Vasco Faísca: «Permanência terá o sabor de uma subida de divisão»
Vasco Faísca (Belenenses)

Vasco Faísca: «Permanência terá o sabor de uma subida de divisão»

NACIONAL28.11.202323:38

Passados dezassete anos na sua passagem como jogador, Vasco Faísca está de volta ao Belenenses, agora como treinador; em entrevista a A BOLA, o técnico fala em «sentimento especial» por regressar ao Restelo e não esconde a «frustração» pela forma como saiu do Farense, na época passada.

A última partida frente ao Penafiel marcou o seu regresso ao Estádio do Restelo. Como foi pisar o relvado, agora na função de treinador?
— Foi especial, porque o Belenenses foi um dos clubes que fez parte do meu percurso enquanto jogador e sempre ficou na minha mente uma boa recordação. É um clube do qual sempre gostei e poder regressar logo com uma vitória foi ouro sobre azul.

 — Apesar da vitória (2-0), o Belenenses continua em zona de despromoção. Como avalia este passo na sua carreira?
 — É um passo arriscado, mas não é a primeira vez. Quando vim para o Belenenses, disse ao presidente e também ao plantel que não gosto de projetos fáceis. Sei que vamos enfrentar um desafio complicado, mas quando um clube desta dimensão convida-te para seres o treinador principal não podes recusar.

 — O Belenenses vem de cinco subidas de divisão consecutivas. Que mensagem transmite aos adeptos que veêm agora a equipa numa posição diferente na tabela?
 — Este ano a mensagem é muito clara: a permanência terá o sabor de uma subida de divisão.  Estamos ainda numa posição muito desconfortável e queremos tirar a equipa deste posto. Os adeptos têm de ter a consciência que isto vai ser uma batalha até ao último segundo do último jogo do campeonato. Este ano é muito importante para estabilizar o clube nos campeonatos profissionais. Depois, com o tempo veremos se podemos mudar a nossa ambição, que passa, naturalmente, por regressar à 1.ª Liga.

— No dia 1 de janeiro vai reabrir o mercado de transferências. Vai exigir reforços à direção, além do Tiago Gonçalves?
— Posso assegurar que não haverá nenhuma revolução no plantel. Poderá acontecer alguma mexida, mas ainda não estão definidos os nossos alvos. Mas também não estou preocupado. Se não entrar ninguém, será com estes homens que vamos alcançar a permanência. Temos plantel para alcançar o objetivo traçado.

— E quais são as ideias que pretende colocar em prática neste Belenenses?
—Sou um treinador ofensivo. Quem estudar o meu percurso, vai ver que no Olhanense e no SC Braga B tivemos sempre o melhor ataque do campeonato. Considero que para atacar bem é preciso defender igualmente bem, sobretudo com poucos jogadores. Neste Belenenses, estamos a melhorar a fase defensiva, corrigir alguns aspetos posicionais. No entanto, minha ideia é, daqui a um tempo, ter um maior cariz ofensivo, claramente.

 — Na época transata, sai do Farense quando estava no 2º lugar, que dava acesso à subida à 1.ª Liga. O que aconteceu?
 — Tem que perguntar ao presidente [João Rodrigues]. Na altura, perdemos dois jogos consecutivos- frente a Tondela [0-1] e Torreense [0-1]- e desperdiçámos parte da vantagem que tínhamos para o E. Amadora [7 pontos]. Isso provocou, na minha ótica, um alarmismo exacerbado no presidente, que resolveu mudar de treinador. Admito que foi frustrante sair daquela maneira. No primeiro ano, conseguimos a permanência a quatro jornadas do fim, o que trouxe um ambiente positivo à equipa, os adeptos estavam felizes connosco e tivemos tempo para preparar a época seguinte, em que construímos um plantel para subir de divisão. Andámos sempre nos lugares cimeiros da tabela...

 — Foi noticiado a sua saída 1 hora antes do jogo com o E. Amadora...
 — São  coisas que acontecem no futebol...

 — Sente que o Farense devia também ter lhe agradecido pela subida de divisão?
— Não vou ser hipócrita. Considero que tive parte da responsabilidade. Mas o tempo acabou por dar razão ao presidente, pois o José Mota conseguiu finalizar com sucesso o trabalho inicado por mim.

— Critica então essa falta de paciência dos dirigentes no nosso futebol?
— Enquanto treinador não gosto, mas isto não acontece só em Portugal. Tradicionalmente, os países do Sul da Europa são muito emocionais no que toca ao futebol. Os dirigentes têm que ser racionais e entender que o futebol é um carrossel de emoções a cada fim-de-semana e o controlo emocional tem que prevalecer. Nos momentos menos bons, há que manter a calma porque senão quem acaba por pagar a fatura são os próprios clubes dessas decisões, por vezes, precipitadas.

Inspiração em Guardiola e mestre Jesus 

— Como vê a evolução do futebol português nos últimos 20 anos? 
—´Só nos falta o poder financeiro! Temos uma qualidade absurda de jogadores, mas também de treinadores, que são exportados para os mais diversos cantos neste mundo. Estamos a evoluir muito e bem. A melhor prova é a nossa Seleção Nacional, que é uma das melhores equipas a nível mundial.A Federação Portuguesa de Futebol tem feito um grande trabalho e há que continuar neste caminho.

— Já treinou na Campeonato de Portugal, na Liga 3 e na Liga 2. O que falta para chegar à 1.ª Liga? 
— Tenho um percurso ascendente e sinto que estou próximo de lá chegar. Trabalhar numa equipa na primeira divisão é o meu objetivo de carreira. No entanto, o meu foco passa pelo Belenenses. 

— Quem é a sua referência como treinador? 
— Diria Pep Guardiola, que está acima de todos os outros. É alguém que procuro ‘estudar’ para depois aplicar as ideias nas minhas equipas. A minha experiência como jogador, sobretudo em Itália, também deu-me alguma bagagem para esta função.

 — Como jogador, guarda alguma recordação de algum treinador?
 — Aqui no Belenenses trabalhei com o Jorge Jesus, que é um professor de tantos treinadores que atualmente vemos aí no futebol. Estive com ele apenas seis meses antes da transferência para Itália [em 2006/07], mas aprendi muito. Ele tem aquele feitio que é conhecido (entre risos), mas é um mestre da tática.