A BOLA NO EURO 2024 Lágrimas, despedidas, sorrisos e balanço: o Euro (até) 24
Os números que ligam figuras e momentos do torneio disputado na Alemanha. Da campanha portuguesa à glória espanhola: o balanço do Campeonato da Europa
De 1 a 24, A BOLA agarrou-se aos números para destacar figuras e momentos que marcaram a edição deste ano do Campeonato da Europa. Da surpresa georgiana à glória espanhola, sem esquecer a campanha portuguesa. Do jovem Lamal ao retirado Kroos, sem roubar destaque a Rodri, o melhor do torneio agora fechado para balanço.
1. Onde tudo começa. O Campeonato Europeu promoveu várias estreias, mas a nota de maior destaque vai para a Geórgia. Disputou o torneio pela primeira vez, e não só conseguiu somar o primeiro ponto, diante da Chéquia, como surpreendeu o mundo do futebol ao conquistar uma vitória histórica na última jornada da fase de grupos, logo frente a Portugal. Um resultado que permitiu a passagem aos oitavos de final, onde até esteve a ganhar à Espanha, para acabar goleada. Uma bela campanha da equipa treinada pelo francês Willy Sagnol, merecidamente recebida em festa no regresso a casa.
2. A soma de pai e filho. Ao marcar o golo da vitória de Portugal sobre a Chéquia, já em período de compensação do encontro da jornada inaugural do F, disputado em Leipzig, Francisco Conceição deu continuidade a uma tradição familiar do Campeonato da Europa. Pela segunda vez na história do torneio, um filho imitou o pai ao marcar na fase final. Enrico e Federico Chiesa foram os primeiros (1996 e 2020), e agora Francisco seguiu aquilo que Sérgio Conceição tinha feito em 2000 - por três vezes.
3. O número da camisola de Pepe, que despediu-se do Campeonato da Europa em lágrimas, aos 41 anos e 130 dias de idade. Tornou-se o jogador mais velho de sempre a disputar a competição, superando o antigo guarda-redes húngaro Gabor Király (40 anos e 86 dias de idade). No que diz respeito a jogadores de campo, o anterior recorde pertencia ao alemão Lothar Matthaus, que retirou-se, em 2000, com 39 anos e 91 dias de idade. Três foi também o número de penáltis que Diogo Costa defendeu nos oitavos de final, no desempate em que Portugal eliminou a Eslovénia. Algo inédito na história do torneio, até porque Diogo Costa não sofreu qualquer golo nessa decisão na marca de 11 metros. Exibição inesquecível.
4. O número de títulos continentais da Espanha. É agora a seleção que mais vezes conquistou o Campeonato da Europa, distanciando-se da Alemanha, anfitriã desta edição, que eliminou nos quartos de final. Três destas conquistas surgiram já no século XXI – para além de um Mundial e de uma Liga das Nações -, como resultado da definição de uma identidade que agora souberam atualizar, mesmo depois de um período conturbado na federação. Reis da Europa!
5. A anfitriã Alemanha entrou em prova com pujança, ao golear a Escócia por 5-1. Desde a edição inaugural, em 1960, quando a Jugoslávia bateu a França por 5-4, que ninguém marcava cinco golos no primeiro encontro. A equipa de Julian Nagelsmann venceu o grupo e caiu de pé, nos quartos de final, eliminada pela Espanha no prolongamento. O selecionador alemão emocionou-se ao fazer o balanço da participação na prova, vista como honrosa pelos adeptos locais.
6. O número de finais perdidas por Harry Kane. O capitão da Inglaterra tinha dito, na antevisão da final, que trocava todos os títulos individuais pela conquista do Campeonato da Europa, mas deixou Berlim com o prémio de melhor marcador do torneio – partilhado com mais cinco jogadores -, e não com a Taça Henri Delaunay. Continua sem troféus coletivos no palmarés, e já com seis finais perdidas: duas da Taça da Liga inglesa e uma da Liga dos Campeões, pelo Tottenhem, uma Supertaça da Alemanha, ao serviço do Bayern de Munique, e esta foi a segunda decisão do Campeonato da Europa em que saiu derrotado.
