FC Porto: limpeza de balneário
No verão de 1989, o FC Porto fechou ciclo que sacrificou nomes grandes das conquistas internacionais. À atenção de AVB, no próximo defeso, porque a culpa não é só de Vítor Bruno... 'Hat trick' é o espaço de opinião semanal do jornalista Paulo Cunha
1No espaço de quatro anos, entre 1984 e 1988, o FC Porto perdeu uma final da Taça das Taças antes de ganhar a Taça dos Clubes Campeões Europeus, a Taça Intercontinental e a Supertaça europeia. Uma geração de ouro sobre azul guiou os dragões a três de sete conquistas que garantiram o estatuto de clube português mais titulado além fronteiras.
À entrada para 1988/1989, Pinto da Costa decidiu prescindir de Tomislav Ivic — a par de André Villas-Boas o único treinador a festejar quatro competições na mesma temporada — e apostar em Quinito. O técnico — nome grande do nosso futebol, que aliava competência a um sentido de humor que marcou os anos 80 e 90 — não resistiu à pressão e proporcionou o regresso de Artur Jorge após experiência no Matra Racing, de Paris, onde chegara como campeão europeu em 1987. Feitas as contas a essa época de 1988/1989, os portistas não ergueram sequer um troféu pela primeira vez em quatro no reinado de 42 anos de PC.
No verão de 1989, sem surpresa, rolaram cabeças com a saída de alguns daqueles históricos — Mlynarczyk, Lima Pereira, Eduardo Luís, Inácio, Jaime Pacheco, Sousa, Frasco, Vermelhinho, Gomes… — que contribuíram para enriquecer o palmarés internacional do FC Porto. À data, a chamada limpeza de balneário, liderada por Artur Jorge, sinalizou que os problemas da equipa estavam longe de poder ser explicados apenas com o trabalho do treinador. Era de um fim de ciclo que se tratava e percebê-lo na hora H abriu caminho para nova era de sucesso.
«A história nunca se repete, mas frequentemente rima», eis frase atribuída ao escritor norte-americano Mark Twain (1835-1910) que talvez possa inspirar Villas-Boas à luz das mudanças radicais daquele FC Porto de 1989/1990 que se sagraria campeão nacional. Tal como nessa altura com o rei Artur ao leme, a culpa dos maus resultados em 2024/2025 não castiga só Vítor Bruno e esse é ensinamento que o presidente eleito a 27 de abril deve ter presente quando definir o plantel para 2025/2026. Sim, «a história nunca se repete, mas frequentemente rima».
A forma como AVB lidou com Pepê — recordo-lhe que atrás referi-me à célebre limpeza de balneário de 1989 que pode ser replicada em qualquer defeso... — é tiro nos pés que contrasta com a obra de excelência que está a realizar nos gabinetes. O extremo pode ou não ter razões de queixa das críticas que Vítor Bruno lhe fez depois do desaire frente ao Gil Vicente, mas responder-lhe em público revela flagrante falta de respeito pelo clube.
Ninguém me consegue convencer de que a entrada de Pepê no onze diante do Olympiakos não terá tido o dedo de AVB como se recuasse no tempo e voltasse a ser treinador, no caso interino no lugar que José Tavares ocupou de facto...
Se foi aberto um processo disciplinar é porque os indícios são fortes e, assim, nunca Pepê — se pediu desculpa, como AVB desvendou, não seria mais prudente anunciar imposição de multa pesada e pôr ponto final na polémica? — deveria ter sido opção no duelo com os gregos do Pireu.
Como acontece desde a goleada eleitoral que fechou trajeto de 42 anos de PC, algumas aves necrófagas — não confundir com os que criticam sem estar de luto… — aproveitaram logo para surfar as ondas da tempestade. Acredito que AVB lhes agradeça. Nada como darem a cara para se recordar o que explicou os 80 contra 20 por cento do último ato eleitoral.
2 Rui Borges voltou a referir-se à condição física de Viktor Gyokeres, suplente utilizado frente a Rio Ave e RB Leipzig, jogos que antecederam a receção do Sporting ao Nacional (escrevo antes da partida de ontem).
«O máximo que posso dizer é que ele tem um pequeno problema, não é no joelho e precisa de gestão. 95 por cento dos jogadores, com o problema que ele tem, estavam parados», disse, em conferência de imprensa, o treinador leonino. Por outras palavras, em linguagem popular, bastava que tivesse dito que o avançado… está preso por arames.
«A vontade dele em jogar é tanta…», complementou ainda, uma verdade insofismável, como se constatou a 22 de novembro, quando, três dias depois de ter representado a Suécia frente ao Azerbaijão, entrou aos 66’ no desafio da 4.ª eliminatória da Taça de Portugal com o Amarante (6-0), em Alvalade, já o Sporting vencia por 5-0, na estreia de João Pereira.
«Entre todos tentamos o melhor, não pôr em causa o atleta. Não sou nenhum louco. É um jogador muito importante», destacou igualmente o técnico. Para defender os interesses do Sporting, apesar de gostar, isso sim, de atacar, é bom que Gyokeres tenha presente estas declarações de Rui Borges, aceite reduzir a velocidade e ficar nas boxes se necessário. Se até os Ferraris têm travões…
3 À boleia da mais recente proeza da Seleção Nacional de andebol no Mundial que decorre na Noruega, Dinamarca e Croácia, ainda na redação de A BOLA se festejava o triunfo histórico sobre a Espanha que assegurou os quartos de final, dei por mim a recordar com o Hugo Forte figuras de outras épocas da modalidade em Portugal.
De Carlos Silva a Santa Bárbara. De Hernâni a João Gonçalves. Vasco Vasconcelos. José Pires e Mário Gentil. Nomes que remetem para memórias de infância e jogos sempre comentados na RTP pelos professores João Barata e Fernando Pais. Como diria o Miguel Correia, nosso amigo comum, meu e do Hugo, «vocês sabem umas coisinhas».