«Jogo a mais para árbitro a menos...», a crónica do Farense-Sporting
Sporting teve o jogo controlado e depois perdeu-se; bravíssimo Farense não merecia aquele Godinho; intensidade altíssima no S. Luís
Num jogo disputado em ritmo alucinante, será justo dizer que o Sporting, que construiu um dezena de ocasiões de golo, contra três do adversário, não mereceu os três pontos? Se o futebol fosse apenas estatística, os leões de Alvalade tinham goleado em Faro. Como é, felizmente, muito mais do que isso, subsistem dúvidas, alimentadas por um desempenho desastrado da equipa de arbitragem, que depois de não ver um segundo cartão amarelo do tamanho do Everest a Hjulmand (42), decidiu-se por considerar faltoso, aos 87 minutos, um lance sobre Edwards, na grande área do Farense, em que o avançado inglês arrastou o pé até tocar em alguém. Luís Godinho apitou para os onze metros — e daí seria decidida a partida — perante o mutismo de Manuel Mota, que no VAR devia ter esclarecido o seu companheiro, árbitro de campo. Se a isto juntarmos algumas dúvidas na expulsão de Gonçalo Silva (era golo iminente, ou Ricardo Velho estava em linha para defender a bola?) e um livre absurdo assinalado a Nuno Santos, que viria a resultar no segundo golo do Farense, vemos como um mau trabalho da equipa de arbitragem inquinou 90 minutos de futebol disputado com altíssima intensidade. E embora a equipa da casa tenha mais razões de queixa, não terá sido subserviência ao clube de maior dimensão a explicar o flop de Luís Godinho, mas a incapacidade de se recompor perante as dúvidas que as próprias decisões lhe geraram. Nunca esteve tranquilo, viveu sobre brasas e não esteve à altura daquilo que lhe foi pedido. Há noites assim, que não podem, contudo, ser branqueadas. Sem responsabilização não há evolução.
Grande noite de José Mota
O Sporting apresentou-se no seu figurino habitual, que foi desmontado, mesmo em inferioridade numérica (a partir dos 18 minutos), por José Mota. O experiente treinador tratou de fechar as alas, obrigando o Sporting ou a afunilar o jogo, ou a cruzar sem grandes possibilidades de sucesso, o que tornou a equipa de Rúben Amorim demasiado previsível. Mesmo com dez, com Marco Matias a fazer de falso defesa esquerdo sempre que Talocha tinha de jogar mais pelo meio, e Matheus Oliveira a encher o campo, o Farense manteve-se organizado e agressivo, nunca se rendendo, apesar do 0-2 que chegou a ver no marcador.
No segundo tempo, já que Luís Godinho não expulsou Hjulmand, Amorim aproveitou para tirá-lo, colocando Paulinho ao lado de Gyokeres e fazendo recuar Pedro Gonçalves (autor de um golo à Pote, aos 35 minutos). Resultou mal a mudança, porque perante o posicionamento em largura dos algarvios, Paulinho foi pisar a zona de Gyokeres, levando o sueco a procurar outros terrenos. Aliás, foi de Paulinho a melhor ocasião dos leões, aos 69 minutos, quando após cruzamento de Nuno Santos, cabeceou com selo de golo para defesa extraordinária de Ricardo Velho. O_Farense, que se manteve, até aos 83 minutos, com um 4x4x1 muito elástico, só decidiu assumir uma defesa a cinco aos 83 minutos, quando entrou Muscat, e as forças já começavam a faltar.
Do lado do Sporting, que tinha muito cedo perdido, por lesão, Coates, normalmente o bombeiro de serviço para as partes finais dos jogos quando é preciso apostar no jogo aéreo, Amorim tentou dar mais qualidade à ala direita trocando Esgaio por Catamo, sem grande resultado, porque se ao nazareno falta imaginação, ao moçambicano falta continuidade, e mesmo a entrada tardia de Daniel Bragança pouco mexeu com o jogo, embora não deixasse de apertar o garrote a meio-campo sobre o Farense, que pouco antes (81 minutos) tinha conseguido arranjar espaço para Matheus Oliveira ameaçar o hat trick, com uma meia-distância bem defendida por Adán. A noite só seria desbloqueda pela iniciativa de Edwards, que Luís Godinho considerou travada em falta. O_Sporting terminou a sétima jornada na liderança da Liga, e o Farense foi lamber as feridas, com a certeza de que a jogar assim continuará de primeira.