Segredo do Dragão é rigor e humildade: a crónica do Farense-FC Porto
Farense poderia ter ido mais longe se não tivesse desperdiçado o primeiro penalti. O jeito que dá ter um Evanilson para fazer golos!
A cinco pontos de distância do Sporting e a quatro do Benfica, o FC Porto sabe que não tem qualquer margem de erro. Daí que começando antes dos seus rivais a jornada 19, num campo, em Faro, sempre difícil e perante um adversário organizado e sem pressão, a equipa de Sérgio Conceição tivesse como exigência principal ser humilde e competente. E assim foi. O FC Porto teve um tempo avassalador de posse de bola, acima dos setenta por cento, e não foi por jogar para o lado e para trás. Pelo contrário, a equipa teve sempre a baliza de Ricardo Velho em ponto de mira, pressionando todas as tentativas de saída da área com bola da defesa do Farense e obrigando ao erro.
Hoje em dia, não deixa de ser curioso, que a ideia de sair com a bola jogável desde a grande área se tornou quase uma obrigação para qualquer equipa. É curioso e é estranho, porque, não raras vezes, o jogo e as suas cirunstâncias desaconselham a moda. Tal como o de ontem, onde o FC Porto assumiu uma pressão muito alta, com apoio de uma forte segunda linha de médios subidos no terreno, e isso dificultou, e muito, a construção de jogo do Farense, sempre que foi chamado a jogar um futebol de ataque controlado. Diferente se tornou quando o Farense procurou aproveitar situações para desenvolver o ataque rápido. Aí, sim, a equipa algarvia chegou a dar sinais, embora não demasiado evidentes, de poder tornar-se numa ameaça efetiva. Coisa que poderia ser mesmo séria, caso Mattheus Oliveira não tivesse desperdiçado uma grande penalidade, ainda com o jogo empatado a zero.
Cinco minutos diabólicos
Entre os 30 e os 35 minutos, o jogo começou, então, a traçar o seu destino. Cinco minutos diabólicos que começaram com um penalti favorável ao FC Porto, revertido pelo VAR, depois um penalti desperdiçado pelo Farense e, por fim (35 minutos), o golo que resultou de um erro de perda de bola do Farense, ainda no seu meio campo, e que deu segurança e estabilidade ao FC Porto, ao mesmo tempo que destroçou psicologicamente os algarvios. Por isso, sem surpresa, o FC Porto ainda fez o segundo golo antes do intervalo, num período em que era uma equipa que mandava totalmente no campo, abrindo um caminho que parecia tornar-se fácil para uma vitória que não parecia poder oferecer qualquer tipo de discussão.
Confiança, rigor, trabalho
A segunda parte parecia um despropósito. O FC Porto ganhava por dois golos de diferença, a equipa tinha um domínio evidente e o Farense parecia incapaz, naquelas circunstâncias tão desfavoráveis, de virar o jogo. Mas o futebol sempre foi inimigo de certezas antecipadas e a verdade é que o resultado voltou a estar em discussão depois de um novo penalti, desta fez convertido pelo Farense, quando ainda estava uma boa meia hora por jogar.
Voltou, então, o FC Porto a puxar dos seus principais trunfos. Em momentos de pressão, a equipa não se deixa levar por angústias e acredita numa verdade essencial. Sendo a melhor equipa, com melhores jogadores, basta-lhe confiar num final feliz, porque lhe irá bastar trabalhar pelo menos tanto como o adversário, cometer menos erros e matar o jogo pela diferença de qualidade.
É um segredo simples e que costuma resultar em benefício do FC Porto. Correr muito, lutar muito, ter personalidade e humildade em campo e ser competente no aproveitamento das oportunidades que irão surgir. Claro que, mesmo cumprindo esse lema, é sempre bom ter na equipa um goleador decisivo como é Evanilson. E tinha de ser dele o golo que resolveria o jogo em definitivo.
Um apontamento final para esta interessante equipa de José Mota. Tem a grande vantagem de ser realista e, perante um adversário que era mais forte, pensou bem o jogo e teve uma evidente ambição. Para fazer pontos, precisava de defender num rigor sem quebras e de ser bem sucedida num dos lances de ataque rápido que lançava. Não teve sucesso, mas teve intenção.