28 março 2025, 10:00
Onde está o Scaloni do futebol português?
Trabalho incrível do selecionador argentino em contraciclo com a realidade do país e da própria América do Sul. Um exemplo para outros casos difíceis, como parece ser o português
Se o Comité Executivo serve para resolver os problemas do futebol português, então os dois últimos eleitos falharam rotundamente. O caminho mais curto quase nunca é o mais acertado
Pedro Proença falhou a eleição para o Comité Executivo da UEFA. Pior, teve 7 votos. Entre os 11 proponentes foi aquele que menos apoio angariou. Talvez a sua imagem ainda fique mais fragilizada se olharmos para quem recolheu mais votos: Suíça, Liechtenstein e Polónia, que também ficaram de fora, e Arménia, Estónia e Finlândia, que garantiram o seu representante, tal como os mais poderosos Croácia, Alemanha, Itália e Países Baixos (nos rankings UEFA e FIFA e agora no Comité à frente de Portugal, é de mim ou há aqui um padrão?). Não integrar o Comité era (e foi) considerado derrota de todo o futebol português. Integrá-lo oportunidade única para exercer influência.
O que se passou nos últimos dias transportará a responsabilidade pelo desfecho para cima dos ombros de Fernando Gomes, que depois de ver a sua direção apoiar Proença quis separar-se individualmente da imagem deste assim que deixou de ter essa obrigação. Fê-lo depois de o sucessor o ter tomado por garantido de forma pública, o que lhe terá certamente causado alguma alergia face ao passado.
Não saberemos o que teria sido a eleição se o agora líder do Comité Olímpico de Portugal tivesse sido politicamente correto e mantido as aparências. Será que teria mudado assim tanto? O agora presidente da FPF vai insistir que sim, como bom político que quer ser, e a máquina que o rodeia irá repeti-lo ad nauseam. É impossível sabê-lo.
28 março 2025, 10:00
Trabalho incrível do selecionador argentino em contraciclo com a realidade do país e da própria América do Sul. Um exemplo para outros casos difíceis, como parece ser o português
Sabemos sim que o que aconteceu não foi mais do que consequência da paz podre ou até mesmo guerra surda que existiu entre as duas fações desde que o antigo árbitro entrou na Liga para liderá-la. O que sempre transpirou foi a imagem de uma incompatibilidade inultrapassável ao ponto de um unir de forças ser uma impossibilidade, mesmo em nome de um bem maior.
Os dois organismos, que podiam ter trabalhado em conjunto no sentido da pacificação, modernização e reestruturação do futebol português, nunca iriam fazê-lo, mesmo que os seus líderes se prolongassem no tempo. Também é mais ou menos público que quando Proença já piscava o olho à Cidade do Futebol quem ainda lá andava tentou arranjar quem, pelo menos, vendesse cara a derrota. Sem sucesso, todavia.
Tanto Proença como Gomes partilhavam ambições, estratégias e até receios. Quiseram sobretudo reunir consensos e evitar roturas. Nunca pretenderam levantar a poeira, mas sim liderar de forma tranquila. Apostaram numa gestão cujo objetivo final passava por apresentar lucro nas empresas que lideravam, mesmo que tal não refletisse o produto que era o seu objeto. No entanto, os meios para chegar ao mesmo fim foram bem diferentes. Para que a galinha pusesse ovos de ouro, e a galinha na Federação era a Seleção principal, havia que fortalecê-la, criar massa crítica: as equipas B, a Liga Revelação e a Liga 3 abriram espaços competitivos para quem saía da formação e garantiu um maior aproveitamento e maturidade.
