Dom Afonso Henriques assistiu ao maior espetáculo do Mundo
Perguntam os céticos, muitas vezes, porque que razão chamam ao futebol ‘o maior espetáculo do Mundo’. Guimarães explicou tudo, sem palavras, e delas não precisou, mas em incerteza, emoção, e, até, em justiça final.
Numa jornada importante, em que o líder, que tinha ido tirar, recentemente, o treinador ao Vitória, viajava a Guimarães; o co-líder deslocava-se à Madeira, onde, por causa do nevoeiro, nem as vistas viu; e o terceiro classificado recebe ainda o SC Braga, o jogo da cidade-berço será recordado por muitos e bons anos, sem que nem os donos da casa ou os forasteiros tenham feito uma exibição de encher o olho, mas essencialmente porque houve unhas roídas até ao cotovelo do primeiro ao último minuto, em hora e meia de entrega, que terminou, muito justamente, com um ponto para cada lado.
Neste Vitória-Sporting tivemos um vislumbre do que poderia ser uma Liga portuguesa com um quadro competitivo diferente, onde o nivelamento pudesse ser feito por cima e não por baixo, como na generalidade das ocasiões sucede. Ao contrário do que acontece quando as forças em presença são manifestamente díspares, e uma equipa tem de acantonar-se, qual D. Nuno Álvares Pereira em Aljubarrota, na tática do quadrado, para levar a melhor sobre os ‘castelhanos’, desta vez vimos um jogo de olhos nos olhos, que mesmo sem ter os melhores intérpretes do planeta foi mais do que suficiente para incendiar as bancadas, e valer o preço dos ingressos (e da subscrição do operador do cabo). Sem querer entrar nos detalhes da crónica desta partida, a verdade é que aos 57 minutos, quando Gyokeres começou 2025 com um ‘hat-trick’, como que a querer dizer que ter sido o melhor marcador mundial de 2024 não foi obra do acaso, o Sporting pareceu ter o jogo mais do que ganho. Da mesma forma, aos 90+4, quem não daria o triunfo vimaranense por garantido? Numa e na outra circunstância, entrou em campo o caráter das equipas e a magia do futebol, onde tudo é sempre possível, desde que se acredite.
O empate no D. Afonso Henriques e o impasse na Choupana lançaram uma nova Luz sobre o Benfica-SC Braga. Dificilmente os encarnados serão perdoados se não igualarem pontualmente o Sporting, frente a uns arsenalistas que têm sido mais fortes fora do que em casa. Dúvidas (existenciais, em ambos os casos, para Lage, que já foi adjunto de Carvalhal, e para este, acossado depois da derrota caseira com o Casa Pia) são muitas, resposta será só uma, a ser dada na véspera do dia em que vão passar onze anos sobre a morte de Eusébio da Silva Ferreira.
NEM É NOTÍCIA...
O jogo entre o Nacional e o FC Porto, na Choupana, não passou dos 15 minutos. Culpado? O suspeito do costume, o nevoeiro, que adia jogos, em plena serra madeirense, desde 8 de dezembro de 1998, lançando visões turvas (como compete) sobre as competições que aí se desenrolam. Sempre que a crónica de um adiamento anunciado se concretiza, como agora sucedeu, quando era sabido que as ‘odds’ eram favoráveis ao nevoeiro, sendo a concretização dos 90 minutos do encontro entre nacionalistas e dragões um mero ‘underdog’ nas apostas, que fazer? Como, ao contrário do que cantava António Mourão, o tempo não volta para trás, e é impraticável ir, em 2025, à procura da solução que devia ter sido encontrada em 1998, a única hipótese é intensificar a ponte aérea com o aeroporto Cristiano Ronaldo, e aguardar por 15 de janeiro para que se joguem os 75 minutos em falta num jogo em que está em causa o campeonato da manutenção e o campeonato título. Esquisito? É o futebol português numa versão que não se deseja mas com a qual é imperativo saber conviver. Se tanta construção foi feita, no nosso País, em leito de cheia, com consequências muitas vezes catastróficas, sem que ninguém tenha sido responsabilizado, edificar um estádio numa zona tida e sabida como de frequentes nevoeiros é apenas farinha do mesmo saco…
PS – Valha o que valer, de olhos postos na Final Four da Taça da Liga, o FC Porto ganha uma vantagem teórica sobre os leões, em função do menor desgaste a que foi sujeito neste fim-de-semana. Vale muito? Creio que não. Mas que existe, existe.