Bruno Pereira: «Competência e honestidade são fundamentais para um treinador»
Bruno Pereira (Foto: bmpereira)

ENTREVISTA A BOLA Bruno Pereira: «Competência e honestidade são fundamentais para um treinador»

INTERNACIONAL23.03.202415:00

Na terceira e última parte da entrevista com o treinador do Al Orooba, o português fala do seu estilo de jogo, da Liga portuguesa e das memórias que tem do futebol quando era uma criança madeirense

- Falando sobre a sua filosofia como treinador, qual é o estilo de jogo que gosta de implementar?

- O mais importante é ter bola para atingir o adversário. Quero que as minhas equipas sejam altamente ofensivas e fortes na transição defensiva, o que não significa necessariamente ter uma reação rápida à perda. Quero que a minha equipa seja equilibrada e bem posicionada para que, quando perde a bola, esteja em condições de a ganhar novamente. Isso implica que a equipa esteja bem posicionada e equilibrada no ataque, para que a transição defensiva seja eficaz. E também gosto de ter bola obviamente para impedir o adversário de nos marcar.

Bruno Pereira: «Espero que o meu trabalho seja reconhecido em Portugal»

23 março 2024, 13:00

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Primeira parte da entrevista com o treinador português do Al Orooba, que tem perto de 20 anos de experiência. Depois de ter conquistado títulos em diferentes países, agora está perto de subir à 1.ª divisão dos Emirados Árabes Unidos com uma época praticamente imaculada

Isto é o nosso ideal. Há equipas e projetos que podem aparecer no futuro em que, pelas características dos jogadores, pela sua qualidade ou eventual falta dela, possa ser mais difícil implementar este modelo. O treinador tem de ter, e eu tenho, essa flexibilidade mental para se ajustar e criar um modelo que jogo que se adapte às características dos jogadores.

- Há diferentes opiniões em relação à utilidade das estatísticas para o treinador de futebol, qual é a posição do Bruno em relação às mesmas?

- São um valor, não “o” valor. As estatísticas têm de ser contextualizadas. Por exemplo, os passes certos, se o passe é entre centrais e a equipa adversária tem um bloco médio-baixo e não faz pressão, é obvio que a percentagem de passes certos entre esses centrais será muito alta. A estatística tem de ser enquadrada em cada jogo, na estratégia de cada equipa, se não, é um dado sem qualquer valor.

Nos duelos ganhos ou perdidos, há um jogador que pode ganhar muitos duelos aéreos, mas o que é que acontece depois do duelo aéreo? Que equipa fica com a bola? Posso preparar uma equipa para ganhar as segundas bolas de um duelo aéreo. Por isso é que isso tem de ser contextualizado.

- Recentemente numa entrevista a A BOLA, Augusto Inácio disse que os grandes treinadores têm de saber liderar os seus jogadores. Como é que o Bruno, em várias realidades diferentes à de Portugal, procurar conectar-se e ganhar a confiança dos seus jogadores?

 - Há três coisas que são fundamentais. Primeiro é a qualidade do trabalho, se os jogadores melhorarem individual e coletivamente com o trabalho, já ganhamos a confiança deles, porque veem que existe competência. Nenhum líder é reconhecido se não lhe for reconhecido competência. Segundo, liderar pelo exemplo e terceiro, pela honestidade, naquilo que á justiça das nossas decisões.

- Qual é o treinador que mais o inspirou a seguir esta carreira?

- José Mourinho

- Qual é o seu treinador favorito da atualidade, ou aquele cuja equipa mais gosta de ver jogar?

- Guardiola.

- Campeonato nacional que mais gosta de seguir?

- O inglês obviamente.

- Jogador favorito da atualidade?

- Continuo a admirar muito o Cristiano Ronaldo porque sei a dificuldade que é sair da ilha da Madeira, poder sair e crescer e vingar no mundo do futebol. E é verdadeiramente uma inspiração, mostra que é possível atingir os patamares superiores, mesmo vindo de um meio mais pequeno, longe dos centros de decisão, dos olhares de muita gente, mas a pulso o nosso caminho vai-se trilhando.

- Quem acha que vai ganhar o campeonato português?

- O Sporting está muito acima daquilo que tem sido a consistência mostrada pelo FC Porto e pelo Benfica. O FC Porto esteve muito bem na Liga dos Campeões, mas não tem sido consistente no campeonato, o Benfica também não. O Sporting tem sido uma equipa, desde o início da Liga, que mostra consistência de resultados e qualidade exibicional bem acima dos outros e será o mais forte candidato, apesar de ainda faltarem algumas jornadas.

- Por fim, qual é a memória mais antiga que tem do futebol?

 - Estar no Estádio dos Barreiros, quando era miúdo. Comecei a ir ao futebol com três anos, o meu pai e o meu irmão levavam-me muito ao futebol. E tenho isto bem fresco na minha cabeça, no antigo Estádio dos Barreiros, o meu pai e irmão estavam na bancada e eu… naquela idade, nós não temos capacidade de nos focarmos no jogo e ia jogar com outras crianças que estavam lá em baixo na bancada, a chutar latas, garrafas de sumo e de água e até ao intervalo, passava o tempo todo a jogar o chamado futebol de rua [risos]. Quando havia golos, sabia lá de quem era, festejava com as outras crianças, mas lembro-me perfeitamente disso, agora até me emocionei com esta memória.

É a primeira imagem que tenho do futebol, estar no estádio com o meu pai e irmão e estar a jogar futebol.  

Antigo Estádio dos Barreiros (ASF)