A minha escolha

OPINIÃO03.01.202003:00

FORAM muitos os momentos e as figuras da década de que quererei continuar a lembrar-me, eu e os amantes do desporto e, em particular, do futebol. Serão muitos os momentos e muitas as figuras que vou continuar a querer recordar porque só desejo continuar a querer recordar os momentos e as figuras que me deixaram (e a todos) as melhores recordações e, portanto, bons motivos para continuar a querer lembrá-las. Agora que se concluiu a segunda década deste século,  decido eleger os momentos e as figuras que mais me marcaram enquanto adepto do futebol, porque, para o bem e para o mal, há muito que vem e continuará a vir do futebol a maior das emoções e o maior de todos os impactos no mundo do desporto!

O TRIPLETE (2010) - Surpreendente, emocionante, histórico e inédito o que José Mourinho fez no comando do Inter de Milão, precisamente no arranque da década. Campeão europeu, campeão italiano, campeão da Taça de Itália. Com Mourinho, o Inter chegou a inédito triplete na história de um clube que há mais de 40 anos não era rei da Europa.
Aquele Inter de José Mourinho conseguiu ainda outra inédita proeza em Itália, atingir o primeiro pentacampeonato na história da Serie A - um penta que começou em 2006, na sequência de um processo que levou o título a ser retirado, pela Justiça, à Juventus (condenada por corrupção) e a ser entregue ao Inter.
Os nerazzurri já dominavam, pois, internamente quando Mourinho chegou a Milão, mas foi com o maior treinador português de sempre que a Europa voltou a render-se ao Inter. Como esquecer aquela meia-final da Champions com o Barcelona? E como não nos lembrarmos daquela final, no imponente Santiago Bernabéu, em Madrid, com Mourinho, o Inter e um atacante argentino chamado Diego Milito a quase fazerem gato-sapato do Bayern de Louis Van Gaal?!  

A FINAL PORTUGUESA (2011) -  Muitos olharão para a Liga Europa com desdém, como se a Liga Europa fosse uma competiçãozinha de trazer por casa. Claro que não é a Champions, a rainha das competições de futebol de clubes, e nesse sentido terá sempre, evidentemente, menor impacto mesmo que a equipa vencedora seja uma das que habitualmente andam na prova maior. Mas é bom lembrar, a propósito, que já a ganharam, desde que ela se designa Liga Europa (a partir de 2009), clubes como Manchester United, Atlético de Madrid e Chelsea, todos já nesta década.
Só por isso já teria sido memorável a final de 2011, a mais memorável das finais desta década para o futebol português, que viu FC Porto e SC Braga discutirem o troféu em Dublin, entregue, no fim, aos portistas. Nunca tinha acontecido ao futebol português e foi, também por isso, memorável. E agora que temos, pela primeira vez, quatro equipas já na fase da prova a eliminar, será que poderemos voltar a sonhar?!

O ‘HAT TRICK’ (2013) -  Cristiano Ronaldo já soma muitos hat tricks  na carreira - três golos num jogo, e até, mais do que isso, três golos seguidos num jogo. Mas talvez nenhum dos hat tricks de Cristiano Ronaldo me tenha sabido tão bem - a mim, e se calhar a ele - como o que fez na Suécia, em novembro de 2013, naquela espécie de mano a mano com Zlatan Ibrahimovic, que valeu a qualificação a Portugal para a fase final do Mundial de 2014. Pela Seleção, Cristiano Ronaldo fez mais alguns hat tricks, no Mundial de 2018, à Espanha, por exemplo, marcou também todos os golos portugueses no empate 3-3, e já este ano fez os três golos com que Portugal derrotou a Suíça (3-1) na meia-final da Liga das Nações. Mas o hat trick da década foi mesmo aquele em Estocolmo. É o único que não me sai da cabeça.

O ADEUS (2014) -  Ninguém quereria ter vivido aquele momento, mas recordá-lo é, mais do que uma obrigação, uma necessidade, porque Eusébio era uma espécie de ponto cardeal, uma espécie de estrela polar, sem a qual todos nos sentimos mais pobres e até um pouco mais perdidos. Não imagino dia mais triste para os benfiquistas, mas também não imagino dia mais triste para o futebol português do que aquele 5 de janeiro de 2014.
Quando, por fim, nos despedimos dele, lembro-me que choveu muito. Choveu tanto que A BOLA escreveu que até o céu tinha chorado. Eusébio reunia tudo o que um amante de futebol como eu espera de um ídolo. Há o melhor de todos como é Cristiano Ronaldo, há Chalana, Luís Figo e tantos outros. E depois há Eusébio! Incomparável, inigualável, inesquecível!

