, tornando-se estruturalmente independente do futebol mas, como organização, bebendo da comunhão, da partilha e da transversalidade do universo FIFA.

Portugal tem a sorte de ter talento.

Essa palavra única e esse conceito tantas vezes mal entendido e tantas outras mal aproveitado. O talento, o que emerge da vocação, o que progride com a formação, o que explode com a competição.

No futsal, esse é um fator absolutamente determinante para o sucesso desportivo, que pode passar, num momento, pelo apuramento para a fase final de um Mundial, ou noutro momento, pela assumida candidatura à maior conquista.

Falta um mês, apenas um mês, para um novo Mundial de futsal, e dois nomes portugueses emergem no cotejo dos mais competentes e determinados no universo da modalidade. Jorge Braz — o melhor treinador do mundo, inquestionavelmente!… — e Marcos Antunes.

Um, mestre do outro. O outro, discípulo atento e seguidor de metodologias, processos e exemplos notáveis. Os dois marcam encontro no longínquo Uzbequistão, vestindo camisolas diferentes no símbolo, mas idênticas na magia e no sonho. E estes são os primeiros pontos de encontro entre Braz e Antunes. Acrescidos da capacidade de perceberem as realidades em que se movem e o equilíbrio de que necessitam.

Falo-vos dos selecionadores de futsal de Portugal e de Angola. Um campeão do mundo em título e favorito (não há como escondê-lo) à renovação do título, o outro vice-campeão africano, procurando melhorar a presença de estreia, há três anos, na Lituânia.

Duas realidades muito distintas mas que, curiosamente, tendem a convergir na perspetiva essencial para o alto rendimento: a capacidade de perceber os momentos, de identificar as fraquezas, de perspetivar os processos, de motivar os recursos, de fazer o que é difícil e de tentar o que é ainda mais difícil.

Foi sempre assim, no futsal português, o caminho de Jorge Braz. Talentoso e diferenciador, a redimensionar e a acrescentar fronteiras competitivas à modalidade. Descrição, formação, leitura, competência, rigor, respeito. Sobre o respeito há muito a dizer, porque (et par contre…) ele não se diz. Cria-se, demonstra-se, percebe-se e estimula-se.

O trabalho de Braz é hoje não apenas reconhecido no mundo como diferenciador e benchmark. Para ele, o resultado constrói-se como reconhecimento da evolução na competência e na evolução das competências. Parece a mesma coisa, mas não é. E quem, comulativamente, agrega estas duas traves tem muito mais hipóteses de chegar ao sucesso. Que, no caso de Portugal, é uma permanente candidatura aos primeiros lugares numa competição mundial de futsal.

Se falamos de Angola, falamos de um fascinante trabalho de base. A despistagem, uma grassroot que emerge das próprias condições inatas de perceção da modalidade nas províncias, no método de identificação e na capacidade de motivação.

A seleção para o alto rendimento é o parâmetro sequencial, é o que efetivamente resulta de um fascínio quase infantil (no motivacional sentido do termo). É sentir o cheiro da terra e o som da paixão pelo jogo. E pela conquista. E pela evolução gradual no patamar internacional.

Os palancas negras do futsal são, hoje, vice-campeões africanos. Transportam consigo a magia de uma modalidade mas, sobretudo, os anseios de um povo cujas dificuldades, embora francamente atenuadas em alguns setores nos últimos tempos, continuam na primeira linha das prioridades.

É essencial que percebamos, à partida, as limitações de um e de outro lados. As portuguesas são as de sempre para uma equipa de topo: os adversários, os detalhes, os momentos. As angolanas também são as de sempre para um conjunto que se desafia a si próprio: o cenário, o mindset que faz a diferença, a possibilidade de escrever história.

Aqui, emergem Braz e Antunes. Os dois selecionadores sabem o que os espera no Uzbequistão. Uma modalidade em constante evolução nos diferentes parâmetros do jogo, no seu entendimento e na capacidade de passar a mensagem aos jogadores (na comunicação interna), e de equilibrar as expetativas (na comunicação externa).

O que une estes dois portugueses é, sobretudo, a dedicação e a paixão. O modo como vivem e respiram a modalidade. A capacidade que cada um revela, à sua especial maneira, para cativar um país e justificar o investimento.

Porque (não tenhamos ilusões) rendimento rima com investimento. O financeiro, essencial para assegurar condições dignas de presença em eventos de dimensão planetária, mas sobretudo o humano, fundamental para que todos percebamos que, por trás dos sucessos — qualquer que seja a medida e expetativa — está sempre a competência, a determinação e o talento de alguém.

Exatamente o que une Jorge Braz e Marcos Antunes.

Marcos Antunes é o selecionador de Angola de futsal

Cartão branco

Não sendo dos países com maior número de árbitros e árbitras internacionais, Portugal tem feito um caminho paulatino, de formação e evolução, que têm os seus expoentes nos juízes e nas juízas que apitam com as insígnias da UEFA e da  FIFA. Neste início de temporada, têm sido importantes os sinais (entendam-se, nomeações) de equipas de arbitragem para competições europeias. A cereja no topo do bolo é a nova indicação de Eduardo Coelho para o Mundial de futsal, de 14 de setembro a 6 de outubro, no Uzbequistão. O caminho de facto, faz-se caminhando. Só não vê quem não quer.

Cartão amarelo

Há uma semana, aqui sublinhei a necessidade de Rui Costa, Frederico Varandas e André Villas-Boas se unirem a outros agentes essenciais do futebol português numa espécie de manual de boas práticas. Cada um é líder de massas, e as suas atitudes (ou falta delas) influenciam o comportamento de uma imensa mole de adeptos espalhados pelo mundo. Caro Frederico Varandas, perder faz parte do jogo. Não cumprimentar o presidente adversário aquando da derrota (depois de um almoço que visava exatamente o contrário, em termos de posturas e mensagens), não é correto. Vamos começar bem a temporada? Então entendamos que é muito mais o que nos une do que o que nos separa.