«Na Europa chamam-lhe Florentinoliga», diz o dirigente sobre uma ideia que «nasceu em 2000» e que tem como objetivo que os «clubes ricos mandem no futebol europeu»
Desde que há dez anos assumiu a presidência, Javier Tebas revolucionou a LaLiga. Tornou-se num dos dirigentes mais influentes do futebol europeu e mundial e é inimigo declarado do projeto da Superliga. A BOLA abordou o dirigente espanhol para uma entrevista, cuja primeira parte pode ler neste sábado.
-Como acha que nasceu a ideia da Superliga?
-A ideia da Superliga nasceu em 2000, foi passando por várias etapas até chegar à proposta apresentada pela A22 e que, mais que um modelo de competição, o que no fundo pretende é que o destino do futebol europeu fique nas mãos dos clubes mais poderosos, tudo isso impulsado por Florentino Pérez que quando chegou à presidência do Real Madrid iniciou reuniões com os grandes clubes que levaram à constituição da ECA (Associação Europeia de Clubes). Lograram uma reestruturação da Liga dos Campeões e tentaram uma nova reforma em 2019 que foi rejeitada pela maioria dos clubes e das ligas nacionais. O que está em jogo é a questão ideológica de como deve ser governado o futebol, se forem só uns quantos os que vão governar, poderão construir o modelo de competição que quiserem e que mais lhe interesse. O projeto da Superliga é o de que os clubes ricos mandem no futebol profissional europeu.
-Dizem que já têm vários clubes aderentes…
- Eu não sei de nenhum, salvo o Real Madrid e o Barcelona, que esteja disposto a entrar nisso, mas não é só que os clubes queiram, é também necessária uma autorização da UEFA e haverá que cumprir as condições que respeitem o direito a competir estabelecido pela União Europeia, creio que o modelo que apresentaram não as cumpre, algo que ficou claro na recente declaração assinada por 26 ministros europeus do desporto, todos menos o de Espanha.
-E porque é que o governo espanhol não assinou?
-Porque há nessa declaração um parágrafo que diz que há que respeitar o princípio de que os resultados conseguidos nas ligas nacionais são o único acesso a todas as competições europeias, isso o Real Madrid não quer voltando a confirmar-se o grande poder que tem Florentino Pérez que conseguiu convencer o governo. Como costumo dizer, Florentino nunca perde.
-Os desencontros entre os presidentes de LaLiga e do Real Madrid são culpa da Superliga ou já vinham de antes?
-Já tivemos algumas discrepâncias na questão dos direitos audiovisuais e que se acentuaram muito com a Superliga, um projeto muito pessoal de Florentino, de resto na Europa chamam-lhe a “Florentinoliga”, reconheço que ele dirige muito bem o Real Madrid, mas isso não significa que seja um bom organizador de competições ou um bom gestor global do futebol, dou-lhe muito boa nota na gestão do clube, mas má na gestão coletiva.
- A A22 queixa-se dos obstáculos que lhe estão a colocar para que possa iniciar a competição…
-E eu queixo-me de muitas coisas que dizem e que são falsas, mentem quando dizem que os lucros da Superliga serão para as ligas nacionais, que será possível ver grátis os jogos pela televisão, que poderão conseguir 5 mil milhões de euros de receitas, afirmar tudo isso é faltar à verdade, o que que queremos é que as coisas sejam claras e que não nos enganem.
Formato do campeonato italiano não se vai alterar, contra a vontade de Juventus, Inter, Roma e Milan, que foram acusados de querer fazer «uma Superliga»
-Também ameaçam com uma denuncia em que pedirão uma indemnização de vários mil milhões de euros pelos prejuízos que estão a sofrer…
-Os que somos advogados e conhecemos como estas coisas funcionam sabemos que a sentença que terá de ditar o Tribunal de Madrid só será firme depois de passar pelo Supremo e só então, se este lhes der a razão, é que poderão pedir indemnizações apresentando provas de que sofreram esses prejuízos, um processo que poderá demorar uns 15 anos. Com tudo isto o que pretendem é pressionar através da comunicação social com notícias falsas e dados que também o são, dizem mentiras atrás de mentiras procurando construir um relato que dê a entender que têm tudo perfeitamente organizado.
-Que se espera dessa sentença da Justiça espanhola?
- O mesmo que a do Tribunal da União Europeia, dirá que a UEFA é um monopólio, mas que fora dela é muito difícil organizar competições, que a UEFA cometeu abusos de posição dominante quando não tinha um regulamento para autorizar novas competições, isso, contudo, não significa que a UEFA deva desaparecer, mas sim que deve ter um regulamento transparente e não discriminatório. Também dirá que a UEFA não devia ter ameaçado os clubes com a expulsão, em suma, mais ou menos o mesmo dito pela Tribunal Europeu.