A mágica diferença entre o momento e o novo alento
Portugal só teve um verdadeiro teste neste Mundial e perdeu-o. Acabou por faltar à Seleção Nacional, a 14 segundos do final do jogo com o Cazaquistão, concentração. Um pormenor que fez toda a diferença
TASHKENT — Primeira conclusão: ninguém ganha sempre o jogo. Por mais coesa que seja a equipa, por maior espírito de solidariedade que esteja impregnado no balneário, por melhor que seja a preparação, por mais cuidado que seja o estudo do adversário.
Portugal foi duas vezes campeão da Europa e uma vez campeão do Mundo de futsal. É uma potência mundial, não apenas pelos resultados diretos da participação nas principais competições, mas pelo modelo organizativo, pela dimensão e perspicácia da identificação de talentos, pela forma como encontra equilíbrios para potenciar equipas verdadeiramente competitivas.
E nisso — como em outros e mais específicos aspetos do treino — Jorge Braz é mestre, é referência, é identidade e entidade.
O discurso do selecionador nacional, ao longo das duas semanas em que Portugal permaneceu em competição no Uzbequistão, reflete isso mesmo: o profundo conhecimento dos modelos e dos processos, e, em simultâneo, a fragilidade que, em situações de equilíbrio e tensão, pode definir um jogo e (de)marcar uma presença.
Em boa verdade, Portugal só teve um verdadeiro teste, neste Mundial, frente ao Cazaquistão. Porque o Panamá se apresentou (quase) tão frágil como há oito anos, na Colômbia; porque o Tajiquistão foi uma equipa sempre controlada taticamente (embora o segundo golo, a dois segundos do fim, tivesse levantado problemas de marcação perante pressão); porque Marrocos foi ultrapassado na garra e na capacidade portuguesas de entrar forte no domínio para sair forte no controlo.
Sobrava o início do verdadeiro Mundial, o da fase de eliminação direta, o acasalamento traiçoeiro com a equipa cazaque, a vontade alheia de se vingar de 2021, o absoluto conhecimento mútuo de individualidades, processos e sistema.
E, aí, Portugal falhou. Porque, em alta competição, perder é falhar, ganhar é confirmar.
A equipa das quinas sempre foi focada, motivada e moralizada. Uma espécie de máquina que, nas diversas vertentes de análise, quase sempre superava os adversários. Acabou por lhe faltar, a apenas 14 segundos do final do jogo com os cazaques, a concentração necessária para perceber que, para a equipa de Kaká, o jogo tem, mesmo, 40 minutos úteis.
A linguagem corporal dos asiáticos (europeus na geografia da UEFA) dizia tudo na jogada decisiva. A diferença, para Portugal, esteve no acreditar cazaque que era possível ganhar, e no não acreditar português que seria possível perder.
Foi o pormenor que fez toda a diferença, no jogo mais equilibrado psicologicamente, mais nivelado taticamente e mais fechado na quadra.
A pergunta é legítima: será um insucesso para um campeão do mundo quedar-se pelos oitavos de final?
Genericamente, sim. É abaixo das expectativas. Objetivamente, não. Porque o futsal, hoje, revela a sua imprevisibilidade como fator mais aliciante, o equilíbrio como elemento mais agregador e a surpresa como motivação mais fascinante.
Amanhã, o nascer do sol trará um novo desafio, um maior objetivo, um maior motivo. Será sempre assim.