O ‘mister’ de A BOLA do Real Sociedad-Benfica: foi melhor o resultado que a exibição
Rafa após o golo contra a Real Sociedad. Foto: IMAGO/AFLOSPORT
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Liga dos Campeões O ‘mister’ de A BOLA do Real Sociedad-Benfica: foi melhor o resultado que a exibição

NACIONAL09.11.202320:39

João Alves faz a análise do jogo entre a equipa basca e os encarnados

1. Erros Individuais

No primeiro golo da Real Sociedad, há um bloqueio feito pelo jogador da Real ao Aursnes, no pontapé de canto, em que o nórdico tinha de ser um pouco mais esperto nesta situação. 

Aos 8 minutos, Di María podia passar para os companheiros e tentou chutar com o pé direito, o que resultou num remate frouxo que o guarda-redes defendeu. O extremo desperdiçou por egoísmo.

No segundo golo, Florentino faz um passe para trás numa zona perigosa, e Otamendi não chegou lá. Pareceu-me erro de Florentino e também de Otamendi, que não me pareceu nas melhores condições físicas e foi muito lento a reagir à bola.

O terceiro golo surge aos 20 minutos, num momento em que João Neves está completamente desadaptado da posição. Viu-se perfeitamente na maneira como entrou no lance. O jogador não estava cómodo naquela posição.

Independentemente da parte coletiva, os golos da Real resultaram de lances individuais e erros de jogadores do Benfica, que tinham maturidade para fazer melhor. A Real fez uma exibição fantástica, mas teve também muito a ver com a maneira como o Benfica se pôs a jeito para aquilo ter acontecido.

João Alves em entrevista para a A Bola. Foto: ASF/Rui Raimundo

2. Triangulações e superioridade numérica

A Real criava desequilíbrios de 2 contra 1 nas faixas laterais, com o lateral e o extremo constantemente a criar superioridade numérica. Os bascos também construíam triângulos no meio-campo com o defesa lateral, o médio interior e o extremo a criarem superioridade em ambos os flancos: onde o Benfica tinha dois jogadores (Aursnes e João Mário de um lado, João Neves e Florentino no outro) a Real aparecia com três. Também na zona central a Real criava superioridade numérica, com os três médios da equipa basca a superiorizarem-se frente a João Mário e Florentino. Quando perdiam a bola pressionavam imediatamente, e a equipa posicionava-se muito bem, sólida, com os jogadores muito perto uns dos outros e com princípios de jogo muito simples. Ganhou em todas as zonas do campo contra todos os setores do Benfica.

Quando Florentino sai e entra Jurásek, a equipa melhorou ligeiramente. O Benfica começou a conseguir suster um bocadinho a Real Sociedad e a ser apanhado menos vezes em inferioridade numérica. Caso contrário, podia ter sido um resultado histórico. 

3. Oyarzabal e Zubimendi fizeram grandes jogos

O Oyarzabal fez parte de uma frente de ataque muito móvel, num sistema muito simples. O futebol é isso, deve ser simples e, às vezes, os treinadores complicam. O sistema de jogo da Real é do mais simples que há, sistemas padrões do 4x4x2 e 4x3x3, os sistemas mais utilizados no mundo do futebol. O da Real está muito bem treinado, um 4x3x3 muito sólido, onde este Oyarzabal jogou como ponta de lança móvel e tinha três jogadores constantemente a marcá-lo, que andavam à cabeçada por não o conseguirem fazer em condições. Evidentemente, faltaram jogadores noutras zonas do campo, e o Benfica começou a perder o jogo por isso, porque estavam os três centrais naquela zona a tentar marcar Oyarzabal mas, na verdade, não marcavam ninguém. O avançado fez um jogo que parecia o Pelé nos seus melhores dias. Jogou com muita liberdade e trocou as voltas aos centrais do Benfica. Todo o trio de avançados da equipa espanhola, com uma grande mobilidade e qualidade, jogou muito bem.

O Zubimendi [médio defensivo] tomou conta do jogo, ‘jogou a mais’, foi um maestro naquele meio-campo.

4. 3x4x3 é uma tática que dá muito trabalho

Estes sistemas de 3 centrais precisam de muito tempo para serem implementados. O sistema do Benfica não tem nada a ver com o do Sporting, que joga com dois alas ou um ala a ser lateral, ou médio-ala e lateral do lado contrário. Benfica jogou com 4 médios na zona do meio-campo, mas sem hábitos. Tanto Rafa como Di María, que são jogadores para jogarem soltos, andavam a marcar laterais e não têm características para isso. O que aconteceu foi que os pseudo-laterais do Benfica, Aursnes e João Neves, foram constantemente apanhados em situações de 2 contra 1.

O próprio Sporting, quando Amorim lá chegou, ficou em 4.º lugar. Nesta altura da época, querer alterar e passar para um sistema desses… é preciso que os jogadores tenham características para fazer esse tipo de jogo.

5. Conclusão

Quanto mais simples as coisas são, melhor funcionam. Os jogadores precisam das características certas para haver rendimento. Está na altura de a equipa técnica fazer uma reflexão, e que este jogo possa, no mínimo, servir para isso.