Na lição suíça faltou a aula de como travar um ‘panzer’ (crónica)
Momento em que a bola cabeceada por Fulkrug entra na baliza da Suíça (Foto: IMAGO)

Suíça-Alemanha, 1-1 Na lição suíça faltou a aula de como travar um ‘panzer’ (crónica)

INTERNACIONAL23.06.202422:59

Helvéticos mostraram como se pode parar os anfitriões do Europeu; Nagelsmann teve de recorrer ao plano B; Xhaka, que jogo!

Um golo salvador aos 90+2’ de Fullkrug evitou a derrota da Alemanha em casa num jogo que expôs algumas debilidades do anfitrião deste Euro 2024 e que podem começar a ser estudadas pelos grandes candidatos ao troféu, como Portugal, porque é a partir de agora que isto começa a apertar.

Quem não caça com falsos pontas de lança caça com um panzer, ou outra forma de dizer que desta vez o ataque móvel da Alemanha sem um ponta de lança fixo não funcionou e foi necessário recorrer ao possante avançado do Dortmund para dar um ponto e garantir o primeiro lugar aos germânicos, num lance construído a partir do banco: cruzamento do lateral-esquerdo Raum e finalização de cabeça de Fullkrug, que tinha Rudiger nas suas costas, também pronto para finalizar.

Foi um castigo pesado para uma Suíça muito bem organizada, que mostrou o que é defender bem sem jogar com linhas demasiado fechadas, apostando a sua estratégia numa enorme pressão sobre o portador da bola e excelente capacidade de desdobramento no momento em que recuperava a bola, tudo isto sob orientação de Xhaka, ora com bola ora com gestos, qual maestro, mostrando aos colegas o que fazer e onde estar. Um líder.

Mas se o jogador do Leverkusen tinha a batuta, Ndoye e Embolo tocavam os instrumentos de maior sonoridade, daqueles capazes de por um lado calar a plateia maioritariamente composta por alemães e por outro fazer gritar os suíços de emoção. Principalmente estes dois foram verdadeiros terrores para Rudiger e Tah, tantas vezes apanhados em igualdade numérica porque Murat Yakin descobriu como ferir a Alemanha: marcação agressiva sobre Musiala e aproveitar as zonas descobertas pelas constantes subidas de Kimmich.

Foi assim que nasceu o 1-0: Musiala, até aí o melhor jogador jogador dos germânicos, perdeu a bola e numa transição rápida, feita a dois tempos, Freuler (outro gigante a meio-campo) cruzou para o desvio em antecipação a Neuer de Ndoye.

O golo causou dano e trouxe uma dose de confiança merecida para a Suíça, que na segunda parte aumentou os níveis de agressividade na pressão e em zonas mais altas, obrigado a Alemanha a cometer muitos erros no primeiro terço que poderiam ter sido melhor aproveitados. O 2-0 esteve omnipresente em muitas ocasiões, o que deixaria a equipa da casa no segundo posto no grupo e o ego contraído.

Tal não aconteceu porque um dos lances foi concluído com golo em fora de jogo e porque Manuel Neuer voltou a mostrar que dentro dos postes continua a ser um dos melhores do mundo, defendendo um remate em arco de Xhaka aos 88’ com uma daquelas paradas que ficarão gravadas na história deste Europeu. Um monumento e também um sinal aos colegas de que se a Alemanha não tinha caído aí poderia talvez acreditar no empate, um episódio que trouxe alguns sorrisos mas que cria algumas dúvidas sobre o plano A de Julian Naggelsmann. Sorte que tem um goleador sempre à espera de ser protagonista num guião alternativo.