À porta de mais um apuramento
Portugal empatou na Escócia a zero, a 14 de outubro de 1980, graças a uma exibição monumental de Bento e a um autocarro bem lusitano. Desta vez, repetiu-se o nulo, mas o autocarro tinha volante à direita e matrícula escocesa…
Embora ainda não esteja matematicamente apurado para os quartos-de-final da Liga das Nações, Portugal saiu de Hampdon Park, em Glasgow, muito mais perto desse objetivo, numa quarta jornada do grupo 1 que só deu empates (Polónia,3-Croácia,3).
Empatar na Escócia é um bom resultado para Portugal, sabendo-se que a única equipa que os escoceses bateram, de há muito tempo a esta parte, foi Gibraltar? A resposta tem de ser forçosamente «não», pelo que o jogo deu, pelas oportunidades criadas e não aproveitadas, e por uma superioridade gritante, coletiva e individual. Mas será bom lembrar que os escoceses, apesar das três derrotas nesta Liga das Nações com que se apresentaram frente a Portugal, tinham sido sempre um osso duro de roer, não só para a turma das quinas, mas também para polacos e croatas. E deverá ser igualmente dito que a equipa da Escócia só não foi inferior à Seleção Nacional no querer, uma vez que impulsionada pelos seus adeptos defendeu com unhas e dentes o nulo que Bruno Fernandes, à beira do fim, quase desfez. A posse de bola favorável a Portugal (66-34), e os restantes elementos estatísticos (9-1 em cantos e 9-3 em remates), não fazem justiça ao autocarro de dois andares, um ‘double-decker’, diriam os escoceses, que Steve Clake mandou estacionar em frente a Craig Gordon. Mas a verdade é que quando o árbitro belga Lawrence Visser – que em momento algum justificou as insígnias da FIFA que ostentava ao peito – apitou para o final da partida, os escoceses rejubilaram com o empate como se de um triunfo se tratasse.
Portugal foi campeão da Europa em 2016 e venceu a Liga das Nações em 2019, tem ao seu serviço jogadores que pertencem à elite do futebol mundial, conta com o fenómeno mediático global que continua a ser Cristiano Ronaldo, é visto, em cada competição onde entra, se não como favorito, pelo menos como candidato à vitória, e tudo isso se paga. Qualquer equipa menos cotada que defronta a Seleção Nacional, assume os 90 minutos com uma motivação especial, porque se trata de um daqueles momentos em que o ‘underdog’ não tem nada a perder e pode garantir os seus 90 minutos de glória.
Longe vão os tempos (1980) em que a Escócia de Souness, Dalglish, Andy Gray, Alan Hansen e Gemmill, venceu Portugal por 4-1, neste mesmo Hampdon Park, com autoridade e superioridade evidentes. E se, poucos meses depois, Portugal foi a Glasgow empatar a zero, isso deveu-se sobretudo a uma das mais fantásticas e gloriosas noites de Manuel Galrinho Bento, que fechou a baliza a sete chaves e deu um ponto às cores lusitanas. De então para cá, não obstante Portugal ter melhorado muito e a Escócia nunca mais ter tido uma geração de ouro como essa, os números mostram que a turma das quinas nunca venceu um jogo oficial em território escocês. E desta vez estavam reunidas condições para isso acontecer nesta quarta jornada da Liga das Nações, mas foi feito praticamente tudo menos meter a bola na baliza do adversário, algo que é o mais importante (e difícil) num jogo de futebol.
Daqui a um mês há mais, no que respeita a esta competição, com Portugal a receber a Polónia a 15 de novembro (e desejavelmente fechar a questão do apuramento), e a viajar à Croácia onde jogará três dias depois.
Quer isto dizer que, após a jornada de Taça de Portugal do próximo fim de semana, a I Liga regressará a 25 de outubro para mais um soluço de três jornadas, retomando funções a 29 de novembro para em nova etapa, então sim, retomar a normalidade e entrar no ritmo competitivo que torna particular as provas em sistema de campeonato.