7. Cristiano Ronaldo bateu mais um recorde, ao tornar-se o primeiro jogador a participar em seis fases finais de Campeonatos da Europa – mais uma do que Pepe e Modric -, mas desta vez sem golos marcados. Foi altruísta na assistência para Bruno Fernandes, frente à Turquia, mas não confirmou os sinais positivos deixados na qualificação e nos jogos do Al Nassr. Nunca pode ser visto como responsável único, mas o legado faz com que seja o primeiro nome apontado para lamentar que a Seleção tenha sido eliminada, nos quartos de final, após 364 minutos sem marcar.
8. O número da camisola de Toni Kroos, tanto no Real Madrid como na Alemanha. O Euro 2024 marcou o adeus de vários jogadores às respetivas seleções, mas no caso de Kroos foi um ponto final na carreira, anunciado antecipadamente. Mostrou no torneio que tinha capacidade para continuar a dar lições de bem jogar, para lá dos 34 anos, mas decidiu que era o momento de parar. Por certo imaginou uma despedida como campeão europeu, mas quis o destino que o último jogo fosse diante da seleção de Espanha, país onde jogou os últimos dez anos de carreira. Ao sair de campo teve direito a vénias de colegas de clube e adversários que aprenderam a respeitá-lo.
9. Entre Europeus e Mundiais, a França já soma nove torneios em que não consegue vencer o último jogo da fase de grupos. Desta vez o empate com a Polónia ditou a queda para o segundo lugar do Grupo D, o que aumentou o peso de um dos lados do caminho até à final. Esse foi um dado importante deste torneio, e Portugal que o diga, que acabou eliminado nos quartos de final pela seleção gaulesa, que caiu na ronda seguinte, frente a Espanha.
10. Luka Modric, o eterno 10 da Croácia, tornou-se o mais velho de sempre a marcar num Campeonato da Europa. Contava 38 anos e 289 dias de idade quando marcou à Itália, na última jornada do Grupo B, superando assim o registo do austríaco Ivica Vastic, que tinha 38 anos e 257 dias de vida quando marcou à Polónia, em 2008. O golo de Modric só deu para um empate da Croácia, que assim acabou eliminada na fase de grupos. Tornou-se viral a imagem do médio a receber o prémio de melhor em campo com um ar desolado, mas na conferência de imprensa ainda ouviu um jornalista pedir-lhe que nunca se retire.
11. É o recorde de autogolos numa edição do Europeu, fixado na edição disputada em 2021. Parecia que esse registo ia cair agora, em 2024, tendo em conta que, só na fase de grupos, já tinham sido apontados sete golos na própria baliza, mas só foram contabilizados mais três na fase a eliminar, para um total de 10.
12. Este é agora o número de jogadores que conseguiram juntar a conquista do título europeu de clubes e de seleções no mesmo ano. Dani Carvajal e Nacho festejaram duplamente, pelo Real Madrid e pela seleção espanhola, e juntam-se assim a um lote que já tinha Luis Suárez (Inter e Espanha, 1964), Hans van Breukelen, Ronald Koeman, Berry van Aerle e Gerald Vanenburg (PSV e Holanda, 1988), Fernando Torres e Juan Mata (Chelsea e Espanha, 2012), e também Jorginho (Chelsea e Itália, 2020), sem esquecer Cristiano Ronaldo e Pepe, que em 2016 juntaram a conquista da Liga dos Campeões, pelo Real Madrid, ao Euro 2016 arrecadado por Portugal.
13. O número de jogos que o francês N’Golo Kanté acumulou, sem perder, em Campeonatos da Europa. Um recorde batido frente a Portugal, nos quartos de final, e finalizado pela Espanha na ronda seguinte. Curiosamente, 13 é também o novo recorde de jogos sem perder no torneio de um selecionador, fixado por Gareth Southgate, ao levar a Inglaterra a nova final.
14. Embora a seleção dos Países Baixos tenha ido até à meia-final, o futebol praticado pela equipa de Ronald Koeman ficou muito aquém do legado deixado por Cruyff (entre outros). Mas o melhor elemento da seleção laranja teve a responsabilidade de envergar a camisola 14: Tijjani Reijnders, que vai agora ser treinado no Milan por Paulo Fonseca, fez um grande torneio.
