Os treinadores odeiam jogos de 4-4, os adeptos agradecem. E sobre os empates há muito por discutir: sabem sempre a vitória ou derrota para cada um dos lados ou nem por isso? Eis o futebol...
Nem de propósito, discutia na véspera de Ano Novo com amigos do peito o conceito de empate. Tudo partia da visão norte-americana do desporto, que à partida não concebe qualquer jogo a chegar ao fim sem um vencedor. No meio da conversa, um dos comensais ressalvou que os próprios norte-americanos já tinham apreendido o nosso ponto de vista sobre a coisa: um empate, no fundo, não será a vitória de um e a derrota de outro?
Esmiuçando melhor: será que o empate sabe sempre a vitória para um dos lados e a derrota para o outro, não desfazendo assim a pureza original do desporto, em que tem de haver vencedor e vencido?
O jogo de ontem em Guimarães acrescenta dados interessantíssimos a esta discussão. Quem, no final dos 90 minutos frenéticos de um dos melhores jogos da Liga nos últimos anos, se sentiu vencedor ou perdedor?
Tudo depende das circunstâncias apriorísticas de cada equipa e, depois, da forma como o jogo se desenrola. O Sporting entrou a ganhar, foi surpreendido com o empate, mas soube colocar-se de novo em vantagem. Era favorito, vai em primeiro, é campeão nacional em título. Ao terceiro golo de Gyokeres, o empate era só uma ilusão para os donos da casa, que saberia a triunfo desse por onde desse.
Mas o Vitória soube reagir, jogou em comunhão com o sempre populoso Estádio D. Afonso Henriques e marcou três golos em 15 minutos. Viu-se a vencer o Sporting, que 15 minutos antes não via outra saída da Cidade-Berço que não com os três pontos. E passou a ser o Vitória, nessa altura, o legítimo aspirante a esses três pontos.
Foi a vez de o Sporting reagir. Fê-lo e chegou ao empate com um golo de bandeira. Quando o fez, estava com zero pontos. Quando Trincão pintou a obra de arte do 4-4, passou a ter um. Só no final saberemos quanto valeu este ponto na luta pelo título e quanto custou ao Vitória a perda de dois na luta pela Europa.
Treinador dos conquistadores acredita que perdeu dois pontos, depois de efetuado a reviravolta no marcador; técnico ainda lamentou mais um golo sofrido nos instantes finais do encontro
Futebol é isto. Golos. Os treinadores das duas equipas, provavelmente, odiaram o facto de ter sofrido quatro e vão mais facilmente trabalhar sobre a frustração dos quatro sofridos do que sobre o orgulho dos quatro marcados. Faz parte do trabalho deles.
Do lado de cá, o dos adeptos, fica uma palavra de agradecimento. Este jogo valeu o preço do bilhete ou da assinatura de canal premium. Cada um que sinta, agora, o empate como derrota ou vitória. Se para a semana houvesse mais...