Rúben Amorim tinha de sair com estrondo, a dinamite foi Gyokeres, porém houve um rastilho português. Quantos não vão rever o jogo com o Manchester City nas próximas horas?
Confesso. Sou fã de Pedro Gonçalves. De cada vez que me lembram de Gyokeres, penso no português, a quem sempre recusei chamar Pote. Ninguém tão grande poderia alguma vez ter alcunha como essa, mesmo que, com diminutivo e em cima de formas menos atléticas, até passasse em miúdo.
João Pereira parece destinado a ser o sucessor e terá de receber uma herança que não lhe deixa qualquer margem de erro. Manter tudo como está é realmente exequível no futebol?
Claro que o sueco tem uma dimensão física espantosa e foi preciso mudar-se para um contexto onde a mesma ainda mais se destaca para despertar os ingleses do que já tiveram e não se aperceberam, um degrau abaixo de onde plantaram a melhor liga do mundo. Agora, diante dos rivais mais complicados que poderia ter pela frente, fez a prova dos nove. É o melhor que anda por cá, a larga distância.
Há um equilíbrio difícil por encontrar em Alvalade sobre a sua saída, mas o que Rúben transportará do Sporting para a metade vermelha de Manchester poderá ser decisivo para ressuscitar o United
Só que há algo que me leva sempre para os criativos. Sobretudo para os que não são, sobretudo, unidimensionais, Garrinchas dos tempos modernos, que desenham em campo sempre o mesmo, embora nunca se saiba quando. Claro que gosto deles, porém deixem-me gostar um pouco mais de outros.
Pedro Gonçalves tornará sempre melhor Gyokeres quando estiver em campo e se o sueco um dia for obrigado a parar para descansar, algo pouco provável, o nosso homem fará sempre outro avançado mostrar mais do que realmente tem. Há jogadores assim. Que vivem nas entrelinhas, sejam no campo ou nas frases, e fazem brilhar mais os outros.
Não se entende que um jogador desta magnitude de forma tão continuada não seja consensual. Talvez a dimensão só seja evidente a quem seja capaz de ler as tais entrelinhas, vá um pouco para lá do óbvio e do que salta à vista. Mesmo que ainda assim salte muito mais do que em outros.
Hans-Dieter Flick entrou sem medo com o Barcelona no estádio do grande rival e conseguiu uma goleada e um murro no estômago do madridismo, ainda inchado com o título de campeão europeu
No roast ao City na noite mágica de Alvalade, o Sporting pensou em português, com o Pedro, e fechou com frieza nórdica, pelo Viktor. Rúben, e todos os que viram a partida, têm razão. O jogo correrá mundo. Porque muitos vão ter curiosidade para saber como aconteceu e outros irão tentar encontrar o segredo para aplicá-lo a seu favor, quando defrontarem os ingleses. Até admito que se chegarem à conclusão de que a culpa é do sueco não hesitarão em atacá-lo rapidamente. Já Pedro Gonçalves é credor há muito, mesmo que isso não favoreça Sporting e Liga, que sentirão saudades.
Sobre Rúben Amorim esgotei todos os elogios. Só damos conta do que nos é especial quando o perdemos. Estava escrito que iria ser com estrondo. Só é pena que quem o leve não saiba ler nas entrelinhas.