João Alves faz a análise do jogo entre a equipa basca e os encarnados
1. Erros Individuais
No primeiro golo da Real Sociedad, há um bloqueio feito pelo jogador da Real ao Aursnes, no pontapé de canto, em que o nórdico tinha de ser um pouco mais esperto nesta situação.
Aos 8 minutos, Di María podia passar para os companheiros e tentou chutar com o pé direito, o que resultou num remate frouxo que o guarda-redes defendeu. O extremo desperdiçou por egoísmo.
No segundo golo, Florentino faz um passe para trás numa zona perigosa, e Otamendi não chegou lá. Pareceu-me erro de Florentino e também de Otamendi, que não me pareceu nas melhores condições físicas e foi muito lento a reagir à bola.
O terceiro golo surge aos 20 minutos, num momento em que João Neves está completamente desadaptado da posição. Viu-se perfeitamente na maneira como entrou no lance. O jogador não estava cómodo naquela posição.
Independentemente da parte coletiva, os golos da Real resultaram de lances individuais e erros de jogadores do Benfica, que tinham maturidade para fazer melhor. A Real fez uma exibição fantástica, mas teve também muito a ver com a maneira como o Benfica se pôs a jeito para aquilo ter acontecido.
2. Triangulações e superioridade numérica
A Real criava desequilíbrios de 2 contra 1 nas faixas laterais, com o lateral e o extremo constantemente a criar superioridade numérica. Os bascos também construíam triângulos no meio-campo com o defesa lateral, o médio interior e o extremo a criarem superioridade em ambos os flancos: onde o Benfica tinha dois jogadores (Aursnes e João Mário de um lado, João Neves e Florentino no outro) a Real aparecia com três. Também na zona central a Real criava superioridade numérica, com os três médios da equipa basca a superiorizarem-se frente a João Mário e Florentino. Quando perdiam a bola pressionavam imediatamente, e a equipa posicionava-se muito bem, sólida, com os jogadores muito perto uns dos outros e com princípios de jogo muito simples. Ganhou em todas as zonas do campo contra todos os setores do Benfica.
Quando Florentino sai e entra Jurásek, a equipa melhorou ligeiramente. O Benfica começou a conseguir suster um bocadinho a Real Sociedad e a ser apanhado menos vezes em inferioridade numérica. Caso contrário, podia ter sido um resultado histórico.
Rafa marcou o golo e mostrou que, apesar de tudo, a Champions é para ele. Jurásek entrou ainda na primeira parte e teve impacto positivo na equipa. O resto foi mesmo tudo negativo
3. Oyarzabal e Zubimendi fizeram grandes jogos
O Oyarzabal fez parte de uma frente de ataque muito móvel, num sistema muito simples. O futebol é isso, deve ser simples e, às vezes, os treinadores complicam. O sistema de jogo da Real é do mais simples que há, sistemas padrões do 4x4x2 e 4x3x3, os sistemas mais utilizados no mundo do futebol. O da Real está muito bem treinado, um 4x3x3 muito sólido, onde este Oyarzabal jogou como ponta de lança móvel e tinha três jogadores constantemente a marcá-lo, que andavam à cabeçada por não o conseguirem fazer em condições. Evidentemente, faltaram jogadores noutras zonas do campo, e o Benfica começou a perder o jogo por isso, porque estavam os três centrais naquela zona a tentar marcar Oyarzabal mas, na verdade, não marcavam ninguém. O avançado fez um jogo que parecia o Pelé nos seus melhores dias. Jogou com muita liberdade e trocou as voltas aos centrais do Benfica. Todo o trio de avançados da equipa espanhola, com uma grande mobilidade e qualidade, jogou muito bem.
O Zubimendi [médio defensivo] tomou conta do jogo, ‘jogou a mais’, foi um maestro naquele meio-campo.
Há uma equipa até final de março e outra de março para cá: exibições servem de barómetro, mas os números servem de prova, conheça-os
4. 3x4x3 é uma tática que dá muito trabalho
Estes sistemas de 3 centrais precisam de muito tempo para serem implementados. O sistema do Benfica não tem nada a ver com o do Sporting, que joga com dois alas ou um ala a ser lateral, ou médio-ala e lateral do lado contrário. Benfica jogou com 4 médios na zona do meio-campo, mas sem hábitos. Tanto Rafa como Di María, que são jogadores para jogarem soltos, andavam a marcar laterais e não têm características para isso. O que aconteceu foi que os pseudo-laterais do Benfica, Aursnes e João Neves, foram constantemente apanhados em situações de 2 contra 1.
O próprio Sporting, quando Amorim lá chegou, ficou em 4.º lugar. Nesta altura da época, querer alterar e passar para um sistema desses… é preciso que os jogadores tenham características para fazer esse tipo de jogo.
Águias fazem contas a 33 milhões de euros a menos do que em 2022/23. Segunda prova europeia pode ajudar a compor a receita, mas os prémios são incomparáveis.
5. Conclusão
Quanto mais simples as coisas são, melhor funcionam. Os jogadores precisam das características certas para haver rendimento. Está na altura de a equipa técnica fazer uma reflexão, e que este jogo possa, no mínimo, servir para isso.