Escócia-Portugal, 0-0 A mudança é constante da vida, mas nem sempre traz evolução: a crónica do jogo

SELEÇÃO15.10.202421:49

O passo em frente na Polónia redundou em dois passos atrás na Escócia. São demasiadas alterações no onze para ter resultados imediatos. Fica assim adiada a qualificação para os quartos de final

Tal como em Lisboa a 8 de setembro, também em Glasgow o primeiro sinal de perigo foi escocês, num lance desenhado por Che Adams e que culminou com remate ao lado de McTominay. Decorria o minuto 3’. E logo depois, mais um sério aviso à navegação lusitana, por via do cabeceamento junto à pequena área, protagonizado, novamente, por McTominay, o tal que, na Luz, deu vantagem à Escócia logo aos 7’.  A Escócia entrava sem medo, Portugal tentava sacudir a pressão e conseguiu-o à passagem do oitavo minuto, por Cristiano Ronaldo, cujo remate cruzado obrigou o veterano (ainda mais veterano do que CR7) guarda-redes escocês, Craig Gordon, de 41 anos, a trabalho-extra.

Roberto Martínez avançara de véspera com a forte de possibilidade de proceder a alterações no onze em relação à Polónia e elas aconteceram mesmo e não foram poucas. No total, seis jogadores diferentes de Varsóvia para Glasgow, com as saídas do grupo de titulares de Diogo Dalot, Renato Veiga, Rúben Neves, Bernardo Silva, Pedro Neto e Rafael Leão e com as entradas de João Cancelo, António Silva, João Palhinha (a mais surpreendente, tendo em conta a pouca utilização do médio no Bayern), Vitinha, Francisco Conceição e Diogo Jota. Isto é, titulares nos dois jogos só Diogo Costa, Rúben Dias, Nuno Mendes, Bruno Fernandes e Cristiano Ronaldo.

Ronaldo foi o mais rematador de Portugal (foto: Imago)

Ora, a verdade é que, até mesmo retirando o já mencionado sufoco da fase inicial e incluíndo o domínio português que se seguiu, com mais posse de bola e mais lances de perigo, as mudanças operadas pelo selecionador tiveram inevitáveis consequências ao nível da dinâmica, da intensidade e da organização tática que se vira brilhantemente em Portugal na vitória do passado sábado na Polónia (3-1), em particular na primeira parte desse encontro.

Posto isto, eram os titulares nos dois duelos que iam marcando os registos mais positivos do jogo com a Escócia: aos 26’ disparo de Nuno Mendes, para defesa apertadíssima de Gordon para campo; e aos 32’, eis novamente Cristiano Ronaldo, num remate acrobático de bicicleta, mas com falta do português, segundo o jovem árbitro belga – que, já agora, deixou muito a desejar, apitando muitas vezes, mais do que as que o jogo exigiu.

O tom manteve-se na segunda parte: primeiro foi Ronaldo em zona de luxo a cabecear mal (48’), depois foi Francisco Conceição, servido de bandeja por CR7, a atirar para as nuvens de Glasgow (51’).

A desilusão acabou por marcar os espíritos portugueses (foto: Imago)

O 0-0 prevalecia – muito por culpa de uma Escócia aguerrida, lutadora e que dá tudo até à última gota de suor em cada lance, com um grupo de guerreiros que defenderam a sua área com unhas e dentes – e Martínez via chegada a hora de dar a volta ao texto à passagem da hora de jogo, com três substituições de uma assentada que repuseram um pouco o desenho daquela que é, habitualmente, a sua primeira linha: saíram Palhinha, Diogo Jota e Francisco Conceição, avançaram para os derradeiros 30 minutos Rúben Neves, Rafael Leão e Bernardo Silva.

No entanto, também nesta fase, a evolução na qualidade e, sobretudo, na forma de tentar supreender o adversário não foi imediata. O jogo ainda animou nos 15 minutos finais, talvez porque Portugal ia sabendo que a Polónia estava empatada – e portanto, continuando o marcador em 0-0 em Glasgow, o apuramento luso para os quartos de final, ficaria adiado.

Ainda assim, foi mais fogo de vista e só um lance trouxe real sensação de perigo: aos 87’, Portugal teve nos pés a sua melhor oportunidade, quando Rafael Leão protagonizou excelente jogada, deixou um adversário no chão e encontrou Bruno Fernandes sozinho na área; este rematou forte, mas Gordon, o guardião de 41 anos, fez defesa in extremis e manteve um nulo que deixa entre os portugueses aquela sensação amarga de que, nesta fase, por cada passo em frente (o jogo da Polónia foi um claro sinal de crescimento e de evolução), a Seleção dá depois dois passos atrás, como no Hampden Park...