O que joga e não joga Pavlidis

Bruno Lage diz que o foco que teve nos treinos é de «criar mais em qualidade» e que tem trabalhado imenso com os avançados e alas. Tem razão.

Primeiro, foi uma contratação certeira; depois, começou a ficar em dúvida; por fim, chegou Bruno Lage. Resumidamente, pode dizer-se que esta tem sido a perceção sobre Vangelis Pavlidis, um goleador que o Benfica contratou na Holanda.

Bem sei que, olhando os números no Benfica, dizer que o grego é um goleador pode ser um risco. Mas a carreira do avançado não começou agora e o registo na Eredivisie dá-lhe o direito de ser tratado como tal. Nas três épocas ao serviço do AZ, Pavlidis apontou 25, 22 e 33 golos. Fê-lo em 51, 40 e 46 jogos. Números bastante interessantes para início de conversa, diria.

Ainda assim, é para o outro lado que, creio, deve estar virado o foco. O lado longe da estatística. No fundo, o que os números não leem. Bruno Lage dizia no outro dia que «Pavlidis tem sido muito bom para a equipa». A questão é que a equipa não tem sido boa para ele. Ou ainda não é.

Dá-me a ideia que o treinador do Benfica concorda. Vejamos as declarações de Lage na antevisão ao Gil Vicente. «Criar mais em qualidade. Tenho trabalhado imenso com os avançados e com os alas: como chegar ao último terço, que cruzamentos pretendemos, que movimentações quero... esse tem sido o foco.»

O que não joga Pavlidis tem a ver com o que ali está. Nos primeiros encontros de Bruno Lage, o serviço ao grego foi a parte que faltou. O Benfica melhorou, verdade, mas ainda faltou a conexão com o ponta de lança. Usando uma frase feita, «jogar de olhos fechados» com Pavlidis, que pelo menos lá ganhou confiança com um golo no Bessa, pleno de oportunidade. Isso também diz alguma coisa do grego. Fazer pela vida é uma boa característica de quem quer marcar. Mesmo quando a bola lá não chega.

Depois, há a outra parte. Que é aquilo que joga Pavlidis. Aí, parece-me, o internacional helénico cumpre as primeiras impressões de quando chegou a Portugal. Boas receções, bons passes, boas saídas de pressão. Boas combinações com os colegas, quando solicitado a fazer apoio e sem grande problema em testar o remate.

Provavelmente, Lage sabe o que tem e, melhorando o processo para o grego, poderá melhorar também as rotinas para quando Amdouni ou Cabral entrarem porque a única dúvida que não houve até agora é que Pavlidis é mesmo o titular.

Se, ou quando, a equipa conseguir consolidar processos ofensivos e o jogo saia quase por instinto, as qualidades individuais do grego podem atirá-lo para os tais números que fez ao serviço do clube da Holanda do Norte. Está correto Lage na preocupação atual que tem.