Depois de uma primeira parte em que a teia que Carvalhal teceu tolheu os movimentos do Sporting, viu-se um segundo tempo esplendoroso dos leões, que redundou numa ‘virada’ épica, muito graças ao dedo tático de Amorim…
Lá do Alto, Marinho Peres, gente boa como sempre foi, deve ter sido o primeiro a aplaudir Ruben Amorim por ter igualado o seu recorde leonino de 11 vitórias consecutivas na Liga. E se havia muitas formas do Sporting vencer em Braga, a equipa de Alvalade escolheu a mais bela de todas, indo de menos a mais, até dar a volta a um resultado que ao intervalo lhe era muito justamente desfavorável, devido ao bis de Ricardo Horta e a uma exibição muito conseguida dos arsenalistas.
Poder-se-á invocar o facto do Sporting ter tido mais 48 horas de descanso e menos duas viagens do que o SC Braga, para explicar o afundamento dos minhotos na última meia hora, em que os leões foram simplesmente avassaladores. Mas essa análise cabe no reino da subjetividade, porque aquilo a que se assistiu foi a uma série de mudanças táticas brilhantes de Ruben Amorim, que dessa forma transfigurou a sua equipa e devolveu a capacidade de acreditar aos jogadores. Que melhor adeus para o novo treinador do Manchester United do que através de um jogo capaz de ombrear com o que de bom se vê na Premier League? E como são precisos dois para dançar o tango, há também que enaltecer a forma como o SC Braga esteve na primeira parte e resistiu, até ao limite das forças, na segunda, à torrente de futebol que saía da máquina de Amorim.
CARVALHAL, O HOMEM-ARANHA
O treinador do SC Braga leu muito bem o Sporting, e durante a primeira parte foi capaz de anular a largura do ataque leonino, com a colocação de Roger e Gabri Martinez nas alas, servindo de tampão às investidas de Quenda e Maxi, ao mesmo tempo que trazia ora Ricardo Horta, ora Bruma, para o apoio ao duplo-pivot formado por Moutinho e Vítor Carvalho, criando assim superioridade numérica no meio campo. Se a isto juntarmos que nos primeiros 45 minutos os minhotos, que partiam de uma base 3x4x3, apresentaram-se muitas vezes em 5x2x3, com a equipa junta, limitando tanto a saída da bola dos leões que estes (que perderam Pedro Gonçalves aos 26 minutos e refizeram a esquerda com Catamo atrás de Maxi), por falta de munição dos artilheiros, acabaram a primeira parte sem qualquer remate enquadrado.
Capitão dos guerreiros apontou os dois golos em jogadas em que apareceu no sítio certo, revelando perspicácia; defesa esteve bem na maioria do encontro e Bruma dá sempre algum perfume
É certo que a vantagem arsenalista começou uma oferta de Debast, mas os donos da casa foram de tal forma mais lúcidos e esclarecidos que o Sporting, que o segundo golo de Ricardo Horta não teve ponta de injustiça. Carlos Carvalhal, qual Homem-Aranha, teceu uma teia tática, de grande plasticidade, que enredou os leões e lhes colocou dificuldades como ainda não tinham encontrado na presente temporada.
RUBEN E O TOQUE DE MIDAS
Ao intervalo, o treinador do Sporting trocou o errático Debast pelo velocíssimo St. Juste, o que permitiu à equipa defender mais alto, sem ter de se preocupar demasiado com os ataque à profundidade do adversário. Mas foi aos 56 minutos que Ruben Amorim deu realmente a volta ao jogo, ao lançar Morita para manter o meio-campo robusto, e Harder, para criar mais presença na grande área contrária, saindo Bragança e Maxi, o que obrigou Catamo a ter de assegurar todo o flanco. E foram precisamente dois dos três jogadores entrados que estiveram na redução da desvantagem (58), após um canto de Quenda, quando St.Juste cabeceou ao poste e o recém-entrado Morita recargou com êxito. Logo a seguir, aos 60 minutos, Gyokeres esteve quase a empatar após cruzamento de Catamo e Carvalhal, sentindo que o jogo tinha levado uma volta de 180 graus, decidiu refrescar a equipa com Vítor Gomez e Roberto Fernandez. Porém, os argumentos de que dispunha mostraram-se curtos para tanto Sporting, que se posicionou amiúde num ousado 3x2x3x2, e aos 81 minutos viu o capitão Hjulmand ser feliz e assinar um golo de bandeira, com um pontapé do meio da rua, que empatou a contenda. Os leões sentiram que o opositor estava ferido e não desistiram enquanto não consumaram a ‘remontada’, com Harder a acrescentar dois golos àquele que o seu compatriota Hjulmand tinha obtido, num verdadeiro festim ‘viking’ na Pedreira, que levou os adeptos à loucura. Depois dos 4-1 ao Manchester City, foi com chave de ouro que se fechou, em Braga, a era-Amorim em Alvalade.