ZRINJSKI MOSTAR-V. GUIMARÃES, 0-4 Conquistadores derrubaram as muralhas da Conferência (crónica)
Vitória fez história na Bósnia, assinando exibição demolidora traduzida em goleada. É o regresso, cinco anos depois, a uma fase de grupos da UEFA, e logo pela porta maior
Na noite de Mostar, mais do que ganhar, mais do que ser a primeira equipa portuguesa a apurar-se para a fase final da Liga Conferência (que contribui com muitos pontos para o ranking nacional da UEFA), mais do que chegar à meta ao melhor estilo de Tadej Pogaçar no Giro e no Tour, o que mais impressionou no Vitória de Guimarães foi a personalidade com que encarou o derradeiro desafio na caminhada para a terceira prova da UEFA, abafando completamente, de fio a pavio, um adversário que se dizia temível nos jogos em casa, e se julgava capaz de virar a desvantagem de três golos com que regressara da cidade-berço. Do primeiro ao último minuto só deu Vitória, nos termos desejados pelos vimaranenses, mesmo quando, no segundo tempo, com tudo decidido, Rui Borges decidiu gerir o plantel a pensar no jogo com o Famalicão e o Zrinjski aproveitou para despejar alguns cruzamentos e ganhar uma série de pontapés de canto, sempre inofensivos.
Mas comecemos por perceber como foi possível ao Vitória chegar a casa do Zrinjski e tomar conta das ocorrências, permitindo uma noite descansada a Bruno Varela: a equipa foi armada com inteligência, aproveitando com mestria o espaço entre setores dos bósnios e a escassa agressividade (no bom sentido, porque no mau não faltaram faltas e entradas a despropósito) que colocavam na recuperação de bola. Com um 4x3x3 de base que se se transformava muito facilmente num 4x4x2, através do recuo de Nuno Santos, ou ainda num 4x1x3x1, quando Manu ficava mais perto dos centrais, a equipa portuguesa ganhou de imediato superioridade numérica a meio-campo, o que lhe permitiu controlar sempre os tempos do jogo, e sempre que os donos do terreno tentaram pressionar um pouco mais alto (de forma anárquica, porque o movimento dos avançados não eram acompanhado pela subida dos defesas), os ataques rápidos dos vimaranenses levavam o pânico às imediações da baliza de Maric. O primeiro golo da equipa lusitana, que haveria de surgir num penálti descortinado, e bem, pelo VAR, numa falta de Barisic sobre Nuno Santos aos 32 minutos, só pecou por tardio; e o segundo, que surgiu dez minutos depois, após uma fífia do mesmo Barisic (que esteve numa daquelas noites em que era melhor não ter saído de casa…), marcado por Nuno Santos a passe de Ricardo Mangas, colocou mais alguma verdade no marcador; já o terceiro, assinado por Nélson Oliveira, aos 45+3, quase sem ângulo, sentenciou o que já parecia irreversível: o Vitória Sport Clube ia arrecadar os quase quatro milhões da entrada na fase de grupos (agora liga) da Liga Conferência!
No segundo tempo, enquanto o treinador do Zrinjski tentou controlar danos, reforçando o meio-campo e deixando na cabina o desastrado Berisic, Rui Borges trocou o defesa esquerdo João Mendes pelo médio de ataque João Mendes (confuso, não é?), passando Mangas para defesa esquerdo. A gerir o jogo, o Vitória permitiu que a equipa da casa tivesse algum domínio territorial (excelentes Borevkovic e Villanueva no jogo aéreo), mas seria preciso esperar pelo minuto 71 para se assistir à obra prima da noite, saída dos pés de Gustavo Silva, que entrara, juntamente com Chuchu Ramirez e José Carlos, aos 60 minutos. O ex-Nacional, a uns bons 30 metros da baliza, encheu o pé direito e fez a bola entrar como um míssil terra-ar na baliza de Maric, assinando um momento que ficará gravado a letras de ouro na sua carreira. Um golaço que serve às mil maravilhas para terminar a narrativa de uma noite exemplar do Vitória Sport Clube que está de regresso, como diria Sven-Goran Eriksson, à la champagne, a uma fase final da UEFA. O futebol português agradece.