Opinião Rui Águas: Munique é para valentes

OPINIÃO06.11.202410:00

Gerir competições e prioridades são exercícios nada fáceis de resolver

O Estádio de São Luís foi durante muito tempo sinal de dificuldade e dúvida para os visitantes, mesmo os mais pintados. Há muitos anos, já o espesso bigode do famoso espanhol Paco Fortes, jogador e mais tarde treinador local, atormentava quem chegava. Como se sabe, contra este encanto local histórico, a modernidade trouxe outras prioridades que não aquelas que faziam do estádio farense um clássico da resistência dos pequenos frente aos nobres visitantes, tantas vezes foram postos em causa.

No meu caso as recordações de lá não são as melhores. Não me lembro que lá tenha sido especialmente feliz. Ao contrário, foi lá que sofri a única sanção disciplinar da minha carreira. Para quem se lembra, havia uma espécie de VAR que analisava os vídeos e castigava os intervenientes, mas depois dos jogos. Foi algo que durou pouco, mas eu fui um dos poucos premiados com essa inovação. Coisas do século passado...

Voltando ao presente, os calendários apertados obrigam o Benfica a olhar também para a frente. Taça da Liga e campeonato a ter que ganhar, e Liga dos Campeões para sonhar. Gerir competições e prioridades são exercícios nada fáceis de resolver, em que os ses e dúvidas se amontoam na cabeça de quem tem de decidir.

Quando falamos de algum jogo que passou e se diz que foi tremido, é certo que traduz alguma insegurança mostrada, mas resulta de mais uma jornada vencida, mesmo encaixada entre um Santa Clara e um Bayern, em tudo diferentes.

A exibição não foi das melhores, naquilo que pareceu ser um ensaio para Munique, em função da constituição do meio campo reforçado com Florentino. Ensaiar ganhando era o que se exigia...

Foi um jogar pensando no próximo, o que por vezes se torna perigoso mas difícil de evitar, num estádio estranhamente despido de publico, contrariando a expectativa dos organizadores e a habitual forte adesão de adeptos do Benfica.

Faro é passado e agora em Munique é para valentes e fazer aquilo que nunca foi feito. A cautela de braço dado com a personalidade pode resultar.

Amorim

Ruben Amorim, independentemente dos clubes que representou ou representará, constitui um fenómeno que ficará na nossa história da bola.

Um modelo de treinador original mas simples. Um personagem diferente com uma clareza rara no discurso e um humor que fará falta no nosso meio.

Um verdadeiro achado para liderar e revirar clubes históricos em continuadas dificuldades. A primeira prova foi bem cumprida e com distinção, em território nacional. À partida para uma nova empreitada no exterior, que podemos considerar ainda de maior exigência, acredito muito que consiga repetir o êxito alcançado. Se existem figuras unânimes no nosso meio futebolístico, este é o homem e com toda a justiça.

Banco

Ainda há demasiada que gente acha que os melhores treinadores são aqueles que mais esbracejam e gritam no banco. Ao contrário, essa é, tão somente, a expressão da natureza da pessoa e que muitas vezes também retrata a respetiva fraqueza e insegurança, não representando qualquer mais valia que se conheça. Bem sei que é um comportamento populista que alguns apreciam mas, ao correr ao longo da linha mais do que o seu extremo, os misteres-atletas contribuem mais para o colorido do espetáculo do que para qualquer orientação tática da sua equipa.

Já Lage tem um bom equilíbrio e controlo entre a análise tranquila com os seus assistentes, a conversa com alguns jogadores quando alguma paragem o permite e alguma efusividade estratégica quando é necessária mais energia.

Ainda falando de treinadores e dos bons, Luís Freire, do Rio Ave, foi recentemente demitido do seu cargo após um empate caseiro. Era o treinador com mais tempo de permanência num clube da Liga, o que diz bem da sua capacidade e influência.

Luis Freire é um caso infelizmente raro, de quem progride pela sua competência e mérito. Alguém que começou nas divisões inferiores, se evidenciou e subiu até ao nosso principal campeonato pelos resultados conseguidos. Uma raridade e um exemplo a seguir.