O 'mister' de A BOLA do Estoril-Benfica: Vitória feliz
Roger Schmidt, treinador do Benfica (Maciej Rogowski/IMAGO)
Foto: IMAGO

O 'mister' de A BOLA do Estoril-Benfica: Vitória feliz

NACIONAL08.10.202316:43

Jorge Castelo coloca várias questões a respeito de mais uma exibição muito apagada dos encarnados

1. Propensões. Poderá parecer estranho começar esta análise do jogo G.D. Estoril x S.L. Benfica, entendendo o que são as propensões, as quais são inerentes a qualquer ser humano. Sendo definidas como tendências que cada indivíduo assume, para tomar decisões, utilizando o mesmo padrão decisional e motor, na resolução de problemas semelhantes. Esta circunstância, deriva do facto de o cérebro automatizar o que lhe é familiar. Sendo mais eficaz e preciso, em cada momento. Logo que existam condições propiciadoras, cada indivíduo, decide/age segundo um determinado padrão. Contudo, quando as condições são diferentes, parece existir uma cegueira a novas decisões, não se percepcionando o que realmente se deve realizar para mudar. 

2. Investigações. Allan Snyder da Universidade de Sydney, através de experiências, induz o cérebro da pessoa testada a automatizar um padrão decisional, utilizando sequencialmente 23 equações diferentes, as quais são resolvidas da mesma forma. À 24.ª e última equação, embora comparativamente mais simples de resolução que as restantes, apresenta na prática uma maior dificuldade, em virtude de se ter estabelecido anteriormente uma propensão decisional. Deste modo, uma parte significativa dos indivíduos testados não conseguem resolver a equação. Perante tal incapacidade, o investigador faz passar uma corrente eléctrica de baixa voltagem, utilizando uma touca na cabeça do indivíduo testado, de modo a inibir uma parte do cérebro, em participar na solução da equação. Após alguns minutos de aplicação da referida corrente eléctrica, o indivíduo rapidamente encontra a solução do problema. Este investigador refere que para se ser mais criativo e capaz de resolver problemas, importa inibir parte do cérebro a participar na solução. É a sua opinião.

O resultado final de uma partida é sempre justo, seja este conseguido sem margem para dúvidas ou ter um final feliz. Mas também conta, a qualidade de jogo evidenciada

3. Decisões. Na verdade todos os treinadores, jogadores e demais atores do espetáculo detêm um conjunto de propensões para observar, analisar e interpretar o jogo. As diferenças entre estes situam-se nas experiências, competências e conhecimentos que os diferentes elementos desenvolvem na preparação e no desenvolvimento da competição, em função das qualidades e competências dos jogadores de que dispõem. Mas os treinadores nem sempre estão certos, nem sempre têm razão e, equivocam-se em determinadas situações. Existe, por vezes, como que uma cegueira a novas alternativas, não se percepcionando o que realmente o jogo exige, durante o seu desenvolvimento. Evidentemente, que não se advoga, tal como na experiência descrita, a utilização de uma touca na cabeça do treinador, passando uma corrente de baixa voltagem, de modo a inibir certas propensões enraizadas, o torna mais criativo e hábil ajudando os jogadores a resolver problemas. Quando se refere pensar fora da caixa, tal não é possível, pois, fora do cérebro, nada existe. O que existe é pensar-se de outra forma. O resultado final de uma partida é sempre justo, seja este conseguido sem margem para dúvidas ou ter um final feliz. Mas também conta, a qualidade de jogo evidenciada. Pois, quanto maior for essa qualidade, a equipa estará mais perto da vitória, o que não significa que tal sempre aconteça. 

4. Campeões. Após um jogo da Liga dos Campeões nem sempre é fácil o jogo seguinte. Especialmente quando a segunda parte dessa partida de quarta-feira foi muito difícil para o S.L. Benfica, determinando uma derrota que até poderia ter sido mais ampla. As várias alterações efetuadas para o jogo no Estoril não tiveram o efeito que Schmidt perspetivara. Processo ofensivo em que cada jogador efetuava demasiados toques na bola por intervenção, insistência no jogo interior, muitos passes errados, frequentes perdas de bola, frágil reação à perda. Contudo, criou algumas oportunidades para atingir o golo. Mas tais oportunidades surgiram, preferencialmente, no jogo em profundidade, em virtude do sector defensivo do Estoril se posicionar bem subido no terreno de jogo, assumindo ter de dialogar com essas situações. E, quando era necessário baixar o bloco criava uma elevada densidade de jogadores nas zonas de finalização. Apesar de maiores tempos em cada fase defensiva, o Estoril Praia jamais perdeu a noção de atacar através de um jogo simples, com saídas bem desenhadas para o contra-ataque e ataque rápido. Colocando em dificuldade os poucos jogadores do S.L. Benfica que conseguiam acompanhar a velocidade dos adversários. Aproveitando, também, a enorme facilidade como Guitane, Koindredi e outros passando pelo meio-campo adversário como este não existisse. Sendo uma partida entre o 2.º e último lugar na classificação, não se demonstrou, de maneira nenhuma, a existência de um diferencial de 14 pontos.

Por fim, fica na memória a imagem televisiva de Rui Costa mantendo-se sentado no seu lugar após o jogo no Estoril. Com toda a certeza entendeu que a equipa não está no seu melhor, não rendeu o que deveria render, passou por muitas dificuldades.

5. Reflexões. Desta partida e de outras já realizadas, fica na curta memória em que os sucessivos jogos são disputados, um conjunto de afirmações importantes. Roger Schmidt referiu que este ano o S.L. Benfica não terá uma tarefa tão «desafogada» como na época anterior, apesar de ter um plantel de melhor qualidade. Referiu após o jogo «não interessa como se ganha, interessa ganhar». Tal afirmação evidenciará, com alguma certeza, que certos conceitos de jogo, altamente apreciados na época anterior não estão a ser operacionalizados. Refere-se à forte reação à perda da bola, um processo ofensivo com mira na baliza adversária. Uma eficiência de jogo que não produzia ações individuais redundantes e uma eficácia que colocava os adversários, na maioria das situações de jogo em sub-rendimento. Poder-se-á questionar se Schmidt alterou a sua ideia de jogo ou os jogadores não estão a conseguir acompanhá-la? Porquê continuar a realizar substituições aos 69, 77 e 86 minutos de jogo, quando se verifica que alguns jogadores não evidenciam um rendimento top? Quanto pesa a sombra do S.L. Benfica ter zero pontos e zero golos na Liga dos Campeões? Porventura tais questões não poderão ser colocadas, pois ninguém conseguirá uma resposta objetiva. Por fim, fica na memória a imagem televisiva de Rui Costa mantendo-se sentado no seu lugar após o jogo no Estoril. Com toda a certeza entendeu que a equipa não está no seu melhor, não rendeu o que deveria render, passou por muitas dificuldades. A realidade, por vezes é simples de percepcionar, os três pontos foram conseguidos aos 93’ (a marcar) e aos 98’ (a evitar um remate para golo).