SEM MUROS Roger Schmidt como nunca o conhecemos
Para conhecermos alguém precisamos de recuar às suas origens. Às suas motivações, inspirações e ambições. E esse será também o ponto de partida para nos conhecermos a nós mesmos. Como uma viagem a Dellbruck me mostrou um treinador diferente daquele que conhecemos na Luz
DELLBRUCK — Sou da opinião que para conhecermos alguém precisamos de recuar às suas origens. De ter um contato direto com as motivações, inspirações e ambições. Esse será sempre o ponto de partida também para nos conhecermos a nós mesmos. Os melhores e os piores. Todos os traços da personalidade são ali criados, nas raízes, nas vivências, na forma como nos relacionamos.
Nesta viagem de A BOLA ao ponto de partida do técnico das águias tive oportunidade única para conhecer aquele que julgo ser, sem margem para dúvida, o verdadeiro Roger Schimdt. Um treinador que, ao contrário de tantos outros, começou de baixo para cima, passou pelo caminho das pedras, para chegar, como sempre desejou, à elite do futebol europeu. Licenciado em engenharia mecânica, com uma carreira modesta como jogador, abdicou da estabilidade profissional que tinha para cumprir os seus sonhos. E foi essa ilusão que o levou alto e hoje serve de grande exemplo para os mais novos.
Treinador comunicativo, disciplinado, exigente e ambicioso. Sem nunca se desviar da sua linha orientadora, apesar dos obstáculos que foram aparecendo. Real, verdadeiro e de trato fácil. Daqueles que com ele foram crescendo, no início de carreira, nesta viagem às suas origens, retenho uma frase. «Isto no futebol pode mudar uma pessoa conforme a exigência do clube. Para conhecerem Schmidt era preciso conhecerem Dellbruck», diz-me um faz-tudo deste clube germânico que por ali anda há mais de 30 anos. Como os compreendo… No futebol atual somos moldados àquilo que os clubes querem que nós sejamos. E isso nem sempre é fácil de ser interiorizado e digerido pelos treinadores.
Há quem consiga, com disfarce, aceitar tudo e quem rejeite a ideia, colocando-o como refém de um primeiro resultado negativo. Schmidt parece estar no meio. E em Portugal nunca vimos o Roger Schmidt que o povo de Dellbruck conhece. Essa pessoa afável, próxima dos jogadores e das pessoas. Que fala, explica e justifica. Na Luz, as ideias e convicções parecem sempre perder-se nas palavras. A barreira linguística pode ser entrave, mas no mundo em que vivemos não serve de desculpa. Mais do que se encontrar com o Benfica, Schmidt terá de se encontrar consigo e ser aquele treinador, sedento de ambição, que subiu o Dellbruck na distrital alemã. E isso só depende dele…