Viajar de noite é o melhor remédio
Alemães preferem fazer viagens longas de noite (Foto: D.R.)

Pontapé de Estugarda Viajar de noite é o melhor remédio

OPINIÃO20.06.202423:40

As obras, o príncipe William e a falta de paciência

E pronto, tinha de acontecer: as filas e muitas paragens nas autoestradas por causa das obras. Já vinha avisado, mas ainda acreditei que podia ser exagero. Não é. Segundo o que me foi explicado, há cerca de sete/oito anos o governo federal alemão decidiu restaurar todas as pontes viárias ou pedonais que passam por cima das vias rápidas, criando um hábito nos alemães: se é para fazer uma viagem grande, que a façam de noite quando as máquinas estão paradas e os trabalhadores a dormir. Desta forma podem fazer 400 quilómetros (uma deslocação considerada curta) em pouco tempo, carregando no pedal sem limites de velocidade.

Mesmo assim nem todos se podem dar a esse luxo e têm de se fazer à estrada tentando antecipar os cenários possíveis. Mas como não há aplicação ou algoritmo que nos ajude a tomar um caminho alternativo sem filas não resta outra coisa senão esperar que não haja qualquer acidente e manter a experiência apenas na categoria do desagradável em vez do caótico – há sempre um lado positivo.

O problema são os imponderáveis. Ir a um jogo da Inglaterra onde esteja o príncipe William é um teste à paciência e um convite à atividade física, principalmente quando, como é o nosso caso, não temos direito a estacionar nos parques destinados à imprensa. Já estive em muitos eventos deste género mas não me recordo de um perímetro de segurança tão extenso e apertado como o que foi montado para a partida entre britânicos e dinamarqueses. A não ser num Inglaterra-Eslováquia no Euro-2016, em Saint-Étiènne, em que até o sinal dos telefones foram cortados desde o momento da saída do automóvel até sentar-se na tribuna.

Ora, como dispenso a atividade física com roupa de trabalho, computador, cabos, carregadores e telefone, sobra a paciência (ou a falta dela) para chegar à tribuna de imprensa e ter de me sentar ao lado de um indivíduo de tique estranho ao qual não terei mostrado a melhor vontade de compreender. «Nervoso?», perguntei. O rapaz nada respondeu e evitou-me na zona mista. Felizmente que a viagem de regresso a Estugarda está a ser feita de noite, com as máquinas paradas, os trabalhadores a dormir e o Ivo a acelerar.