ÉPICO (2016) -  Nunca imaginei ser vivo a tempo de assistir a uma coisa daquelas!... Portugal campeão da Europa de seleções? Quando? Como? Onde? Parece mentira, e na verdade nem sei se alguns de nós já acordaram para a realidade de ser a nossa Seleção Nacional a detentora do título de campeã da Europa, ganho em França e, ainda por cima, à França. É daquelas coisas que pareceriam sempre boas de mais para serem verdade. Mas foram.
Apesar de ainda hoje ter alguma dificuldade em explicar tudo o que aconteceu, dificilmente imaginaria alegria maior e momento mais extraordinário. Melhor só mesmo se Cristiano Ronaldo conseguir a única coisa que ainda não conseguiu na carreira, que é ser campeão do mundo de futebol. Mesmo sendo verdade que Cristiano praticamente não jogou a final do Euro, não me levem a mal - só mesmo com ele é que acredito que esse sonho pudesse também tornar-se realidade.

O FEITO (2016) -  Impossível - ou praticamente impossível - não o considerar o maior feito da história do futebol mundial. O Leicester, equipa de futebol de um pequeno clube de uma pequena cidade, com pouco mais do que 300 mil habitantes, então com o 4.º plantel menos valioso da competição, sem qualquer estrela na companhia e candidato a descer de divisão, com um treinador de 64 anos, com algum nome mas sem qualquer título de campeão principal no palmarés, vence a Premier League, o campeonato do luxo que só os mais ricos podem ganhar. O Leicester de Claudio Rainieri e Jamie Vardy - o pobre goleador da equipa -, Leicester que está curiosamente a confirmar esta época que nada daquilo foi por acaso - escreveu em 2016 assombrosa página na história do futebol mundial. Ainda custa a acreditar.

A QUINTA (2017) -  Vou recordar por muitos e muitos anos aquela fabulosa imagem de Cristiano Ronaldo a surgir na mágica Torre Eiffel com a 5.ª Bola de Ouro nas mãos. Diz ele (certamente meio a brincar, meio a sério) que nunca imaginou ganhar uma quanto mais cinco.
Mas ganhou-as, e imagino até que conquistará, pelo menos, mais uma, talvez duas, até ao fim da carreira, se tudo lhe correr como ele deseja, e eu espero, na Juventus e na Seleção Nacional, quem sabe ainda nesta Champions, por um lado, e no Europeu de seleções que aí vem.
Aconteça, porém, o que acontecer, provavelmente a imagem mais forte será sempre aquela, a de Ronaldo a aparecer, em direto para todo o mundo, entre as colunas de ferro bordado da mágica Torre Eiffel, com a 5.ª Bola de Ouro nas mãos. Majestoso!

O GOLO (2018) -  Mais de Cristiano Ronaldo, pois claro, como não podia deixar de ser, relativamente ao momento mais sublime de um jogo esta década, quando Cristiano fez não um golo mas... o golo! Pode o maior jogador da história marcar mais 100 golos que talvez nenhum outro se compare àquele impressionante golo de pontapé de bicicleta que fez à Juventus, em abril de 2018, em pleno coração de Turim, numa das meias-finais da Champions. Não foram muitas as vezes que vimos os adeptos de pé a aplaudir um adversário. Mas vimos em Turim. Todos!

O RENASCIMENTO (2019) -  O velho Liverpool está de volta e, pelo menos no imaginário, o futebol de Salah, Firmino e Mané dá ares daquele ventoso e impressionante futebol que tinham sobretudo o Liverpool dos lendários Keegan, McDermott, Jimmy Case, ou, logo depois, o de outros lendários como Dalglish, Souness, Alan Kennedy, e, um pouco mais tarde, deslumbrando já com Ian Rush, ainda hoje maior goleador da história dos reds. O Liverpool maior continua a ser o do eterno Bob Paisley. Mas acredito que perdurará um Liverpool de Jurgen Klopp.

O RECONHECIMENTO (2019) - Jorge Jesus precisava, e merecia, isto, e pode, finalmente, dormir em paz com o reconhecimento que lhe era devido pelo bem que já fez ao futebol. Teve, porém, Jesus, como sucedeu aliás com tantos outros portugueses, de partir além-fronteiras para lhe chegar, por fim, o reconhecimento que nunca tivera mesmo depois de levar o Benfica a duas finais europeias ou de fazer o que fez nos dois mais populares clubes do País. Foi preciso fazer grande história num clube da grandeza ímpar do Flamengo para poder sentir-se, de uma vez por todas, pacificado pelo justo reconhecimento de que se viu alvo. O senhor comendador ficará para sempre como um dos maiores!