Sintrense, Samu, processo dos 'emails', os centrais e assobios: tudo o que disse Vítor Bruno

Treinador do FC Porto fez a antevisão do jogo com o Sintrense, da terceira eliminatória da Taça de Portugal

— Como perspetiva o jogo da Taça de Portugal com o Sintrense. Pretende fazer algumas mudanças?

— A mensagem caminha muito nesse sentido, jogo que queremos muito jogar, porque é o próximo. É legítimo que do outro lado esteja uma equipa que se quer superar, levar o jogo para o lado mais transcendental. É uma equipa que tem feito uma caminhada excelente a nível interno, não perdeu jogo nenhum até ao momento. Equipa bem trabalhada e bem orientada. Da nossa parte é levar o jogo para onde queremos, olhar para o adversário, respeitá-lo, ser humildes, querer muito ganhar e passar a eliminatória. Quanto à equipa, mexidas ou não, veremos amanhã. Eventualmente algumas, uns que têm jogado mais se calhar vão continuar a jogar. Quem ficou cá, é verdade que muita gente diz que tem sempre alguma vantagem, eu, concordando com isso, não sou totalmente adepto dessa questão. Quem foi, dependendo do jogador que é, alguns estão cá há mais tempo e num dia conseguem apanhar aquilo que nós queremos, outros que não estão tão metidos no nosso sistema, podem ter mais dificuldade. É casar um bocadinho quem esteve e quem não esteve.

— Como espera a sua estreia como técnico principal na Taça de Portugal?

— A primeira ideia que me ocorre é que não seja uma estreia como a da Liga Europa. Queremos muito jogar. A minha estreia é pouco importante, que seja a 22ª vitória consecutiva na prova, que seja o início de um caminho que queremos chegar o mais longe possível e isso é chegar ao Jamor. Temos de fazer um percurso bem cimentado, com passos seguros, sabendo que há uma eliminatória de cada vez para passar. A primeira ideia que me ocorre é que não seja uma estreia como na Liga Europa… A estreia é pouco importante para mim, quero é que jogadores deem continuidade e seja amanhã a 22.ª vitória na prova. Para chegar ao Jamor temos de fazer um percurso bem sedimentado, com uma eliminatória de cada vez. Um adversário que está invicto, que seja um bom prenúncio.

— Como sente o Samu, dado ao impacto que tem tido no FC Porto e face à polémica com Diego Simeone?

-- O Samu regressou apenas hoje aos trabalhos e tive apenas tempo para me cruzar com ele no balneário. Até brinquei com ele, porque numa entrevista disse que eu era o chefe. Disse-lhe: 'Jefe, eu? Não.' E ele disse que sim, que eu era o 'boss'. Falamos ali durante 15/20 segundos, não tocamos nesse tema. Interessa-me olhar para o Samu como jogar do FC Porto e não como ex-jogador do At. Madrid. O que sinto dele é total comprometimento com as ideias e vontade de singrar, isso é ponto assente.

— As mexidas em peças importantes contra o Bodo/Glimt não correram bem…

— Perceber como é que o Sintrense se vai apresentar amanhã. Se joga com linha de quatro ou de cinco, se joga um jogador ou outro. Se vem com dois avançados, há uma série de variáveis a equacionar, quem pode agregar mais, olhando para o adversário, percebendo de que forma se poderá jogar. Na minha cabeça está o onze que vai começar amanhã, sabendo que do outro lado estará uma equipa a transcender-se. Faz parte, uma equipa do quarto escalão, um treinador muito ambicioso, a saber o que quer.

— Tem receio de perder Samu no mercado de inverno?

—Em relação ao Samu, tudo o que é passado não recuperamos. Está passado, vivido... O futuro não conhecemos, é desconhecido para todos. Por isso que temos de viver o presente, é isso que eu quero. Que o Samu viva o presente, que se agarre a ele e o viva com total sentimento, muito metido no jogo dele e nas ideias da equipa. Que tenha esse lado mais adaptativo, de ser moldável, de vestir uma pele diferente dependendo do que o jogo precisa, não ser só o Samu goleador que agora toda a gente vê. E ele tem isso. Não me tem dado provas de não poder contar com ele, está muito metido naquilo que é o trabalho.

— Pode fazer-nos um ponto da situação relativamente ao Tiago Djaló e ao Otávio, um porque não joga há muito tempo e outro porque está afastado da competição há alguns jogos?

— O Tiago [Djaló] e o Otávio estão aptos para ir a jogo amanhã, qualquer um deles pode jogar. Estão na lista e estão elegíveis. Podem entrar de início, podem começar a partir do banco. o Tiago tem feito o trabalho dele, tem-se adaptado bem aquilo que são as ideias, é um jogador de tenra idade que já tem experiência acumulada para trás. Quanto ao Otávio, aqui ninguém tem carimbos de descartáveis, ninguém lhes atribui um sele de não contarmos com o jogador. São fases, ciclos.... Tentamos potenciar ao máximo um ciclo positivo e tentamos, quando não está tão bem, guardá-lo e protegê-lo. O Otávio terá que maturar os comportamentos dele, tem um potencial gigante para ser um dos grandes centrais na Europa, é a minha profunda convicção, não o digo de ânimo leve. Mas tem que maturar muito daquilo que são os seus comportamentos, perceber em determinado momento o que o jogo lhe está a pedir. Tem feito essa aprendizagem e o que mais me agrada é essa recetividade dele para poder crescer. Enquanto ele tiver esse tipo de aceitação é alguém com quem podemos contar. É alguém que no balneário obriga os outros a andar sempre a um nível muito alto, isso para mim é decisivo."

— Quer comentar o processo que foi instaurado ao Benfica por corrupção desportiva e as escutas no balneário do FC Porto feitas pela PJ?

— Parece-me que, em relação aos eventuais casos de que fala, temos pessoas responsáveis e o nosso presidente, do que me parece, sem ter falado com ele, mas das convicções que ele reiteradamente manifesta, é alguém que quer fazer destes casos de corrupção uma bandeira e acabar com isto no futebol português. O que vai fazer ou não, não me compete a mim interpretar ou comentar, nem me fica bem. Muito menos em relação ao Benfica. Tenho de perceber o que se passa na minha casa, no meu balneário, nos jogadores. Tudo o que ultrapassa essa esfera, para mim não é alvo de ser comentado. Isso dá multa.

— Concorda que a exigência dos adeptos, por causa dos assobios, tem sido maior esta época do que nos últimos sete anos, como defendeu o presidente Villas-Boas?

— Em relação ao que o presidente comenta ou não, não me fica bem comentar alguém que é o líder máximo. Mas percebo o que ele quer dizer, é percetível. Sobretudo pelo que são as reações dos nossos jogadores, não que os adeptos não tenham direito de se manifestar como querem e bem entendem. para mim são o pilar mais forte de um clube. Mas a partir do momento em que há manifestações de desagrado dos nossos jogadores, percebemos que estamos a mexer com eles. E num balneário tão jovem, não tão estável como queremos que seja, qualquer gesto ou assobio pode mexer com eles momentaneamente. É tentar ser sensível a isso. É preferível um assobio a qualquer outra atitude que possa interferir com a interdição do estádio... Por isso quando tiverem que assobiar que assobiem, obviamente percebendo a insatisfação dos jogadores com isso.