José Mota revoltado: «Quanto mais VAR, menos acertamos.»
José Mota, treinador do Farense Foto: SC Farense

José Mota revoltado: «Quanto mais VAR, menos acertamos.»

FUTEBOL01.10.202300:14

Declarações do treinador do Farense na sala de imprensa do Estádio São Luís, em Faro, após a derrota (2-3) com o Sporting

- Considera este resultado justo?

«Os resultados são sempre justos. Quando neste caso, o adversário fez três golos e nós só fazemos dois. Portanto, ganha justiça exatamente o resultado. Agora temos de ter uma avaliação muito forte sobre estes 98 minutos e perceber o porquê de termos sofridos três golos, o porquê de só termos marcado dois golos, o porquê de termos terminado o jogo com 10. E há muitos porquês neste jogo. Nós defrontámos uma grande equipa, que ainda não perdeu esta época, muito bem orientada, com excelentes executantes. Sabíamos que teríamos de estar com um nível de concentração elevadíssimo, ser rigorosos nas marcações e transportar para o jogo a estratégia delineada, dificultando quando o adversário tinha bola, sabendo do momento de recuperar bola, das nossas transições. Nos primeiros 15/20 minutos, o Sporting não criou situações de perigo, mas teve muita bola. Dominou o jogo, tentou jogar muito pelo meio, onde estávamos precavidos para esses momentos, onde é forte e tem jogo interior forte.  Conseguimos a partir desse momento ser uma equipa mais equilibrada e organizada. Numa transição, em que poderá existir falta sobre o Fabrício, origina o penálti. Jogar com 11 é difícil, com 10 é quase impossível com o Sporting. Mas calma, que não há impossíveis. E por que não há impossíveis? Porque veio aí a coragem de uma equipa e de jogadores que se sentiram algo injustiçados. Quando o povo se sente injustiçado, quando dói na alma, muitas vezes conseguem superar-se. 

A partir dai, há um momento crucial, o golo do Sporting e, posteriormente, uma falta que existe para segundo amarelo para um jogador do Sporting [Hjulmand]. E não sei porquê, ninguém sabe porquê, não é assinalada falta nem é mostrado segundo amarelo. Nós todos percebemos que isto é o nosso futebol. Lamentamos todos os dias que há 3 ou 4 equipas no nosso campeonato, que no final ficam a 30 pontos do quinto… O nosso campeonato não é fraco. Este jogo não foi um jogo fraco. Eu sei que já esta época tive exatamente este tipo de dualidade de critérios. Para perceberem [que o segundo amarelo] era merecido, O o Rúben Amorim ia fazer logo uma alteração para tirar o jogador. Gostava que o jogo tivesse 10 para 10, aí era uma questão de justiça. Nem falo das grandes penalidades, aí já se sabe como é. Quanto mais VAR, menos acertamos.

Fizemos o 2-1, sentimos a dor, a dor que o povo sente quando está a ser sacrificado, fomos à procura e conseguimos o 2-2. Não me recordo do Sporting, a vencer por 2-0, a jogar contra 10, e permitir o empate do adversário. Não me recordo. Isto é de realçar o que o Farense fez. Ainda tivemos uma bola de golo do Zé Luís, que podia e merecia ter feito melhor. Com 2-2, teríamos de ir buscar forças não sei aonde. Mas conseguimos uma forma de estar no jogo, que o Sporting estava mesmo muito preocupado. Só com cruzamentos é que o Sporting estava a conseguir lá chegar. E nós sabemos que os cruzamentos beneficiam sempre mais os defesas. O Sporting não estava a conseguir entrar, estava extremamente difícil e depois, mais uma vez, aquilo que fazem as equipas serem muito diferentes. Mais um golo, mais um penálti e uma vitória para o Sporting. Quero dar os parabéns à minha equipa, pela coragem que teve. Os que os meus jogadores fizeram foi mostrar a mística, a alma do que é sentir ser Farense. Gostei muito da atitude, da coragem, da frontalidade que tiveram, jogando contra um grande adversário.»

- Que mensagem é que quer passar com os ‘porquês’ de que fala? 

«Não quero passar mensagem nenhuma, vocês não precisavam que o treinador viesse aqui explicar. Foi tão evidente, até o treinador adversário reconheceu isso, que naquele momento ia retirar o jogador. Mandou aquecer o (Daniel) Bragança, para fazer isso. Não vale a pena estarmos aqui a falar, a falar de quê? No futebol, somos todos muito inteligentes, há muitos letrados a falarem de futebol à boca cheia. Eu continuo a dizer, e muitas vezes devia estar calado, porque amanhã vão apelidar-me de que falo disto e daquilo. O VAR, supostamente, é para ajudar o árbitro. Eu não percebo. Tomam as decisões, são sempre favoráveis [aos grandes]. No próximo jogo vamos jogar com o Vizela, aí o VAR vai tentar ser exemplar. Mas nestas situações, por que é que prejudicam sempre os mesmos? Por que é que é muito fácil expulsar um jogador do Farense? Por que é que é muito fácil marcar penáltis contra o Farense? Porquê, expliquem-me. E depois, é a tal diferença que existe no final do campeonato entre os grandes e os chamados pequenos. Passa muito por isto. Se não tivermos responsabilidades e comportamentos diferentes, isto vai acentuar-se cada vez mais e os chamados grandes vão continuar a ultrapassar a barreira dos 90, dos 100 pontos e marcarem golos por tudo e por nada. Estou muito triste, porque os meus jogadores deram muito mais e mereciam, mereciam, mereciam outro resultado.»