Vitória, vitória… mas ainda não acabou a história

OPINIÃO30.05.201901:43

Teremos de recuar até 2002 para ter visto o Sporting conseguir dois troféus na mesma época. Em futebol sénior e desde 2010 (número redondo sem outro significado, era José Eduardo Bettencourt presidente), o Sporting Clube de Portugal ganhou zero Campeonatos, duas Taças de Portugal (uma, este ano), duas Taças da Liga (uma, este ano) e uma Supertaça (a deste ano está por disputar a 4 de agosto no Algarve, contra o Benfica). Ou seja, dos cinco troféus, dois são com a atual Direção que ainda nem tem nove meses, o tempo de gestação. Pretender que esta é uma má época é tão inteligente como o virar de costas de Sérgio Conceição a Frederico Varandas; porém ainda há, dentro do Sporting ou, melhor dizendo, nas margens do Sporting, mas só aí, quem o pretenda.
Já toda a gente disse que era impensável, há um ano, estarmos a comemorar dois títulos. Ganhos a ferros, é certo, mas ganhos. A equipa foi fundamental, o treinador Marcel Keizer (a cuja contratação torci um pouco o nariz) foi muito importante e a Direção conquistou assim, além da legitimidade estatutária que amplamente dispunha, de uma legitimidade desportiva de que carecia e à qual estaríamos dispostos a dar mais tempo.
Ainda bem que esse mais tempo não foi necessário.
Acontece que tudo isto foi feito com menos dinheiro. Muito menos! Foi feito com Esforço, Dedicação e Devoção, como aqui vaticinei na semana passada. E se não falo de termos chegado à glória, é porque a história é para continuar. Contentarmo-nos com a Taça é pouco para as ambições dos sportinguistas.
E, vá lá, um agradecimento

Cabe, igualmente, um reconhecimento à Comissão de Gestão, à Comissão de Fiscalização (declaração de interesses: fiz parte desta) e à Mesa da Assembleia Geral que concedeu a legitimidade a estes órgãos. Desde o final de maio, depois da desastrosa final da Taça perdida para o Desportivo das Aves, até 8 de setembro, já com três jornadas da Liga jogadas (duas vitórias e um empate, este contra o Benfica na Luz), foram estes órgãos provisórios que aguentaram o clube e as suas equipas com o fito de o entregar, o melhor que puderam e souberam, à Direção eleita. Nesse intervalo recuperaram-se jogadores fundamentais - sobretudo Bruno Fernandes e Bas Dost, mas também se impediu a saída de outros não menos importantes, como Mathieu ou Acuña.
Este agradecimento é para que não se apague da memória os maus tempos. Podemos não falar mais disso, mas não me comovem os que agora clamam por unidade, quando são os mesmos, ou da mesma banda, que aplaudiram o nosso achincalhamento, nos impediam de entrar em Alvalade e juravam pela nossa pele. Viva o Sporting! Eis o que respondo - e responderão todos, em uníssono com esta Direção, ou outra que democrática e legitimamente fosse eleita e cumprisse as regras e Estatutos do Sporting.

O jogo mais sofrido

No Jamor, num relvado impróprio para equipas com o gabarito do Porto e do Sporting, o jogo foi de entrega total da nossa parte. Tivemos sorte? Claro que sim! Mas hão de dizer-me qual a equipa que ganha uma Taça tendo azar… Os golos são fortuitos? Não sei o que é um golo fortuito. Pode dizer-se que o primeiro ao resvalar em Danilo o foi. Mas o de Bas Dost foi um golo de matador. E o Porto? Houve braço de Herrera no primeiro golo dos dragões? Não sei. Também não vale a pena falar do azar que foi o Sporting sofrer um golo nos descontos da segunda parte do prolongamento. É isto que faz o futebol ser um jogo fascinante. Como quando Bas Dost falhou o penálti (aliás bem marcado, mas com azar, como o seguinte falhado pelo Porto) e, mesmo assim, quando parecia perdido, o Sporting ganha outra vez. Na sexta série de penáltis, grande defesa de Renan e a seguir golo de Luiz Phellype.
Mau, na Taça, só o comportamento de Sérgio Conceição. Mas não vale a pena insistir na sua atitude, certamente irrefletida. Como a que teve ao pôr a mão na cara de Renan. O Porto deve ser a única equipa em que, em vez de ser o treinador a pedir calma aos jogadores, se passa o contrário.
A vitória na Taça, como vinha referindo há semanas e acima escrevi, era tudo a que o Sporting poderia aspirar. Conseguiu-o e com isso se espera que a contestação que se vai ouvindo a esta Direção, que a divisão entre sportinguistas que achavam que o clube ia acabar pelo facto de ter destituído um presidente, se apazigue. Para acabar, é bem certo que é preciso mais. É preciso algo que há muito não se atinge: o Campeonato. A numerologia joga a nosso favor (acaso eu acreditasse nisso): é que passaram mais 17 anos sem o ganhar. Ao 18.º venceremos? Como entre 1982 e 2000. Um pouco mais a sério, e sem nunca perder o Norte, a calma e a classe que Frederico Varandas demonstrou na resposta ao caso com Sérgio Conceição, temos de nos concentrar nesse objetivo com todas as forças. Claro que precisamos de bons jogadores e é certo que perderemos o melhor (Bruno Fernandes) e outros de gabarito. Porém, a organização, o planeamento, a determinação, a devoção, a dedicação e o esforço compensam. Veja-se quem esteve ontem na final da Liga Europa e quem estará sábado na final da Liga dos Campeões. Não são os clubes mais ricos nem os que mais gastam. Alguns tiveram sorte, mas, repito, não há quem ganhe tendo azar.

O regresso da Seleção

Ainda não me habituei bem a esta nova competição que é a Liga das Nações. Mas, na próxima quarta-feira, depois de no sábado a época de clubes terminar com a final da Liga dos Campeões entre Tottenham e Liverpool (a semana inglesa, citando André Pipa), teremos o Portugal-Suíça, nas meias-finais dessa Liga. O jogo é no Dragão e, mal-habituados, esperamos sempre a vitória de Portugal, de modo a ainda no Dragão defrontarmos, na final, o vencedor do Holanda-Inglaterra. Caso ganhemos, isso faz da nossa Seleção o quê? Somos já campeões da Europa, desde 2016 e seremos até para o ano, data do próximo campeonato. Esta Liga das Nações que se apresenta de dois em dois anos que incentivo traz? Eis algo que ainda não entendi… parece-me um campeonato da Europa de segunda classe, embora jogado com os países da primeira classe. Não se poderia pensar noutro modelo? Será que é só para dar o dinheiro dos direitos televisivos? Não faço ideia.