Jovem central resistiu a alguns retrocessos e a sentenças precipitadas e tornou-se em poucas semanas no melhor central dos encarnados e num dos melhores da Liga
Tomás Araújo já merecia um artigo só para si. Há três épocas, viu o habitual escudeiro na equipa B António Silva ultrapassá-lo na hierarquia ao cair nas boas graças de Roger Schmidt durante os primeiros particulares e assumir depois inclusive a titularidade devido a um surto de lesões que levou até à contratação urgente de John Brooks em setembro e a custo zero, quando ele próprio já se encontrava há várias semanas ao serviço do Gil Vicente, por empréstimo.
Será que faz realmente sentido questionar um treinador que foi aposta em circunstâncias difíceis pela natural inconstância de uma equipa que se tem fragilizado ano após ano?
Na altura, o alemão terá preferido a dimensão física do mais novo à maior qualidade de passe e velocidade de Araújo. O jovem central assinou uma excelente temporada em Barcelos, assente nessa capacidade de ter a bola e saber sempre o que fazer com ela, porém o Europeu de sub-21 que se sucedeu não lhe podia ter corrido pior. À má estreia na derrota com a Geórgia somou a expulsão no empate com os Países Baixos, resultados que deixavam a equipa das quinas à beira da eliminação precoce, e não voltou a jogar. O afastamento foi evitado enquanto cumpria suspensão perante a Bélgica, porém nos quartos de final, com a Inglaterra, Rui Jorge deixou-o os 90 minutos no banco. Portugal cairia, ao perder por 1-0, golo de Anthony Gordon, aos 34 minutos.
O que fica do clássico da Luz. Na realidade, os dragões não jogaram à-Porto, porém isso não teve que ver com entrega ou agressividade. Os encarnados foram superiores em todos os momentos, com bola e sem esta
Qualquer outro jogador, menos maduro, teria visto aí uma sentença negativa sobre o seu futuro, mas não Tomás Araújo, que continuou a fazer o seu trabalho e beneficiou da crença de um Benfica que, mesmo mantendo um errático e cada vez mais erróneo Otamendi a usurpar o seu espaço de afirmação, não deixou que desistisse. Deu bons sinais no regresso aos trabalhos, ainda com Schmidt, e que coincidiram com a quebra de António Silva, e beneficiou da aposta definitiva de Lage, que assim conseguiu responder aos problemas transportados dos últimos anos na primeira fase de construção e até na velocidade no controlo da profundidade, quando procura uma linha defensiva mais alta, juntando os setores. Hoje, mais confiante também, Tomás Araújo é o melhor central do Benfica e um dos melhores da Liga.
Foi um Benfica a pensar pequeno aquele que viajou para Munique e perdeu com o Bayern. Os futebolistas perceberam-no, verbalizaram-no e o erro pode vir a sair caro no futuro
A vantagem de com a bola nos pés pensar como médio e sem esta se mostrar um defesa eficaz (e inteligente na forma como pode abordar as antecipações), ainda que com natural margem de evolução, foram evidentes no clássico com o FC Porto. Está criado mais um belo defesa português e, pelo menos, já não terá que regatear pelo espaço que merece. A visão de Lage foi fundamental, tal como antes tinha sido a de Schmidt, em António Silva e João Neves, por exemplo. Há que confiar. E responsabilizar.