Sporting vai ter dois líderes
Começa a era João Pereira, que tem uma excelente base e um capitão que já fez esquecer Coates
Nova era no Sporting, com início já na noite desta sexta-feira. Ruben Amorim já pertence ao passado, por mais saudades que deixe entre os adeptos sportinguistas. Chegou a vez de João Pereira, que assume o comando técnico precocemente. Frederico Varandas há muito que disse que o antigo lateral-direito tinha todas as condições para ser treinador e percebe-se que é uma aposta pessoal do presidente.
O próprio Frederico Varandas adiantou após a oficialização de Ruben Amorim no Manchester United que a sucessão foi antecipada, pelo que João Pereira chega ao banco prematuramente, apesar de esta já ser a quarta época em que estava a trabalhar na formação dos leões, entre as equipas sub-23 e B.
A expectativa é grande. Tanto entre os sportinguistas, que esperam que o nível se mantenha, como entre os rivais, que torcem para que a sucessão não seja pacífica. O trabalho de Ruben Amorim em Alvalade foi fantástico, nomeadamente neste primeiro terço de temporada. Basta dizer que no campeonato ganhou todos os jogos! Junte-se as qualificações nas Taças de Portugal e da Liga e o segundo lugar na Liga dos Campeões, com três vitórias, entre elas a inesquecível sobre o Manchester City, e um empate, como PSV, em Eindhoven. Um percurso fabuloso, que até fez muitos adeptos esquecerem-se da derrota na Supertaça.
Ruben Amorim construiu uma equipa de autor em Alvalade, mas apesar da saída do treinador para Inglaterra esta não vai ficar órfã. Aceito que durante e depois do jogo com o Amarante sejam inevitáveis as comparações, mas no futebol tudo muda muito rápido e a partir de sexta-feira já será o Sporting de João Pereira.
A fasquia está muito alta. A equipa vence e convence, mas este jogo com o Amarante já vai ter o dedo de João Pereira. A base está lá e, na minha opinião, o ex-treinador da equipa B deve mantê-la, mas não pode pensar pela cabeça de Ruben Amorim. A começar pela escolha do onze ou quando chegar o momento da primeira substituição. No futebol não há imitações e aos poucos vai dar o cunho pessoal à equipa, tendo como garantia a qualidade.
O jogo de Braga, o último de Amorim, é um bom exemplo. Com a equipa a perder por dois golos ao intervalo, ninguém deixou de acreditar. Todos arregaçaram as mangas, liderados por Hjulmand, um verdadeiro capitão. Fui daqueles que disse que o Sporting iria sentir falta de Coates e também de Neto — que agora oportunamente regressa como adjunto — e Adán, mas o certo é que o dinamarquês, pelo menos dentro de campo, fê-los esquecer. O golo de Braga, que então valeu o empate, é um golo de força, determinação, alma. Um golo de um líder. João Pereira, como qualquer treinador, vai ser muito do que os jogadores quiserem. E por aqui parece-me que pode estar descansado. O Sporting vai ter dois líderes. Um dentro e outro fora de campo.