28 junho 2024, 09:16
«Gostava muito de ver Schmidt no FC Porto»
Dário Figueiredo foi o primeiro jogador português a ser orientado pelo alemão no Dellbrucker; Confesso adeptos dos dragões tem um desejo; «Não merece sair da Luz pela porta pequena…»
Uma viagem às origens onde o técnico iniciou a carreira de treinador; Dário Figueiredo foi o primeiro português orientado pelo alemão e o guia desta visita ao Dellbrucker Sport-Club; As histórias do aspirante engenheiro mecânico que se tornou num herói desta aldeia
DELLBRUCK — Foi no modesto DSC, Delbrucker Sport-Club, que o caminho de Roger Schmidt como treinador começou a desenhar-se. Uma das mais belas histórias do rapaz da aldeia que vingou a nível internacional. Um emblema ainda distante de Kierspe, a sua terra natal, mas o ponto de partida para o desvio como engenheiro mecânico, área onde se formou. Dellbruck foi berço do futebol do técnico alemão. Onde terminou a carreira de jogador e iniciou a de treinador. Conciliou até ambas num primeiro ano.
A viagem às origens de Roger Schmidt conduziu A BOLA até este clube que pretendia conhecer, de forma mais pormenorizada, a personalidade do alemão. Para tal, tivemos a ajuda de Dário Figueiredo, que foi, tão somente, o primeiro jogador português orientado pelo germânico. Um testemunho especial do que existe atrás deste treinador que, em Portugal, raramente se deu a conhecer.
São 10 horas e à entrada do Stadion Laumeskamp já nos aguardava Dário Figueiredo. Devidamente equipado com a camisola da Seleção. A última vez que havia estado no local já passavam mais de 10 anos. «Isto para mim é especial. Era avançado, tinha talento e marquei golos em todas estas balizas. Tenho pena porque há 20 anos as redes sociais ainda não existiam. Tenho pouca coisa guardada…», começa por nos dizer o antigo avançado que, em 2004, era uma das promessas deste emblema que nunca passou das ligas regionais.
Na memória estão guardadas todas as boas recordações. Onde Roger Schmidt tem, obviamente, um lugar especial. Pois foi quem o promoveu da formação para o plantel principal. Com apenas 17 anos: «Foi um salto enorme. Treinava sempre com a primeira equipa e nos fins de semana jogava com a equipa secundária. Ele nos primeiros anos jogava, e dava uns bons toques, mas depois dedicou-se a 100 por cento como treinador. Sabia lidar com os jovens. Sabia de tudo. O que queria e como queria. Nos treinos tinha uma obsessão pelo passe, a forma como tinham de ser feitos. Se não saía bem repetia umas 20 ou 30 vezes se fosse preciso. Era perfecionista.»
28 junho 2024, 09:16
Dário Figueiredo foi o primeiro jogador português a ser orientado pelo alemão no Dellbrucker; Confesso adeptos dos dragões tem um desejo; «Não merece sair da Luz pela porta pequena…»
Dário Figueiredo acabou por nunca jogar apesar das três pré-épocas com Schmidt. Não por falta de oportunidades. A justificação prende-se com a mentalidade.
«Muitos diziam que era talentoso, mas depois acho que me faltou a disciplina… os meus amigos tornaram-se mais importantes do que o futebol e levava muito na cabeça de Schmidt por causa disso. Tinha conversas contigo, puxava-te para o lado, dizia que tínhamos de fazer assim… era muito comunicativo. E pegava em todos. Falava muito com os jogadores e era algo importante para todos se sentirem importantes no grupo», conta-nos Dário, hoje com 36 anos, estranhando a ideia generalizada que existe em Portugal sobre o alemão.
«Nunca achei que fosse uma pessoa fechada e fria, sinceramente. Acho que isso, com a pressão que tem agora no Benfica, também conta. E muita coisa vem de fora. Ele não era assim. Brincava com os jogadores, andava muito bem disposto, Acredito que longe das câmaras ainda seja esse o Roger Schmidt. Quero acreditar que sim», atira.
Após alguns telefonemas conseguimos encontrar alguém para nos mostrar o balneário onde Schmidt se equipava.
«Por norma já vinha equipado, mas gostava de vir sempre aqui. E nunca esqueceu as raízes. Como vê estão aqui lembranças do Paderborn e PSV, clubes também marcantes no seu percurso», mostra o ex-jogador, recordando uma das primeiras conversas que teve.
«Eu sentava-me ali no cantinho e estava sempre com medo porque achava que os outros eram muito melhores. Ele dizia-me para esquecer isso e que o resto viria sozinho. ‘Pensa menos e joga futebol’, dizia-me. Passamos muitas horas juntos…», diz, procurando explicar as suas razões para alguns jogadores alemães não terem vingado no Benfica: «A mentalidade é muito diferente. Nasci na Alemanha mas tenho apenas nacionalidade portuguesa. Os germânicos são mais certinhos, está tudo treinado, tudo em ordem, enquanto os portugueses são mais descontraídos, simples e abertos. E foi essa mentalidade que se calhar não fez com que pudesse fazer carreira aqui…»
O Benfica é uma equipa muito difícil de treinar. Se perdes um ou dois jogos... o treinador já não presta. Quando começou era o melhor, foi campeão, e depois já nada vale… No Benfica e em Portugal procuram sempre o mais fácil que é culpar o treinador e para mim é uma estupidez
Foi com agrado que Dário recebeu a continuidade do técnico na Luz. E acredita que a melhor versão de Schmidt voltará a aparecer.
«O Benfica é uma equipa muito difícil de treinar. Se perdes um ou dois jogos... o treinador já não presta. Quando começou era o melhor, foi campeão, e depois já nada vale… No Benfica e em Portugal procuram sempre o mais fácil que é culpar o treinador e para mim é uma estupidez. Na Alemanha existe mais paciência, com exceção ao Bayern Munique que tem uma dimensão muito diferente dos outros», constata Dário Figueiredo, agora afastado do futebol, estando a liderar, com o pai, uma das maiores empresas de exportação de produtos portugueses na Alemanha.