6 novembro 2024, 15:32
Pedro Gonçalves é só para quem sabe ler as entrelinhas
Rúben Amorim tinha de sair com estrondo, a dinamite foi Gyokeres, porém houve um rastilho português. Quantos não vão rever o jogo com o Manchester City nas próximas horas?
Foi um Benfica a pensar pequeno aquele que viajou para Munique e perdeu com o Bayern. Os futebolistas perceberam-no, verbalizaram-no e o erro pode vir a sair caro no futuro
Pode um grande clube ficar na expetativa, derrotar um gigante e absorver todos os elogios e outro, de dimensão semelhante, fazer o mesmo diante de outro emblema de enorme grandeza, perder e ser crucificado?
Na verdade, foi o que aconteceu a Sporting, que goleou o Manchester City numa das mais gloriosas noites da sua história europeia, e a Benfica, que enfrentou pela enésima vez a sua besta negra, talvez a maior de todas, e decidiu encolher-se a um canto da sala, olhos no chão, a ver se passava despercebido e não era espancado ou alvo de bullying uma vez mais.
Não sou dos que acha que se deve jogar sempre ao ataque, lutar pela percentagem de posse de bola, número de cantos, quilómetros percorridos, cruzamentos ou até remates à baliza. Há muito que encontro arte – e a arte tem muito que ver com a nossa perceção – na organização defensiva e, sobretudo, na forma como a partir dessa se desdobra a transição para o ataque. O italiano Antonio Conte, por exemplo, desenhou autênticas obras de mestre pela Juventus, na Azzurra e no Chelsea, e mereceram-me tantos aplausos como o incessante tricotar da malha catalã por Xavi, Iniesta, Busquets e Messi, nesse futebol-andebolístico de cerco ao rival. Porque se não houvesse capacidade de adaptação, de camuflagem, de adquirir valências e evoluir, quebrar-se-ia a pirâmide, o mundo estaria entregue apenas aos predadores e estes extinguiriam o alimento e morreriam à fome ou em lutas pelo poder. É por isso que nunca acreditei muito numa Superliga. A certa altura, a maior parte dos clubes iria sentir falta de ser o maior no seu território, na sua rua, e o dinheiro já não compensaria tudo. Mas essa é outra questão.
6 novembro 2024, 15:32
Rúben Amorim tinha de sair com estrondo, a dinamite foi Gyokeres, porém houve um rastilho português. Quantos não vão rever o jogo com o Manchester City nas próximas horas?
Ruben Amorim, no pós-Manchester City, até transpôs ali um pouco a linha vermelha do que os adeptos não querem ouvir, quando disse que os red devils não poderiam utilizar a estratégia do Sporting diante dos rivais, pelo menos não durante muito tempo, devido à sua grandeza. O Sporting pôde. E todos sabemos que a dimensão, que não é a mesma, embora para qualquer adepto que não apoie o maior emblema numa discussão seja difícil de ouvir, traz outra exigência. O técnico já sabe que ainda lhe permitirão alguns meses assim, porém o objetivo será mais cedo ou mais tarde jogar sempre olhos nos olhos com os candidatos aos vários títulos.
No final do jogo de Munique, não foram poucos os jogadores do Benfica que lamentaram a falta de capacidade ofensiva. Lage teve medo do bicho-papão. Os encarnados somaram um remate, de Kokçu, de muito longe e ao lado, em 90 longos minutos. Apenas duas equipas, segundo a GoalPoint, fizeram pior, ou seja zero, curiosamente ambas diante do Manchester City: os espanhóis do Atlético Madrid em 2022 e os suíços do Young Boys no ano seguinte. As águias não tiveram uma única ação na área bávara, contra 32 germânicas na de Trubin. Ou seja, se era para defender, até por aqui se percebe que o Benfica esteve muito mal.
1 novembro 2024, 10:30
João Pereira parece destinado a ser o sucessor e terá de receber uma herança que não lhe deixa qualquer margem de erro. Manter tudo como está é realmente exequível no futebol?
Bruno Lage, que garantiu ter explicado o seu racional aos atletas, falhou talvez logo aí. Em convencê-los. Após o último apito no Arena, a maior parte das palavras que saíram da boca dos futebolistas soava muito a um «eu sabia que isto ia acontecer». E a linguagem corporal do treinador na sala de Imprensa parecia denunciar que tinha sido ele alvo de bullying e não quem esteve em campo.
Mudar para três centrais numa equipa que não costuma jogar assim, a não ser quando Carreras se junta mais por dentro à construção, é sempre uma mensagem para quem joga. Também a inclusão de um Renato débil para levar a bola e dois jogadores móveis na frente, sem uma referência que segure a linha defensiva contrária e faça apoios frontais para ancorar a equipa mais à frente, como Pavlidis anda a fazer, reforçam-na. Mesmo que depois tenha entrado na segunda parte e, com o resultado já negativo, Arthur Cabral lhe fizesse companhia nos minutos finais. A aposta em Kaboré para este jogo ainda é mais incompreensível.
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Lage ainda falou em escapar às referências individuais para chegar à baliza contrária, contudo no 11 que apresentou (e até mesmo no plantel) esses jogadores capazes de quebrar a pressão pelo drible, velocidade ou transporte escasseiam. A probabilidade de o Benfica perder jogando de outra forma seria sempre alta, mas pelo menos os atletas estariam mais confortáveis nas suas posições habituais e a seguir o processo habitual. A outra mensagem que Lage poderá ter passado é que não confia no seu modelo para embates mais encorpados. E se ele não confia como poderão confiar os seus jogadores?
É tudo também uma questão de identidade. O Sporting não a alterou assim tanto. Sabia que de outro lado estava uma equipa voraz, como todas as treinadas por Guardiola, para ter a bola e não se importou, porque sem esta sabe, mais cedo ou mais tarde, encontrar o espaço. E com espaço, Gyokeres, Trincão, Pedro Gonçalves são implacáveis. Rúben Amorim manteve mais ou menos o onze previsto, apenas baixou linhas e esperou. Sofreu um golo, viu Gyokeres falhar outro, foi feliz em vários momentos sim, porém os leões acabaram por finalmente assentar no seu processo. E destroçaram uma das melhores equipas da atualidade, ainda que aparentemente a sofrer bastante com a baixa de Rodri, a unidade mais importante dos Cityzens há muito tempo, e com a qual terão de se debater durante uma eternidade.
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Lage alterou, abdicou da identidade. Se tivesse sido no Wolverhampton não haveria problema, mas não no Benfica, que não jogou como equipa grande. Assumiu-se pequena no momento em que o técnico terá explicado aos jogadores seus posicionamentos e um sistema feito à medida para o jogo. Se tivesse entrado com o 11 de sempre ou o mais parecido com isso, e jogado igualmente mais na expetativa, talvez hoje a questão não fosse de identidade e a derrota até pudesse ter menor peso.
Não tenho dúvidas de que Bruno Lage cometeu um erro e a extensão da sua gravidade não é ainda conhecida. Volto à ideia de cima. Se não confia no modelo para jogos de maior dimensão como pode esperar que os seus futebolistas confiem?