Benfica? Ninguém sabe a resposta!
Este Benfica será o maior filme de suspense da década. Toda a gente já sabe como começa, mas ninguém poderá saber como irá acabar
VINTE E TRÊS mil adeptos foram cumprimentar o Benfica na sua estreia oficiosa. Ou como disse o Pedro Ferreira, com propósito e graça na BOLA TV, foram matar saudades de um Benfica que, verdadeiramente, já não veem há três anos.
Parece pois justo admitir que há um sentimento de esperança entre os benfiquistas. Porém, trata-se, apenas, de uma manifestação de vontade, uma eventual crença, mas a verdade nua e crua é que ninguém sabe, hoje, responder à pergunta: que Benfica vamos ter na próxima época? Nem mesmo os benfiquistas, sejam eles de que condição forem, incluindo responsáveis oficiais.
Ao contrário do que muitos pensarão, não é bom agouro, nem mesmo numa equipa de insucessos, uma mudança tão drástica e tão profunda. Mudou o treinador e, mais do que o nome, a nacionalidade e o perfil; mudaram muitos jogadores (uns porque entraram, outros porque saíram) e, se quisermos ser objetivos, mudou o presidente, não porque Rui Costa já não tivesse assumido clube e SAD em toda a plenitude na época passada, mas esta é a primeira em que assume total responsabilidade, desde o dia da criação.
Ora, quando um candidato ao título se dispõe a ir à luta com os seus dois históricos rivais que, aliás, fazem questão de marcar uma ideia de consolidação de filosofia competitiva e de percurso, mudando tantas pessoas e tantas coisas, a ideia que fica, além da óbvia interrogação sobre os resultados, é a de que há que dar tempo ao tempo para poder haver consolidação daquilo a que se convencionou chamar o projeto. Acontece que estamos a falar de futebol e o projeto dos grandes clubes é o de ganhar o jogo de ontem, o jogo de hoje e o jogo de amanhã. Não há uma ideia de passado, presente e futuro, mas uma ideia de continuidade temporal que deve assentar em vitórias e em títulos e, quando não assim não acontece, há que entender o facto como um pequeno intervalo, porque o sucesso seguirá dentro de momentos.
Roger Schmidt, novo treinador do Benfica
A verdade - e o leitor sabe bem do que falo - é que os adeptos não têm paciência para projetos que não contemplem a ideia simples e virtuosa de começar a ganhar já.
Poderemos sempre dizer que é uma irracionalidade e, daí, um mal característico do adepto. Não sei bem se assim será. A História do futebol está cheia de grandes projetos falhados e de surpreendentes e quase inexplicáveis sucessos que parecem quase acontecer por uma simples conjugação das estrelas. E já aconteceu também em Portugal.
Portanto, sejamos claros: não é pelo facto de o Benfica ter mudado tudo que os seus adeptos vão exigir menos. Não vão. Vão exigir o mais alto patamar das expectativas que o treinador alemão trouxe na bagagem: ganhar e voltar a jogar à Benfica.
Não é pouco, convenhamos, mas ninguém poderá dizer que é excessivo ou até mesmo, injusto.
E assim se gera um clima que tanto pode dar certo e levar Rui Costa à lua, por entre um mar de elogios, como pode dar errado e pôr em causa, mais do que o treinador, também quem o escolheu.
Rui Costa teria alternativa? - eis a questão a que os adeptos do Benfica também não estarão muito interessados em responder. Mas a resposta honesta é a de que não, não tinha alternativa, sobretudo depois de ter escolhido uma linha de descontinuidade em relação à que Luís Filipe Vieira tinha vindo a desenhar.
Como se pode, assim, constatar, o Benfica não será, apenas, a grande interrogação e expectativa desta nossa nova época futebolística. O Benfica será o maior filme de suspense da década. Já sabemos como começa, mas ninguém pode saber como vai acabar.
DENTRO DA ÁREA – CRISTIANO E O ÚLTIMO MUNDIAL
Ao que parece, Cristiano Ronaldo não queria continuar no Manchester United; e, também ao que parece, Cristiano Ronaldo não tem, para já, outro lugar suficientemente digno para ir e por isso deverá continuar no Manchester United. É verdade que o que parece nem sempre é. Mas também é uma realidade do futebol que tudo o que parece, é como se fosse.
Claro que Cristiano, jogue onde jogar, não deixará de ser o grande profissional que sempre foi. E tudo fará para chegar a novembro em forma. Ele sabe que vem aí o seu último Mundial.
FORA DA ÁREA – TODOS OS ANOS O PAÍS A ARDER
O país arde numa dolorosa repetição histórica. Primeiro é o anúncio de que vão chegar temperaturas muito altas e depois é ver o drama ao vivo ou em horas e horas sucessivas de imagens televisivas que não cessam de buscar a vitória no campeonato da desgraça. Segue-se o rol dos comentários de responsáveis e de irresponsáveis sobre presumíveis culpados. Até que a temperatura abranda e dá margem para algum descanso dos bombeiros e de outros agentes da segurança civil. Com sorte só voltaremos a ver isto no próximo ano.