Entrevista exclusiva A BOLA «Insultos? Lembro-me muito bem quando gritavam a Ronaldo “Este português, f..da…p..é”»
Desde que há dez anos assumiu a presidência, Javier Tebas revolucionou a LaLiga. Tornou-se num dos dirigentes mais influentes do futebol europeu e mundial e é inimigo declarado do projeto da Superliga. A BOLA abordou o dirigente espanhol para uma entrevista, cuja segunda parte pode ler neste domingo.
-Racismo no futebol…
-Há muito tempo que vimos a lutar contra ele, fazemos campanhas, denunciamos os casos que sucedem, quando há cânticos racistas rapidamente investigamos, estamos em permanente estado de alerta, há muitas campanhas de racismo que só são estéticas, nós não somos de palavras, somos de ação e de medidas práticas.
-Apesar disso, a Vinicius Jr. continuam a chamar-lhe macaco…
-Quando isso sucede usamos todos os meios para identificar quem o fez e denunciá-lo na Justiça. O futebol espanhol não é racista, há pessoas que vão ao futebol e que são racistas e a essas não as queremos nos estádios. Haveria racismo se nos 380 desafios da liga de cada ano, em 200 se ouvissem cânticos com conteúdo racista e isso não acontece, ao futebol não se pode ir para insultar pela cor da pele, pela preferência política ou pela inclinação sexual.
-Cristiano Ronaldo também era insultado em muitos estádios onde jogava…
-Lembro-me muito bem quando gritavam “Este português, f..da…p..é”, quando cheguei à presidência agi logo contra isso, fizemos todas as denuncias que havia que fazer e, em dois anos, conseguimos acabar, de vez, com essa falta de respeito.
-Os futebolistas gays continuam a não querer revelar a sua condição…
-Em LaLiga lutamos contra a homofobia e este ano já fizemos várias denuncias contra atitudes homofóbicas dentro dos estádios, procuramos criar um ambiente seguro, sem ódio, onde cada um possa tomar, em liberdade, a decisão que ache mais conveniente, um espaço onde, se um dia o jogador decide revelar a sua inclinação sexual, não seja insultado por algo que nada tem a ver com o futebol, se for maltratado aí estaremos para o defender. Segundo as estatísticas, 10% dos jogadores serão homossexuais, mas nós não podemos obrigar a nenhum deles a sair do armário se ele considera que não o deve fazer, da mesma maneira que ninguém pode obrigar ás pessoas que pensam de certa forma política a que o digam no seu ambiente laboral, isso faz parte da liberdade individual e ninguém pode ser forçado a fazer o que não quer.
-Paulo Futre é embaixador de LaLiga, faz bem o seu trabalho?
-A nossa política é ter como embaixadores jogadores que, pelo seu passado desportivo, melhor nos possam representar no mundo inteiro. Futre foi, durante muitos anos, um grande jogador da nossa liga, marcou uma época e estamos muito contentes que esteja connosco. Também temos Luís Figo que nos ajuda, já esteve comigo em vários sítios, o último em Riad na inauguração do Museu do futebol e igualmente estamos felizes que colabore connosco.
-Quando Cristiano Ronaldo deixar o futebol ativo, vai convidá-lo?
-Como não, seria uma honra tê-lo como embaixador, acho que ele e Messi foram os jogadores mais relevantes na história do futebol espanhol.