Roberto Martínez durante o Portugal-Dinamarca na segunda mão do play-off da Liga das Nações.
Roberto Martínez durante o Portugal-Dinamarca na segunda mão do play-off da Liga das Nações.
Foto: IMAGO

A profissão de Roberto Martínez e a competência

OPINIÃO25.03.202510:00

Se não foi Fernando Santos também não será, provavelmente, o espanhol a conseguir extrair o melhor de uma Seleção carregada de talento. Há sinais de alerta, apesar do apuramento

Defendi a contratação de Roberto Martínez, mais do que tardio substituto de Fernando Santos, contra duas ideias que ganhavam forma: a do fracasso à frente da 3.ª classificada do Mundial de 2018, a geração de ouro belga que uniu um país dividido para lá das quatro linhas; e a alegada existência de uma casta de portugueses de qualidade superior, máscara em alguns casos para triste xenofobia.

Em teoria, o espanhol encaixava na nova filosofia procurada na Cidade do Futebol, a querer explorar a crescente massa crítica, a chegar em fornadas sucessivas aos clubes e a bater à porta do selecionador. O mesmo não se passava com os congéneres portugueses, entre eles Mourinho, num namoro projetado pelo eterno desejo de juntar os melhores atletas ao treinador mais bem sucedido e que andará sempre no nosso inconsciente coletivo, mesmo que o Special One esteja hoje mais próximo de Fernando Santos do que de Martínez na abordagem.

Alertei que Martínez trazia um senão. Era homem de consensos e não de roturas, o que poderia não servir os interesses da Seleção (embora cumprisse os federativos). Tal como tinha acontecido com os veteranos da Bélgica, o treinador quis agradar a todos: foi assim com a cega manutenção de Ronaldo ou a resistência a jogadores fora do núcleo duro. Trazia ainda de Bruxelas outra dúvida: nem sempre o ataque posicional funcionara.

O que Martínez apresentou nos primeiros tempos foi radical e nem sempre funcional, apesar dos resultados. Faltou-lhe semear dinâmicas. Um selecionador deve aproveitar o trabalho dos clubes, porém não chega. E, dois anos depois e com uma fase final pelo meio, já não se pode queixar do tempo de treino.

A procura de consensos políticos impediu o coletivo. O jogo posicional é estático, sem que os jogadores se complementem e sem movimentos sem bola, o que resulta numa posse pára-brisas. Depois, a coesão desmorona entre os que devem defender e os que não o fazem. Colocar Bernardo para os duelos, em vez de distribuir a despesa por todos é crime. Tapar Jota ou Ramos outro. É uma Seleção de concessões, não a melhor possível!

A Liga das Nações diz-me pouco, mas os jogos com a Dinamarca avisam-me que Portugal não está bem e se perdeu no rumo. A resposta desproporcionada de Martínez ao jornalista confirma-o. Sei que estou a ser duro, porém se o espanhol não conseguir fazer da Seleção uma equipa, então talvez deva ouvir o próprio conselho e experimentar outro ofício.