15. Mais um dado que comprova a superioridade espanhola no Euro 2024: marcou 15 golos, um novo recorde para a competição, superando os 14 que a França tinha somado para a conquista do título em 1984. A equipa de Luis de la Fuente venceu os sete jogos disputados – sem necessidade de desempate por penáltis -, algo inédito também na história do torneio.
16. A camisola de Rodri, eleito melhor jogador do Euro 2024. Outros jogadores da seleção espanhola eram igualmente dignos da distinção – desde logo Fabián Ruiz e Dani Olmo, colegas de tridente - mas o jogador do Manchester City é um justíssimo vencedor, não só pelo rendimento no torneio, mas também pelo patamar para o qual conseguiu levar a carreira, aos 27 anos. Um mestre na interpretação do jogo.
17. Foi a idade com que Lamine Yamal conquistou o título europeu, e que completou na véspera da final, mas o prodígio espanhol começou a bater recordes logo no arranque do torneio. Tratou logo de bater o recorde de jogador mais novo a participar na prova – 16 anos e 338 dias -, depois o mesmo registo, mas aplicado à fase a eliminar, mais tarde o mais novo a marcar em Campeonatos da Europa – com o golaço à França -, e ainda o mais novo a disputar a final, destronando o português Renato Sanches (2016). Para além do título europeu, ainda levou para casa o troféu de melhor jovem do Euro 2024, mas ainda ameaçou o estatuto de melhor jogador em absoluto. Impressionante como concilia a qualidade técnica com noção tática e clarividência na decisão.
18. Na última jornada da fase de grupos, o alemão Manuel Neuer tornou-se o guarda-redes com mais jogos disputados em fase finais de Europeus – 18, precisamente - superando o italiano Gigi Buffon. Depois disso ainda fez mais dois encontros.
19. Arda Guler retirou um recorde a Cristiano Ronaldo, ao tornar-se o jogador mais jovem de sempre a marcar na estreia em Campeonatos da Europa. Tinha 19 anos e 114 dias quando fez o golo à Geórgia, e foi uma das figuras da bela campanha turca, concluída nos quartos de final.
20. Jude Bellingham não conseguiu levar o troféu para casa, e ficou aquém do rendimento apresentado ao longo da época, no Real Madrid, mas, ainda assim, tornou-se o mais jovem de sempre a disputar duas fases finais, já que entrou na edição 2024 com 20 anos e 353 dias de idade.
21. O número da camisola do novo herói espanhol. Mikel Oyarzabal substituiu o capitão Álvaro Morata na segunda parte da final de Berlim e apontou o golo que deu o título europeu à seleção espanhola. Um momento que reforça a importância de ter profundidade nas opções, e que simboliza também a relevância das equipas bascas na conquista, se pensarmos na influência de Unai Simón, Robin Le Normand, Nico Williams e Mikel Merino, para além de outros menos utilizados.
22. A surpreendente campanha da Geórgia teve vários protagonistas, mas Georges Mikautadze, o dono da camisola 22, terá sido aquele que mais saiu valorizado, e a prova disso são as notícias que falam de uma transferência a rondar os 25 milhões. O guarda-redes Giorgi Mamardashvili também brilhou, mas já tem outra projeção internacional, tal como Kvaratskhelia.
23. É a conta, ao segundo, do golo mais rápido da história dos Campeonatos da Europa. Foi marcado pelo albanês Nedim Bajrami – aos 23 segundos, portanto – no jogo contra a Itália. Até aqui o melhor registo pertencia ao russo Dmitri Kirichenko, que em 2004 só precisou de 67 segundos para marcar à Grécia. Esse é agora o terceiro golo mais rápido dos Europeus, uma vez que foi ultrapassado também pelo tento apontado pelo turco Merih Demiral aos 57 segundos do jogo com a Áustria, dos oitavos de final.
24. O Euro 2024 terminou, e o incontornável balanço tem de ser positivo. A UEFA tem de repensar a relação com a comunicação social, mas essa é uma temática que já foi abordada por aqui, noutros espaços destas páginas. No que diz respeito à organização, numa perspetiva mais ampla, tudo decorreu sem problemas de maior, e isso não é um detalhe, sobretudo se lembrarmos os problemas da final de 2021.