O susto do leão lembra à águia o que é a Taça

Conrad Harder foi figura inesperada no Algarve com um golo que salvou o Sporting do prolongamento. Benfica joga hoje em Moreira de Cónegos e deve recordar o que passou nas Caldas da Rainha

Esta eliminatória de Taça tem já uma figura, inesperada pelas forças em campo no Algarve, entre um Portimonense de Liga 2 e um Sporting campeão nacional. Conrad Harder bisou no jogo e fez lembrar ao país futebolístico que a prova rainha tem coisas que só a ela pertencem e dizem respeito. O leão passou no último momento num palco habituado ao primeiro escalão, é verdade, mas que em 2024/25 só vê futebol de segunda. A beleza da Taça é essa, quando o convidado grande entra em casa do anfitrião pequeno.

Este sábado não vai ser bem a mesma coisa, porque o Pevidém Sport Clube, fundado em 2006 após a extinção do CD Pevidém, não vai receber o Benfica no seu parque de jogos Albano Martins Coelho Lima — assim batizado em homenagem ao fundador da Coelima, fábrica de têxteis já desaparecida, que chegou a empregar 3.500 operários na região, e teve uma equipa profissional de ciclismo, entre 1969 e 1983, onde pontificou José Martins, 12.º classificado na Volta à França de 1976 — mas sim em Moreira de Cónegos, a 13 kms de distância.

O jogo com os encarnados, mesmo que em casa emprestada, ficará na história de Pevidém, que se deslocará em peso a um estádio cujos 6.500 lugares disponíveis devem estar repletos. É um daqueles momentos em que a equipa que milita no quarto escalão, que tem uma SAD presidida por um investidor japonês, Tatsuya Ishizuka, e onde militam seis jogadores estrangeiros, três nipónicos, um cabo-verdiano, um brasileiro e um guineense, não tem nada a perder, frente a um opositor que mesmo que apresente uma equipa alternativa, gozará sempre de amplo favoritismo, devendo ter, contudo, presente o susto que apanhou nas Caldas da Rainha, quando o conjunto então orientado por Roger Schmidt teve de ir a penáltis para passar no Campo da Mata. Por curiosidade, refira-se que o jogo foi há dois anos e quatro dias e dessa equipa do Benfica só permanecem no plantel António Silva, Florentino e Aursnes.

Será normal que o Benfica, que não ergue a Taça de Portugal há sete anos (pior só entre 2004 e 2014), apresente uma equipa que dê minutos aos menos utilizados, até porque alguns titulares devem recuperar da dupla jornada das seleções e outros poderão ser poupados, já de olhos postos no duelo europeu com o Feyenoord.

Nos restantes jogos de hoje, haverá mais quatro antigos vencedores da Taça de Portugal em ação — o Belenenses, o V. Guimarães, o E. Amadora e o SC Braga. E ainda três finalistas derrotados — o Atlético CP e o Rio Ave, que se defrontam, e o P. Ferreira. Até 25 de maio de 2025, data em que Marcelo Rebelo de Sousa entregará ao capitão da equipa vencedora o troféu desta edição, o FC Porto tentará igualar as quatro vitórias seguidas que o Benfica obteve, na viragem dos anos 40 para os anos 50 do século 20. Também Rúben Amorim, que só ergueu a Taça como jogador do Benfica (2014), tentará conquistar a prova rainha, pela primeira vez, como treinador do Sporting, o mesmo sendo válido para Bruno Lage ou Rui Borges, por exemplo. Já Carlos Carvalhal — e o SC Braga, não sendo favorito, é sempre candidato — pode orgulhar-se de já ter levantado este caneco ao serviços dos arsenalistas.