Quenda e o enorme Futre
Paulo Futre a passar por Brehme, na final da Taça dos Clubes Campeões Europeus de 1987, numa jogada que terminou com um dos mais memoráveis 'quase golos' da história da prova (Imago)

Quenda e o enorme Futre

'Hat trick' é o espaço de opinião semanal do jornalista Paulo Cunha

1 Paulo Jorge dos Santos Futre. Não tenho o dom de fixar nomes completos de pequenas, médias ou grandes figuras do futebol, mas o eterno esquerdino que ajudou a colocar o Montijo no mapa não se enquadra em qualquer daquelas categorias simplesmente porque é… enorme!

Desde que Roberto Martínez resgatou Geovany Quenda aos sub-21 para o duelo da Liga das Nações na Croácia, oportunidade para bater o recorde de mais jovem futebolista a representar a Seleção Nacional, o lateral/ala lançado por Ruben Amorim tornou-se protagonista numa história em que Futre esteve sempre presente. Afinal, um estava na iminência de bater, a 18 de novembro de 2024, aos 17 anos e 202 dias, o recorde que continua a pertencer ao outro selado há mais de 40 anos, a 21 de setembro de 1983, aos 17 anos e 205 dias.

Mais que qualificar a decisão de Roberto Martínez — Quenda devia ter sido utilizado, a forma como decorreu o encontro ante os croatas pedia a estreia para bem da equipa das quinas, o recorde seria apenas uma benesse colateral, mas, depois, o leãozinho precipitou-se na publicação nas redes sociais em que visa a decisão do selecionador — prefiro recordar a genialidade de Paulo Jorge dos Santos Futre em dois dos maiores quase golos de que me lembro. Explico: aqueles lances que ainda hoje acredito que vão terminar com a bola a balançar as redes quando revejo as imagens mesmo ciente de que é sonho impossível de concretizar.

27 de maio de 1987. Com o FC Porto a perder 0-1 frente ao Bayern, em Viena, na decisão da Taça dos Clubes Campeões Europeus, Futre pega na bola sobre a direita, passa por Pfluger, tabela com Jaime Magalhães, deixa nas covas Nachtweih e Brehme e só com Pfaff pela frente remata ao lado à entrada da pequena área descaído para a direita. Não entrou? Não acredito! «Foi uma jogada de génio com uma finalização de distrital», assim descreveu.

27 de junho de 1992. Em plano Santiago Bernabéu, frente ao Real Madrid, Futre liderou o Atlético de Madrid à conquista da Taça do Rei, triunfo por 2-0, noite mágica em que assinou o segundo golo após Schuster inaugurar o marcador. Os colchoneros por pouco não chegaram ao terceiro, incrível  desperdício de Moya, que, na pequena área, só com Buyo nos postes, atirou por cima. Um crime lesa-futebol depois de el portugés — seis épocas nos madrilenos em tempos que a Quinta del Buitre dos merengues e o Dream Team de Cruyff no Barça ditaram leis — ter feito o túnel do século a Chendo antes do passe que se julgava de morte. Não entrou? Não acredito!

Eusébio da Silva Ferreira, Luís Filipe Madeira Caeiro Figo e Cristiano Ronaldo dos Santos Aveiro são os nossos Bolas de Ouro. Em 1987, Paulo Jorge dos Santos Futre ficou atrás de Ruud Gullit na disputa do troféu de melhor do mundo e ainda hoje me custa a perceber porquê. Não ganhou? Não acredito!

 

2 Ruben Amorim estreia-se este domingo no comando técnico do Manchester United, em Ipswich, e na primeira conferência de imprensa, na sexta-feira, proferiu declaração para memória futura, a lembrar o célebre «e se corre bem?» de março de 2020, na apresentação em Alvalade:  «Sou um pouco sonhador e acredito em mim. Também acredito no clube porque acho que temos a mesma ideia, a mesma mentalidade, então isso pode ajudar. Mas acredito muito nos jogadores também, sei que vocês não acreditam muito nestes jogadores, mas eu acredito muito e acho que temos espaço para melhorar. Quero tentar coisas novas e vocês acham que não é possível, eu acho que é possível, veremos no final [quem tem razão]

Pep Guardiola, no Manchester City desde 2016, senhor de 18 títulos no clube, assinalou este sábado a renovação de contrato com os citizens, até 2027, ratificada durante a semana, com goleada de 0-4 sofrida na receção ao Tottenham. Após duelos marcantes com José Mourinho, em Espanha e Inglaterra, há um novo português a desafiar o catalão, nem que seja «jogo a jogo» como Amorim gosta de adormecer os adversários.

É a Premier League nas mãos de treinadores estrangeiros... Desde 1991/92, quando Howard Wilkinson liderou o Leeds United de Cantona ao título, que um inglês não guia uma equipa à conquista do campeonato de Inglaterra. Dois escoceses (Alex Ferguson e Kenny Dalglish) , um francês (Arsène Wenger), um português (José Mourinho), quatro italianos (Carlo Ancelotti, Roberto Mancini, Claudio Ranieri e Antonio Conte), um chileno (Manuel Pellegrini), um espanhol (Pep Guardiola) e um alemão (Jurgen Klopp) foram os timoneiros entretanto vencedores. Na atual edição da Premier, em 20 clubes, só três são orientados por ingleses: Eddie Howe (Newcastle), Sean Dyche (Everton) e Gary O'Neil (Wolverhampton).

 

3 Trezentos e setenta e seis dias depois de uma Assembleia Geral tão vergonhosa — e criminosa... — quanto importante na mudança de rumo do FC Porto, os dragões voltaram ontem, sábado, 23 de novembro, a reunir-se em reunião magna de associados, no mesmo palco. Descubra as diferenças...