Gyokeres não fará jus ao nome em Alvalade
Gyokeres continua a somar grandes exibições e golos. Muitos golos (IMAGO)

Gyokeres não fará jus ao nome em Alvalade

OPINIÃO10:00

Sueco pode ser em janeiro o 'danoninho viking' para um tubarão candidato ao título, embora um de luxo, a custar 100 milhões de euros, ou uma jogada de antecipação no mercado

O nome e a máscara. Ninguém poderia imaginar que o avançado sueco que chegou do Coventry e do Championship, ali tão perto das garras da Premier, como salto de fé de Ruben Amorim e da estrutura de futebol do Sporting, iria ter este impacto, primeiro no futebol português e, a partir do momento em que provou ser capaz de fazer o mesmo que fazia cá no burgo à defesa do campeão inglês, na conquista do planeta.

O estrondo tem sido tal que os 100 milhões que se colocam como fasquia, mesmo para um mercado que costuma ser bem mais contido que o de verão, podem revelar-se insuficientes para travar o eventual all-in de um qualquer tubarão que sinta que lhe falta um danoninho viking para ultrapassar o maior rival e ficar definitivamente com o caneco de campeão. Ou até uma provável tentativa de antecipação a uma transferência esperada apenas no verão seguinte. Chegámos a esse ponto.

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Gyokeres, o jogador e também a persona, tornaram-se virais. A máscara, sua imagem de marca, está a ser copiada por todo o lado, se calhar já tantas vezes quantas é repetido o festejo de Cristiano Ronaldo por todos os que o idolatrizam. Ou talvez ainda não, mas não faltará muito para que possa ser uma realidade. Tornou-se icónica. Celebra Bane, vilão de Gotham, um dos muitos que o homem-morcego tem de enfrentar, mas talvez o único, reza a história, que realmente o conseguiu testar física e psicologicamente. Nasceu na prisão, resistiu a inúmeras agressões, esteve à beira da morte n vezes, escapou por um largo fosso que matou e aleijou dezenas de potenciais fugitivos e sobreviveu ainda a um vírus que o obrigava a receber analgésicos para as dores excruciantes por via oral. Precisamente através da máscara.

Quando marca, Gyokeres deixa imediatamente de sorrir e sobressaem os olhos claros, como se o gesto fizesse parte do papel de vilão que decidiu encarnar, alguém disposto a tudo para vencer. Um herói indestrutível. Ou quase. Para todos menos para uma figura como Batman, uma personagem de ficção. Admito que pode ser imaginação minha e ele apenas engraçar com o tipo. Era, sem dúvida, um vilão com algum estilo.

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Já o seu nome, de origem húngara, a nacionalidade do pai, acentua ainda mais a contradição. Gyokeres significa raiz na língua magiar, algo que dificilmente ganhará por cá. O sueco está prometido para outro nível de grandeza.

Os cenários que não precipitam uma eventual saída dentro de dois meses, mais coisa menos coisa, são até bastante simples: o City tem Haaland e estará fora da corrida; Arsenal, Liverpool ou Chelsea podem não ter a verba disponível neste Inverno ou estarem limitados pelas regras do fair-play financeiro; Amorim quererá manter-se fiel ao que disse ainda em Alvalade, mesmo assumindo o risco de perdê-lo para um rival; ou já haver um acordo, não público, para uma transferência no verão.

É verdade que estamos perante um jogador feito e, muitas vezes, dá-se prioridade ao potencial. O nórdico terá 27 anos na próxima temporada e, portanto, a amortização dos 100 milhões será por quatro, cinco anos talvez. Aos 32, será que ainda veremos estas arrancadas, esta capacidade de levar a bola e tudo à frente, mesmo com todos os cuidados na gestão física e com a evolução a que temos assistido nos últimos anos? Talvez sim, talvez não, mas normalmente aponta-se para uma quebra por volta dos 30 ou 31. E se retirarmos a explosão e a potência ao sueco sabemos que não descobriremos nele grandes atributos técnicos para o drible ou para o passe. Não é, de todo, esse tipo de jogador, que pode recuar no terreno e ser mais cerebral. Até a condução, quase só feita com o pé direito, o tornará mais controlável, sem a tal capacidade de aceleração. Claro que é impossível saber o que aí vem, porém, por ser uma quantia elevada, todas as probabilidades serão pesadas ao pormenor.

Não deixam de ser quatro anos e muito se pode ganhar e perder nesse tempo. Gyokeres tem provado que vale golos e vitórias, e que está precisamente no ponto. No auge. Na verdade, prova todas as teorias que ouvimos vezes sem fim no pequeno ecrã desde quase sempre e que apontavam o amadurecimento completo de um jogador de campo para por volta dos 27 ou 28 anos. Com ele, bate certo.

O destino parece hoje mais próximo de Londres, talvez até mais do Norte de Londres, e de Liverpool, mas há uma estrada controlada para Manchester por Ruben Amorim ou Hugo Viana, por muito que seja estranho pensar que Pep Guardiola, acabadinho de renovar, queira incluir um segundo corpo estranho no seu juego de posición. A verdade é que ninguém imaginava Haaland a encaixar nos Cityzens e o espanhol aceitou o desafio, absorvendo tanto os golos do prodígio norueguês como as vezes em que desaparece diante de contextos menos propício. Mas dois...

Depois, fora de Inglaterra, há o Bayern e também o Barcelona de Joan Laporta, sempre a lutar com tetos salariais, regras da La Liga e falta de liquidez, ainda que pareça aproximar-se o final do prazo de validade de Lewandowski. O Real tem Mbappé, Vinicius e já nem cabem todos os outros, e em Itália não se pensa em cláusulas tão altas. Há sempre o PSG, contudo enquanto mandar Luis Enrique a filosofia aparenta seguir noutra direção. Até ver.

Gyokeres já manifestou vontade de ficar mais uns meses, porém o sueco ainda não foi confrontado com algo palpável, uma proposta. Nada garante que quando isso acontecer a resposta seja a mesma. Porque há comboios que só passam mesmo uma única vez. Sobretudo quando tens 26, 27 anos.

Nesse sentido, o Sporting vai enfrentar janeiro com mais nervos do que se calhar esperaria. Se a saída de Ruben Amorim era incontrolável, ainda que sempre uma péssima notícia, juntar-lhe a perda do maior desequilibrador, mesmo a troco de uma fortuna, poderá ser muito difícil de suportar. E por muito que Pedro Gonçalves seja uma ave rara, que é impossível não apreciar e elogiar, pode não chegar para tudo. Mesmo com mais 10.