Voltou a alegria a Alvalade...e a tristeza às arbitragens

OPINIÃO11.04.201904:00

Confesso que escrevi a minha última crónica antes do jogo com o Benfica para as meias-finais da Taça, por ter de levar, no fim de tarde da quarta-feira da semana passada, uns choques no braço (eletromiograma); confesso que fui dos choques para Alvalade ver o jogo e que, tal como calculava, para o caso de o Sporting passar a eliminatória como aconteceu, a alegria ter-me-ia impedido de escrever qualquer coisa com pés e cabeça.


Mas não me esqueci do jogo, do genial golo de Bruno Fernandes, da assunção que sim, a equipa é capaz; e que é verdade: podemos ter uma equipa muito mais forte para o ano. Penso que os adeptos sentiram todos como que uma espécie de libertação nesse jogo. Bastou ter ido ao estádio assistir ao Sporting-Rio Ave, no domingo à noite, para perceber isso mesmo. Não que a casa estivesse cheiíssima ou que fosse um jogo inesquecível (apesar do golaço de Wendel e dos 3-0), mas pela alegria que se sentia, pelos cânticos em todas as bancadas, pela hola que percorreu todos os setores, pelas luzes dos telemóveis que substituíram as chamas dos isqueiros da minha juventude. (A propósito, jogamos quase sempre às oito da noite. Pensará a Liga que não precisamos de jantar a horas ou, como acusavam alguns, nos satisfazemos com croquetes?)


Enfim, é este o Sporting de que mais gosto. Sem insultos aos adversários, sem mau perder nem arrogância na vitória, com adeptos unidos no desejo de fazer o melhor, de vencer, com uma equipa que entra em campo para ganhar e se esforça. E, cereja em cima do bolo, com golos magníficos na baliza do adversário.


Quem diria que estaríamos onde estamos?

EM maio, o desafio era que o clube não se desfizesse, não se deslaçasse em aventuras sem nexo. O Sporting vivia em clima de guerra civil, com sócios etiquetados como de primeira e de segunda, aconselhados a não ler jornais e não ver televisão. Depois, graças à mesa da Assembleia Geral e ao seu presidente (seja qual for a opinião que se tenha dele, foi fundamental ao clube), começou a reconstrução. Sousa Cintra, o maior otimista que conheci na vida, dizia que íamos ganhar o campeonato -ninguém acreditava, talvez nem ele. Mas a ele, como a Luís Marques e outros, lhe devemos a persistência. Como a Torres Pereira e sua equipa. A demissão da Direção foi esmagadora; as eleições, que levaram Varandas à presidência, bateram o recorde de participação. Quase todos os seus adversários quiseram colaborar. A esmagadora maioria dos sócios concordou com as decisões sancionatórias da anterior Direção que a Comissão de Fiscalização, a que com honra presidi, decidiu.
Mas faltava ainda muito caminho. Com uma preparação da época feita aos abanões; com um empréstimo obrigacionista que muitos apostavam ser irrealizável (mas se concretizou); com um clube falido, com um despesismo, um despautério e uma falta de vergonha que a auditoria forense, ontem revelada nalguns órgãos de comunicação, veio confirmar; com arbitragens manhosas em tantos jogos; com os analistas a dizer que teríamos de andar ombro a ombro com o Marítimo ou o V. Guimarães, quando muito, a lutar por quintos e sextos lugares; com tudo isto e muito mais, acontece o seguinte: se a época terminasse hoje, teríamos o mesmo resultado que o ano passado e com as dívidas pagas. Ganhámos a Taça da Liga, estamos em terceiro no Campeonato e na final da Taça de Portugal. Mais: mesmo que perdêssemos no Jamor (e não é o que vai acontecer, espero), não é bem o mesmo perder com o FC Porto ou com o Aves. Recordo que o ano passado foi aquele que mais investimento teve e em que tínhamos um treinador a ganhar oito milhões de euros. É possível fazer mais com menos, desde que haja seriedade e rigor? É, está provado. E é possível fazer melhor ainda.

Arbitragens aVARiadas        e apaixonadas

TEMO que até ao fim do campeonato seja assim e dou graças por não sofrer (tanto quanto sei) do coração e não ser adepto (disto tenho a certeza) do FC Porto nem do Benfica. Os golpes de arbitragem são verdadeiramente escandalosos. Alguns já têm renome internacional, como aquele penálti que fez o 1-1 em Santa Maria da Feira, por alegado derrube de Pizzi. O comentador, em língua espanhola, de um canal de televisão americano que tem os direitos da Liga NOS (Gol TV), além de ter considerado tal penalidade «una verguenza» sintetizou bem o que se passou com o jogador encarnado: «Teve de pensar para cair».
Antes disso, o nosso querido e bem-amado árbitro Bruno Paixão, do seu posto no VAR, descortinou o fora-de-jogo de uma unha qualquer de um jogador do Feirense. É curioso, porque seria o 2-0 a favor da equipa da casa, e o cabo dos trabalhos para o Benfica, que vinha da derrota com o Sporting. O Benfica acabou por ganhar 4-1, mas sem a «verguenza» e com o golo limpo do Feirense, o resultado não seria esse. Qual seria? Não sei, mas pelo menos onde foram quatro só contariam três, e onde se contou um, teriam de ser dois.
O Benfica reagiu de forma inusitada a este jogo. Não podendo colocar em causa a arbitragem, que lhe tinha corrido de feição, deu para duvidar da honorabilidade do Feirense, argumentando que a equipa da Feira correu demais. Ora bem, não sendo eu, por certo, tão independente e desinteressado como os comentadores de língua espanhola, não estou na corrida pelo título. Porém, acho que estas atitudes, vindas de quem vier (e aproveito para salientar que delas o FC Porto não está isento) só desprestigiam o futebol e nos levam a acreditar que andam a brincar connosco.


Vamos ver se nas seis jornadas que faltam até ao fim do campeonato algum árbitro se atreve, através de decisões justas, deixar o Benfica ou o Porto perder pontos. Sinceramente, estando o arraial montado como está, e não tendo qualquer dos clubes jogos difíceis, salvo na jornada 31 o Braga-Benfica e na última o FC Porto-Sporting, acho que vai tudo continuar como está. Oxalá me engane e os jogos decorram com justeza e retidão.