Será que faz realmente sentido questionar um treinador que foi aposta em circunstâncias difíceis pela natural inconstância de uma equipa que se tem fragilizado ano após ano?
Os jornais trazem hoje notícias de que Vítor Bruno está seguro na SAD apesar da goleada sofrida na Luz. Que é o mesmo que dizer que está inseguro. Ou não se escreveria nada.
Assistiu-se, nos últimos meses, ao uso da expressão benfiquização do FC Porto e também à do seu inverso, portização do Benfica. A primeira comparou os excessos na AG dos azuis e brancos a incidentes semelhantes anteriores na Luz e a segunda foi utilizada por Frederico Varandas para comentar o alegado uso de meios menos lícitos pelos encarnados, que se teriam inspirado, na opinião do presidente do Sporting, no que se passara antes no rival da Invicta.
O que fica do clássico da Luz. Na realidade, os dragões não jogaram à-Porto, porém isso não teve que ver com entrega ou agressividade. Os encarnados foram superiores em todos os momentos, com bola e sem esta
No Luz, é muito frequente que o pensamento fique turvo com as emoções e leve a excessos, porém isso não costuma acontecer tantas vezes a Norte – mesmo não esquecendo problemas entre adeptos, jogadores e treinadores no passado –, e talvez também aí se note essa benfiquização, essa instabilidade emocional que faz com que se tudo se ponha em causa de um momento para o outro.
Se bem me lembro, Pinto da Costa aproveitava momentos como este para renovar com o treinador. Terminava com o burburinho por uns tempos e garantia estabilidade para trabalhar, embora nem sempre tenha naturalmente resultado.
Villas-Boas deixou sair notícias de idas ao balneário e até de alguma insegurança sua num momento em que, pelo contrário, deveria mostrar tranquilidade e saber fazer. Faz parte. Ainda está a aprender. E terá de aprender que os jogadores e os treinadores não perdem de propósito e não funcionam ao grito. É que Vítor Bruno, que se calhar até tem em mãos a missão mais difícil dos últimos anos, não teve de esperar muito para ficar em risco.
Foi um Benfica a pensar pequeno aquele que viajou para Munique e perdeu com o Bayern. Os futebolistas perceberam-no, verbalizaram-no e o erro pode vir a sair caro no futuro
Será que enlouqueceu toda a gente no Dragão? Esqueceram-se do verão, da luta para construir um plantel e de um mercado que, apesar de ter sido acima das expetativas, se completou tarde e não necessariamente em toda a sua extensão o grupo, já depois de se ter sido obrigado a vender, fruto das tremendas dificuldades financeiras? Não se aperceberam de que Vítor Bruno anda à procura de duplas de centrais e de médios, sem conseguir estabilizar numa decisão final? Não têm observado que Fábio Vieira, que voltou para ser referência, tem de recuperar índices físicos e até encontrar o seu espaço na equipa? Que a qualidade não é a mesma que existe nos rivais? Não se conseguirá nunca resolver tudo com o ser Porto.
As derrotas na Europa acentuam o resultado nos dois clássicos, é verdade, mas não se pode achar que não fossem naturais estes picos negativos. Apesar da tamanha exigência que sempre isso. Talvez aqui André Villas-Boas também não tenha gerido bem as expetativas de uma equipa que continua a precisar de massa crítica e arriscado em demasia na ideia de conquistar troféus.
Rúben Amorim tinha de sair com estrondo, a dinamite foi Gyokeres, porém houve um rastilho português. Quantos não vão rever o jogo com o Manchester City nas próximas horas?
Não estou a dizer que Vítor Bruno é bom treinador. Na verdade, não o sabemos. Sabemos que houve uma aposta forte num novo técnico e que as decisões a este nível têm de ser assentes num conhecimento que está para além de quem já não vê treinos e sente o pulsar do dia a dia das equipas.
Sabemos ainda que os problemas que o FC Porto apresentou na Luz não foram de atitude, de garra ou de agressividade. Talvez tenha estado um pouco na identidade, na forma mais expectante com que se apresentou em campo, porém os erros foram sobretudo futebolísticos. São identificáveis, específicos e objetivos. E a solução estará sempre a meio caminho entre o trabalho em cima dos erros e das dinâmicas positivas e a recuperação da massa crítica.