25 março 2025, 10:00
Se não foi Fernando Santos também não será, provavelmente, o espanhol a conseguir extrair o melhor de uma Seleção carregada de talento. Há sinais de alerta, apesar do apuramento
É verdade que também houve o outro lado, o de não deixar Ronaldo infeliz, que terá condicionado o trabalho de selecionadores, mas manteve os patrocinadores na Cidade do Futebol. Com o futsal e o futebol feminino em crescimento exponencial, pode falar-se em benefícios colaterais, a que não deixarão de colar o rótulo de legado. Ainda houve algo produtivo, mesmo que no restante tudo tenha ficado mais ou menos na mesma.
Já na Liga, o tempo parou. Em torno de um Santo Graal chamado centralização dos direitos televisivos, que está longe de se encontrar no mapa futebolístico indígena, pouco ou nada mudou. Os pobres estão mais pobres, os ricos menos ricos, os estádios ainda vazios e os melhores jogadores noutras paragens. A justiça ainda tarda quando não se perde em tribunais administrativos, as comunidades mostram-se cada vez mais divorciadas dos clubes, a perda de competitividade reflete-se nos rankings. As arbitragens mantêm-se frágeis, mesmo com o VAR, hoje o foco de discórdia, e o desinteresse pelo nosso futebol é tão pequeno lá fora como quase é cá dentro. Mesmo com uma Seleção cheia de talento, jogadores que fazem saltar multidões das cadeiras e treinadores a querer recuperar espaço nos maiores clubes.
O trabalho que a Liga não fez foi substituído pela propaganda. Nas reações às declarações de Fernando Gomes foi penoso ver clubes virarem instrumentos histéricos de propagação de mensagens decoradas e uma Liga ainda indiretamente de Proença sair em sua defesa. Tanto como quando pintam cenários idílicos da paisagem destruída que é o nosso futebol.
30 março 2025, 10:00
Rivais mostram-se sólidos o suficiente para apagar a eventual mancha de um campeonato ganho pelo 'menos mau', embora apresentem dinâmicas bem diferentes na atualidade
Há algo mais que me entristece. Que Proença provavelmente tenha querido, mais uma vez, ir pelo caminho mais fácil. Que tenha pensado que iria resolver os problemas do futebol português no comité executivo, ainda que acredite que seja aí que realmente queira estar. Não na Liga, não na FPF, mas sim na UEFA, eventualmente na FIFA.
Os problemas do futebol português resolvem-se é por cá. Arregaçando as mangas, sujando os braços, trabalhando diariamente para um bem maior. Fazendo perceber aos clubes que se as regras os protegerem não protegem o jogo, logo indiretamente também não os servirão a médio prazo. E criando um produto forte, que poderá não acontecer tão rápido como 2027, altura de nova reeleição, porém trará certamente mais força do que qualquer palmadinha nas costas por parte de um antecessor. Obrigará a olhar definitivamente para Portugal.
Se gostam de paralelismos, pensar que se resolve os problemas de um país na UEFA é o mesmo que acreditar que os equívocos da arbitragem desaparecem com um ex-árbitro na Liga ou na Federação. É bem mais profundo do que isso, embora em Portugal o dirigismo, de tão enfraquecido que está, procure sempre o caminho mais curto e menos complicado.
No que diz respeito a Fernando Gomes, respeito que não queira associar-se a alguém de quem não gosta. Já chega de paz podres e politiquices corretas. A Proença, resta-lhe falar (e mandar que falem) menos e trabalhar mais. Afinal, foi para isso que foi eleito. Há sempre males a vir por bem.
Estou de acordo com isto tudo, mas esses dois intervenientes, que chafurdaram no futebol pestilento pestilento ao longo dos anos, colocaram o ego e a arrogância deles, acima do desporto nacional. O da Liga mentiu nas cartas enviadas aos homólogos europeus, o da FPF, mostrou toda a raiva dele, nas cartas que escreveu aos mesmos. O mais importante para eles foi o ""EU". Agora foco um problema grave, que ainda não li ou ouvi:- Terão estes dois "SRS." condições para estar à frente dessas instituições? Que tal uma varridela profunda, tal como as limpezas dos balnearios?