A crónica do Nacional-Sporting, 1-6: O leão numa tarde quente sem sombras para descansar
Trincão

A crónica do Nacional-Sporting, 1-6: O leão numa tarde quente sem sombras para descansar

NACIONAL17.08.202421:06

Depois de uma primeira parte muito difícil e que chegou a parecer ameaçadora, o Sporting resolveu o jogo com três golos num quarto de hora e com a atitude permanente de um felino devorador e insaciável

Será difícil de dizer se foi o Sporting que tornou fácil o que chegou a parecer difícil, ou se foi o Nacional que não resistiu, por erros seus e por cansaço, a um verdadeiro festim do leão. Do ponto de vista factual, a primeira parte foi jogada a um nível muito alto. Duas equipas que jogaram consoante os seus trunfos. Os madeirenses, partindo de um sistema defensivo rigoroso, apertado entre linhas, cuidando de não dar espaço às alas leoninas, nem permitir que o adversário jogasse, como gosta, em profundidade; os campeões nacionais, procurando adaptar-se a um futebol de muito pouco espaço, não arriscando demasiado, tentando não perder o equilíbrio quando tinham de recuperar.

Nesse jogo tático, o Nacional chegou até a parecer mais competente. A equipa não só conseguia estancar a fluidez do ataque sportinguista, como saía muito bem no contra ataque, usando a velocidade de Nigel Thomas ou de Apphia.

Assim, noutros tempos se diria que o Sporting marcou o seu primeiro golo contra a corrente do jogo. Na verdade, o que sucede é que o futebol é um jogo coletivo que, muitas vezes, é ganho pela classe individual diferenciadora. E aconteceu que num lance de antologia, Pedro Gonçalves, com aquele instinto de baliza que o caracteriza, tirou um golo notável do seu chapéu mágico.

É normal acontecer que, nestas circunstâncias, a equipa mais frágil quebre psicologicamente, ficando à mercê do mais forte. Mas não foi assim. O Nacional continuou a acreditar que podia discutir o jogo e o resultado. Empatou, numa fase em que, claramente, estava por cima, mas voltou a ser surpreendido pouco depois, num lance que envolveu, de novo, Pedro Gonçalves e que foi muito bem concluído por Trincão.

UM LEÃO DEVORADOR

Nos primeiros cinco minutos da segunda parte, o Nacional mostrou ser uma equipa ainda mais desinibida e confiante. Tornou-se ameaçador e pensava-se que o Sporting ainda teria muito tempo para sofrer. Porém, o futebol é muitas vezes imprevisível. Bastou um quarto de hora para o Sporting resolver o jogo com três golos demolidores. O primeiro, de penalty, o segundo, no aproveitamento de um erro de Matheus Dias e o terceiro num lance de pura classe.

Num simples quarto de hora, passou-se da dúvida à goleada. Ora, como explicar uma mudança tão drástica e tão decisiva no jogo?

Recuperando a ideia inicial: culpa do Nacional ou mérito do Sporting? Admitamos que pelas duas razões. O Nacional não resistiu ao terceiro golo leonino, perdeu o foco, perdeu o sonho e expôs-se demasiado. E o Sporting, com uma atitude permanente de um felino devorador e insaciável não procurou sombras para descansar e continuou à procura do golo e do melhor resultado.  

ESTATUTO DE CAMPEÃO

O jogo acabaria por nos trazer a convicção de que este Sporting não abdica de um estatuto de verdadeiro campeão. A equipa trabalha quando tem de trabalhar, com e sem bola, mantendo uma serena disciplina tática, que se vai tornando, cada vez mais consolidada.

Uma defesa a três, com variantes de jogadores e de soluções, apesar da saída de Coates; dois alas abertos (Catamo e Quenda), jovens, versáteis, irreverentes, criativos; um meio campo que funcionou bem na dupla Morita-Bragança; e um ataque demolidor, um trio infernal, com Trincão e Pedro Gonçalves como artífices a fazer golos e Gyokeres como um goleador fulminante, um touro enraivecido com ânsia de baliza.

É evidente que este Sporting acredita que vai voltar a ser feliz no final da época.