As invenções de Rúben Amorim no Sporting
Treinador do Sporting inventou, com o tempo de semanas e meses de trabalho, Geny Catamo como ala, Pote como avançado... Porquê voltar agora a reinventar o moçambicano? Este é o 'Nunca Mais é Sábado', espaço de opinião de Nuno Raposo
Geny Catamo chegou ao Sporting em 2019/2020, emprestado pelo Amora, para jogar nos juniores. Agradou, assinou pelos leões, cresceu nos sub-23 e na equipa B. Foi cedido a Vitória de Guimarães e Marítimo, empréstimos em que pouco se viu do moçambicano, também por culpa de lesões que adiaram afirmação em contexto de Liga. Apesar disso, Rúben Amorim viu no extremo alguma coisa, tanto que o levou para o estágio de pré-temporada em Lagos, no verão de 2023, como fez nesta época estival com Geovany Quenda. E tal como o jovem que este ano se afirma em Alvalade, Catamo saiu-lhe melhor do que a encomenda.
E a encomenda que o treinador fez foi um novo ala. Geny, extremo de raiz, foi inventado ala direito — e se necessário esquerdo, como no arranque desta época por um conjunto de circunstâncias: a lesão de Nuno Santos; o fixar de Matheus Reis como elemento do trio de centrais; a chegada de Maxi Araújo apenas no final do mercado. E tão bem que se saiu que ganhou o lugar a Ricardo Esgaio e até decidiu o dérbi que empurrou definitivamente o Sporting para o título.
Uma boa invenção, trabalhada com o tempo da pré-temporada, antes, durante e depois do longo estágio algarvio. Como trabalhada foi, no verão de 2020, a invenção de Pedro Gonçalves avançado e até goleador — Bola de Prata logo no primeiro ano, o do título de 2020/2021, e sempre no top dos leões mais concretizadores. Ou seja, duas invenções maturadas com semanas e depois meses de trabalho a mostrarem que Rúben Amorim transforma em ouro muito do que toca.
Mas esse toque de Rúben pode pecar quando a invenção surge com imprevisibilidade. Como a imprevista subida do ala Catamo para a frente de ataque no jogo com o PSV em Eindhoven.
«Obviamente que vamos ter o Maxi Araújo, o Nuno Santos e o Matheus Reis também pode jogar aí na esquerda. O Geny vai voltar a lutar com o Quenda [na direita]. Temos de ter dois por posição. Geny voltará à direita, mas quando tiver de jogar à esquerda, jogará.»
Palavra de Amorim no final de agosto, quando o internacional uruguaio já estava garantido e assim abria a luta na ala canhota com Nuno Santos, para devolver a luta na direita entre os dois jovens, o moçambicano e o português.
«Têm características muito parecidas, fortes no um contra um, adaptam-se bem a defender, porque são rápidos e fortes e têm aquele sentido de equipa. Podem jogar os dois, na esquerda quer na direita, ou até no mesmo corredor. Temos o Esgaio para fazer de defesa, mas houve jogos no ano passado em que às vezes queríamos manter um jogador com as características do Geny naquele corredor e tínhamos de o gerir... Agora, se quisermos manter essa característica naquela posição, o Quenda está mais preparado e num bom caminho.»
Acrescentou o técnico verde e branco no final do jogo da jornada passada, com o Estoril, em que Geny Catamo marcou e foi o melhor em campo. Por isso estranhei, no jogo da Champions, a invenção de Geny no lugar que normalmente pertence a Pedro Gonçalves. Sim, «Trincão teve muitas bolas de frente» e a equipa não decidiu «tão bem». Quando conseguiu «ligar o jogo com o Gyokeres, ele escorregava». E «Geny teve muitas dificuldades com a bola entre linhas». Sim, também e sobretudo (e para não falar nas botas e escorregadelas), o Sporting não conseguiu «lidar com a pressão do adversário» como Amorim tão bem notou. Mas deve também ter notado que inventar Geny Catamo na frente, depois de tudo o que nos explicou como tão bem sabe explicar, ou qualquer outro jogador sem necessidade só para um jogo, pode não ser transformado em ouro. Valeu ao Sporting a incursão de Maxi Araújo pela esquerda e o golo de Daniel Bragança, bem lançados no jogo e a abrir portas para mais titularidades… E aqui Amorim não precisa de inventar nada.